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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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NECESSIDADE 708 NECESSIDADE<br />

sentido, fala-se <strong>de</strong> "N. materiais", "N. físicas",<br />

"N. espirituais", "N. <strong>de</strong> disciplina", "N. <strong>de</strong> "regras",<br />

"N. <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>", "N. <strong>de</strong> afeto", "N. <strong>de</strong><br />

felicida<strong>de</strong>", "N. <strong>de</strong> ajuda", "N. <strong>de</strong> comunicação",<br />

etc. Qualquer tipo ou forma possível <strong>de</strong><br />

relação entre o homem e as coisas, ou entre o<br />

homem e os outros homens, po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado<br />

sob o aspecto da N., implicando que o ser<br />

humano <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas relações. Na história<br />

da <strong>filosofia</strong>, a noção <strong>de</strong> N., nesse sentido (v.<br />

NECESSÁRIO), foi tratada sob duas perspectivas:<br />

1 L> ) mais freqüentemente do ponto <strong>de</strong> vista<br />

moral, ou seja, como atitu<strong>de</strong> a tomar diante das<br />

N., se <strong>de</strong> limitação ou <strong>de</strong> incentivo, ou <strong>de</strong> que<br />

modo e em que grau limitá-las; 2-) com menos<br />

freqüência, do ponto <strong>de</strong> vista da importância e<br />

do significado que a N. tem em relação ao<br />

modo <strong>de</strong> ser do homem, da possibilida<strong>de</strong> que<br />

ela representa para ele compreen<strong>de</strong>r e <strong>de</strong>screver<br />

sua existência. O problema da disciplina<br />

das N., ou seja, da sua limitação qualitativa e<br />

quantitativa, é o problema da virtu<strong>de</strong>, em especial<br />

da virtu<strong>de</strong> ética, e seus <strong>de</strong>sdobramentos<br />

históricos <strong>de</strong>vem ser vistos no verbete Virtu<strong>de</strong>.<br />

Aqui, cabe analisar o problema da N. como<br />

símbolo, sintoma ou elemento da condição humana.<br />

Na Antigüida<strong>de</strong>, Platão parece ter reconhecido<br />

o valor da N.: esse parece ser o significado<br />

da importância por ele atribuída ao amor,<br />

que, em O Banquete (204-05), interpretou em<br />

seu significado mais amplo como falta e busca<br />

do que falta. Além disso, em República (II, 369<br />

b ss.), ele atribui a origem do Estado à N.:<br />

"Quando um homem se reúne com outro em<br />

vista <strong>de</strong> uma N., e com outro homem em vista<br />

<strong>de</strong> outra N., e quando essa multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

homens reúne no mesmo local vários homens<br />

que se associam para se ajudar, damos a<br />

essa socieda<strong>de</strong> o nome <strong>de</strong> Estado." É menos<br />

explícita a noção <strong>de</strong> N. encontrada na <strong>filosofia</strong><br />

<strong>de</strong> Aristóteles: este certamente não ignora o<br />

seu peso na vida individual e social do homem<br />

(como <strong>de</strong>monstra sua Política), mas não lhe<br />

atribui função específica: mesmo a origem do<br />

Estado, para ele, <strong>de</strong>ve-se à exigência <strong>de</strong> viver<br />

feliz, o que significa sobretudo vida virtuosa (Pol.,<br />

VII, 2, 1324 a 5 ss.). A <strong>filosofia</strong> pós-aristotélica<br />

<strong>de</strong>sinteressa-se das necessida<strong>de</strong>s, ainda que<br />

