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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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ANTINOMIAS 64 ANTINOMIAS<br />

mas como membro e <strong>de</strong>ve, por isso, pertencer<br />

à classe <strong>de</strong> tais classes. Esse paradoxo publicado<br />

por Russel em 1902 <strong>de</strong>u <strong>de</strong>pois lugar à<br />

reorganização feita por Whitehead e Russel na<br />

lógica matemática (Principia mathematica,<br />

1910-13). Outros paradoxos são os <strong>de</strong> Kõning<br />

(1905), <strong>de</strong> Richard (1906), <strong>de</strong> Grelling (1908),<br />

<strong>de</strong> Jourdain (1913); mas, como notou Russell,<br />

po<strong>de</strong> haver um número in<strong>de</strong>finido <strong>de</strong> paradoxos<br />

com a mesma característica, a auto-referência<br />

ou a reflexivida<strong>de</strong>. Em cada um <strong>de</strong>les se diz<br />

alguma coisa <strong>de</strong> todos os casos <strong>de</strong> um dado gênero<br />

e, do que se diz, nasce um novo caso que é e<br />

não é da mesma espécie daqueles aos quais o<br />

todos se refere. Portanto, a solução óbvia das A.<br />

é a que apresenta regras capazes <strong>de</strong> impedir a<br />

referência auto-reflexiva <strong>de</strong> on<strong>de</strong> nascem as A.<br />

Tal é o princípio adotado por Russell: "Tudo<br />

o que implica o todo <strong>de</strong> uma coleção não <strong>de</strong>ve<br />

ser termo da coleção", ou inversamente: "Se,<br />

admitindo que certa coleção tem um total, ela<br />

teria membros <strong>de</strong>finíveis somente em termo<br />

daquele total, então a dita coleção não tem total"<br />

(Mathematical Logic asBased on the Theory<br />

of Types, 1908), em Logic and Knowledge, p.<br />

63). A mesma exigência era apresentada por<br />

Poincaré, na forma da exclusão das <strong>de</strong>finições<br />

impredicativas (v.), isto é, das <strong>de</strong>finições que<br />

implicam um círculo vicioso.<br />

Todavia, essa simples exigência negativa,<br />

sobre a qual todos os lógicos estão <strong>de</strong> acordo,<br />

não é suficiente porque não fornece um critério<br />

exato para distinguir o uso legítimo do ilegítimo<br />

da palavra todos. E, sobre qual possa<br />

ser esse critério, os lógicos não estão <strong>de</strong> acordo.<br />

Contudo, é possível distinguir dois tipos <strong>de</strong><br />

soluções que po<strong>de</strong>m ser atribuídas, respectivamente,<br />

a Russell e a Frege.<br />

l 9 A primeira solução consiste em distinguir<br />

vários graus ou tipos <strong>de</strong> conceitos e em limitar<br />

a predicabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um tipo em relação ao<br />

outro. A teoria dos tipos <strong>de</strong> Russell respon<strong>de</strong> a<br />

essa exigência. Segundo essa teoria, <strong>de</strong>vem-se<br />

distinguir: conceitos <strong>de</strong> tipo zero, que são os<br />

conceitos individuais, isto é, os nomes próprios;<br />

conceitos <strong>de</strong> tipo um, que são proprieda<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> indivíduos (p. ex., branco, vermelho,<br />

gran<strong>de</strong>, etc); conceitos <strong>de</strong> tipo dois, que são<br />

proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s, e assim por diante.<br />

Isso posto, a regra para evitar a A. é a seguinte:<br />

um conceito nunca po<strong>de</strong> servir <strong>de</strong><br />

predicado numa proposição cujo sujeito seja<br />

<strong>de</strong> tipo igual ou maior do que o próprio conceito.<br />

Essa teoria foi exposta por Russell no apêndice<br />

<strong>de</strong> Principies of Mathematics, <strong>de</strong> 1903.<br />

Em seguida, nessa teoria dos tipos, o próprio<br />

Russell inseriu uma teoria dos graus, dando<br />

lugar à chamada teoria ramificada dos tipos,<br />

que ele expôs em 1908 (no artigo já citado)<br />

e que está na base dos Principia mathematica.<br />

Segundo essa teoria, são <strong>de</strong> grau zero ou elementares<br />

as funções proposícionais (v.) ou<br />

predicados que não contêm nenhuma variável<br />

aparente (enten<strong>de</strong>ndo-se por variável aparente<br />

a que se repete numa função in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong>la, não no sentido <strong>de</strong> ter o mesmo valor para<br />

cada valor da variável, mas no sentido <strong>de</strong> que<br />

os valores particulares <strong>de</strong>sta não mudam a natureza<br />

da função). São <strong>de</strong> grau um as funções<br />

proposícionais apresentadas <strong>de</strong> uma variável<br />

aparente cuja classe <strong>de</strong> variação é um conjunto<br />

<strong>de</strong> objetos individuais. São <strong>de</strong> grau dois as apresentadas<br />

<strong>de</strong> uma variável aparente que está no<br />

lugar <strong>de</strong> uma função proposicional <strong>de</strong> grau um;<br />

e assim por diante. Isto posto, estabelece-se a<br />

regra segundo a qual não po<strong>de</strong>m ser tratadas<br />

no mesmo plano proposições que po<strong>de</strong>m ser<br />

extraídas <strong>de</strong> funções <strong>de</strong> grau diferente. P. ex.,<br />

a A. do mentiroso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do fato <strong>de</strong> a frase<br />

"eu minto" ser interpretada no sentido <strong>de</strong> "Qualquer<br />

que seja a minha presente afirmação x, x<br />

é uma mentira", e <strong>de</strong> se i<strong>de</strong>ntificar essa frase,<br />

que chamamos y, com a afirmação x. Mas na<br />

realida<strong>de</strong> y é <strong>de</strong> grau diferente <strong>de</strong> x porque x<br />

é a variável aparente contida em y-. por isso,<br />

não po<strong>de</strong> ser i<strong>de</strong>ntificada com y. Em outras<br />

palavras, quando se diz "eu minto", não se<br />

enten<strong>de</strong> que a própria frase "eu minto" seja<br />

uma mentira, mas que é mentira alguma outra<br />

frase a que ela se refere. Russell, porém, para<br />

tornar possível, em matemática, o tipo <strong>de</strong><br />

asserção impropriamente expressa com a frase<br />

(que dá lugar às A.) "todas as proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

x", introduzia o axioma das classes ou axioma<br />

<strong>de</strong> redutibilida<strong>de</strong>. Dizia: "Seja (p xuma função<br />

<strong>de</strong> qualquer or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> um argumento x, que<br />

po<strong>de</strong> ser um indivíduo ou uma função <strong>de</strong> qualquer<br />

or<strong>de</strong>m. Se cp é da or<strong>de</strong>m imediatamente<br />

superior a x, escrevemos a função na forma<br />

tylx; nesse caso, chamaremos (p <strong>de</strong> função predicativa.<br />

Assim, a função predicativa <strong>de</strong> um<br />

indivíduo é uma função <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m.<br />

Para argumentos <strong>de</strong> tipo mais alto, as funções<br />

predicativas tomam o lugar que as funções <strong>de</strong><br />

primeira or<strong>de</strong>m têm em relação aos indivíduos.<br />

Concluímos então que toda função é equivalente,<br />

para todos os seus valores, a alguma<br />

função predicativa do mesmo argumento"<br />

(.MathematicalLogic, 81-82). Russell acreditava

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