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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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CONHECIMENTO 181 CONHECIMENTO<br />

Husserl, a análise <strong>de</strong>sse modos <strong>de</strong> ser como<br />

"modos <strong>de</strong> dar-se". Analogamente, para N.<br />

Hartmann o conhecimento é um processo <strong>de</strong><br />

transcendência cujo termo é o ser "em si"<br />

{Metaphysik<strong>de</strong>rErkenntnis, 1921, 4 a ed, 1949,<br />

pp. 43 e ss.). Segundo essa análise, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong><br />

ter sentido contrapor ativida<strong>de</strong> e passivida<strong>de</strong><br />

no conhecimento (contraposição que, nascida<br />

<strong>de</strong> Kant, fora assumida como motivo polêmico<br />

pelo Romantismo a partir Fichte). Não cabe<br />

mais distinguir no conhecimento o aspecto ativo,<br />

que Kant chamava <strong>de</strong> "espontaneida<strong>de</strong> intelectual",<br />

do aspecto passivo, que para Kant<br />

era a sensibilida<strong>de</strong>. Não se trata nem mesmo <strong>de</strong><br />

reduzir todo o C. à ativida<strong>de</strong> do eu, como fizera<br />

Fichte e, com ele, toda a <strong>filosofia</strong> romântica,<br />

que consi<strong>de</strong>rou essa ativida<strong>de</strong> "infinita", isto é,<br />

sem limites (e por isso criadora), e como tal a<br />

exaltou. Hoje, parece fictício até mesmo a perspectiva<br />

histórica que prevaleceu no Romantismo<br />

e que opunha a concepção "clássica" (antiga<br />

e medieval), para a qual a operação <strong>de</strong><br />

conhecer seria dominada pelo objeto diante do<br />

qual o sujeito é passivo, concepção mo<strong>de</strong>rna<br />

ou romântica, para a qual o C. seria ativida<strong>de</strong><br />

do sujeito e manifestação <strong>de</strong> seu po<strong>de</strong>r criador.<br />

Trata-se, realmente, <strong>de</strong> uma perspectiva típica<br />

do Romantismo e <strong>de</strong> uma oposição teórica,<br />

que serviu a fins polêmicos. Nem a <strong>filosofia</strong> antiga<br />

nem as mo<strong>de</strong>rnas concepções objetivistas<br />

preten<strong>de</strong>m estabelecer ou pressupõem a "passivida<strong>de</strong>"<br />

do sujeito cognoscente. Ao sujeito<br />

cognoscente pertence com certeza a iniciativa do<br />

conhecer, aliás, é justamente essa iniciativa que<br />

<strong>de</strong>fine a sua subjetivida<strong>de</strong>. Mas isso não implica<br />

nem ativida<strong>de</strong> nem passivida<strong>de</strong> no sentido<br />

estabelecido por Fichte. A iniciativa do sujeito<br />

visa tornar o objeto presente ou manifesto, para<br />

tornar evi<strong>de</strong>nte a própria realida<strong>de</strong>, para manifestar<br />

os fatos. Aquilo que se chama abreviadamente<br />

conhecer é um conjunto <strong>de</strong> operações,<br />

às vezes muito diferentes entre si, que,<br />

em campos diversos, visam a fazer emergir, em<br />

suas características próprias, certos objetos específicos.<br />

Desse ponto <strong>de</strong> vista, o "problema<br />

do C", tal como se configurou na segunda meta<strong>de</strong><br />

do séc. XIX, como colocação romântica ou<br />

polêmica contra ela, como problema <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong><br />

ou passivida<strong>de</strong> do espírito ou <strong>de</strong> sua "categoria<br />

eterna", que seria a ativida<strong>de</strong> teorética,<br />

é um problema que se <strong>de</strong>sfez sob a ação da<br />

fenomenologia, por um lado, e da <strong>filosofia</strong> da<br />

ciência e do pragmatismo, por outro. No âmbito<br />

da fenomenologia, Hei<strong>de</strong>gger fala <strong>de</strong> uma<br />

anulação do problema do conhecimento. O conhecer<br />

não po<strong>de</strong> ser entendido como aquilo<br />

pelo que o ser-aí (isto é, o homem) "vai <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ntro para fora <strong>de</strong> sua esfera interior, esfera<br />

na qual estaria, anteriormente, encapsulado: ao<br />

contrário, o ser-aí, em conformida<strong>de</strong> com seu<br />

modo <strong>de</strong> ser fundamental, já está sempre fora,<br />

junto ao ente que lhe vem ao encontro no<br />

mundo já <strong>de</strong>scoberto" (Sein undZeit, § 13). Segundo<br />

Hei<strong>de</strong>gger, conhecer é um modo <strong>de</strong> ser<br />

do ser-no-mundo, isto é, do transcen<strong>de</strong>r do sujeito<br />

para o mundo. Ele nunca é apenas um ver<br />

ou um contemplar. Diz Hei<strong>de</strong>gger: "O ser no<br />

mundo, enquanto ocupar-se, é tomado e obnubilado<br />

pelo mundo com que se ocupa" (Ibid.,<br />

§ 13). O conhecer é, em primeiro lugar, a abstenção<br />

do ocupar-se, isto é, das ativida<strong>de</strong>s comuns<br />

da via cotidiana, como manusear, comerciar,<br />

etc. Essa abstenção possibilita o simples "observar,<br />

que é, <strong>de</strong> quando em quando, o <strong>de</strong>ter-se<br />

junto a um ente, cujo ser é caracterizado pelo<br />

fato <strong>de</strong> estar presente, <strong>de</strong> estar aqui". Nessa abstenção<br />

<strong>de</strong> todo comércio e utilização, realiza-se<br />

a percepção da simples presença. O perceber<br />

concretiza-se nas formas <strong>de</strong> interpelar e discutir<br />

algo como algo. Com base nessa interpretação,<br />

entendida em sentido amplo, a percepção<br />

se torna <strong>de</strong>terminação. O percebido ou o<br />

<strong>de</strong>terminado po<strong>de</strong> ser expresso em proposições,<br />

bem como manter-se e preservar-se nessa<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proposto. A retenção perceptiva<br />

<strong>de</strong> uma proposição sobre... já é, em si<br />

mesma, uma maneira <strong>de</strong> ser no mundo e não<br />

po<strong>de</strong> ser interpretada como um processo em<br />

virtu<strong>de</strong> do qual um sujeito receberia imagens<br />

<strong>de</strong> algo, imagens que seriam, em conseqüência,<br />

experimentadas como "internas", <strong>de</strong> tal sorte<br />

que suscitariam o problema <strong>de</strong> sua concordância<br />

com a realida<strong>de</strong> "externa" (Ibid., § 13).<br />

O "problema do C." e o "problema da realida<strong>de</strong>"<br />

(v. REALIDADE), do modo formulado pela<br />

<strong>filosofia</strong> do séc. XIX, são, pois, eliminados por<br />

Hei<strong>de</strong>gger. Todas as manifestações ou graus do<br />

conhecer (observar, perceber, <strong>de</strong>terminar,<br />

interpretar, discutir, negar e afirmar) pressupõem<br />

a relação do homem com o mundo e só<br />

são possíveis com base nessa relação.<br />

Essa convicção hoje é compartilhada por filósofos<br />

<strong>de</strong> procedência diferente, ainda que<br />

muitas vezes sob terminologias diversas. O<br />

fundamento que a sugere é sempre o mesmo:<br />

o abandono do pressuposto <strong>de</strong> que os "estados<br />

internos" (idéias, representações, etc.) são os<br />

objetos primários <strong>de</strong> conhecimento, e que só a

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