Epicuro aconselhe a satisfazê-las (Mass. capit.,<br />

26; Fr. 200, Usener), pois está muito ocupada<br />

em esboçar o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> sábio, <strong>de</strong>dicado à vida<br />

puramente contemplativa. Tampouco lançam<br />

mão da N. para interpretar a realida<strong>de</strong><br />

humana a <strong>filosofia</strong> medieval e a mo<strong>de</strong>rna,<br />

que preferem enfatizar os elementos ou<br />

os caracteres que dão <strong>de</strong>staque à in<strong>de</strong>pendência<br />

do homem em relação ao mundo, e não a<br />

sua <strong>de</strong>pendência. Mesmo falando <strong>de</strong> um "sistema<br />

<strong>de</strong> N.", Hegel prefere dizer que a N. é dominada<br />

pelo homem, e não o contáno-. "0<br />

animal tem um círculo limitado <strong>de</strong> meios e modos<br />

<strong>de</strong> satisfazer âs suas N., que são igualmente limitadas.<br />

O homem, ainda que <strong>de</strong>penda <strong>de</strong>las,<br />

<strong>de</strong>monstra ao mesmo tempo que as supera e<br />

universaliza, sobretudo através da multiplicação<br />

das N. e dos meios, bem como através<br />

da <strong>de</strong>composição e da distinção da N. concreta"<br />

(Fil. do dir, § 190). A primeira afirmação<br />

clamorosa da importância das N., para a interpretação<br />

do que o homem é ou po<strong>de</strong> ser, seria<br />

vista na <strong>filosofia</strong> <strong>de</strong> Schopenhauer, que interpretou<br />

como N. — portanto como falta e dor<br />

— a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida que constitui a essência<br />

numênica do mundo. "A base <strong>de</strong> qualquer vonta<strong>de</strong><br />

é N., falta, ou seja, dor. à qual o homem<br />

está vinculado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a origem, por natureza"<br />

(Die Welt, 1819, I. § 57). Fora da metafísica,<br />

no terreno da antropologia, quem insistiu<br />

na estreita conexão entre N. e natureza humana<br />

foi L. Feuerbach(Grimdsàtze<strong>de</strong>rPhílosophie<br />

<strong>de</strong>r Zukunft, 1844). Marx, nas obras juvenis<br />

(Economia e <strong>filosofia</strong>, 1844; I<strong>de</strong>ologia alemã,<br />

1845-46). acentuou a importância das N. e,<br />

portanto, do trabalho <strong>de</strong>stinado a satisfazê-las,<br />

chegando a tomá-las como tema fundamental<br />

<strong>de</strong> sua antropologia (v. PESSOA). Na <strong>filosofia</strong><br />

contemporânea, além do marxismo, a importância<br />

da noção <strong>de</strong> N. para a interpretação da<br />

realida<strong>de</strong> humana é ressaltada <strong>de</strong> um lado pelo<br />

naturalismo e <strong>de</strong> outro pelo existencialismo.<br />

Dewey, p. ex., ao insistir na "matriz biológica"<br />

cias ativida<strong>de</strong>s humanas (portanto também da<br />

lógica), vê a N. como ruptura do instável equilíbrio<br />

orgânico e o início da busca que ten<strong>de</strong> a<br />

restabelecê-lo (Logic, cap. II, trad. it., p. 63).<br />

por outro lado, na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> "ser-no-munclo"<br />

por Hei<strong>de</strong>gger. em que a existência do<br />

homem consiste em cuidado [cura] (v.), o homem<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do mundo, "está lançado no<br />

mundo, que domina as possibilida<strong>de</strong>s humanas<br />

<strong>de</strong> relações com as coisas e com os outros<br />

homens" (Sein undZeit, §§ 39 ss., cf. § 20). A noção<br />

<strong>de</strong> N. que emerge <strong>de</strong>ssas consi<strong>de</strong>rações não<br />

é <strong>de</strong> estado provisório <strong>de</strong> falta ou <strong>de</strong>ficiência<br />

(tem-se necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ar, apesar <strong>de</strong> este existir<br />

em abundância), mas <strong>de</strong> estado ou condição <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>pendência que caracteriza <strong>de</strong> modo específico<br />

o homem e, em geral, o ser finito no mundo.

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