22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

COMUM, SENSO 161 COMUNICAÇÃO<br />

Mas essa solução não é primeiro conhecida e<br />

<strong>de</strong>pois realizada: nós somos essa solução,<br />

fazemo-la existir com o nosso engajamento e<br />

só po<strong>de</strong>mos atingi-la vivendo-a" (L'être et le<br />

néant, p. 540).<br />

COMUM, SENSO. V. SENSO COMUM.<br />

COMUNICAÇÃO (in. Communication; fr.<br />

Communícation, ai. Kommunikation; it. Comunícazione).<br />

Filósofos e sociólogos utilizam<br />

hoje esse termo para <strong>de</strong>signar o caráter específico<br />

das relações humanas que são ou po<strong>de</strong>m<br />

ser relações <strong>de</strong> participação recíproca ou <strong>de</strong><br />

compreensão. Portanto, esse termo vem a ser<br />

sinônimo <strong>de</strong> "coexistência" ou <strong>de</strong> "vida com os<br />

outros" e indica o conjunto dos modos específicos<br />

que a coexistência humana po<strong>de</strong> assumir,<br />

contanto que se trate <strong>de</strong> modos "humanos",<br />

isto é, nos quais reste certa possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

participação e <strong>de</strong> compreensão. Nesse sentido,<br />

a C. nada tem em comum com a coor<strong>de</strong>nação e<br />

com a unida<strong>de</strong>. As peças <strong>de</strong> uma máquina,<br />

observou Dewey, estão estreitamente coor<strong>de</strong>nadas<br />

e formam uma unida<strong>de</strong>, mas não formam<br />

uma comunida<strong>de</strong>. Os homens formam<br />

uma comunida<strong>de</strong> porque se comunicam, isto é,<br />

porque po<strong>de</strong>m participar reciprocamente dos<br />

seus modos <strong>de</strong> ser, que assim adquirem novos<br />

e imprevisíveis significados. Essa participação<br />

diz que uma relação <strong>de</strong> C. não é um simples<br />

contato físico ou um embate <strong>de</strong> forças. A relação<br />

entre o predador e sua presa, p. ex., não é<br />

uma relação <strong>de</strong> C, ainda que às vezes isso possa<br />

ocorrer entre os homens. A comunicação enquanto<br />

característica específica das relações humanas<br />

<strong>de</strong>limita a esfera <strong>de</strong>ssas relações àquelas<br />

em que po<strong>de</strong> estar presente certo grau <strong>de</strong><br />

livre participação. O <strong>de</strong>staque do conceito <strong>de</strong><br />

C. na <strong>filosofia</strong> contemporânea <strong>de</strong>ve-se: l e ao<br />

abandono da noção <strong>de</strong> Autoconsciência infinita,<br />

Espírito Absoluto ou Superalma: noção que,<br />

implicando a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos os homens,<br />

torna, obviamente, inútil o próprio conceito <strong>de</strong><br />

C. inter-humana; 2 S ao reconhecimento <strong>de</strong> que<br />

as relações inter-humanas implicam a alterida<strong>de</strong><br />

entre os homens e são relações possíveis-,<br />

3 e ao reconhecimento <strong>de</strong> que tais relações<br />

não se acrescentam, num segundo momento, à<br />

realida<strong>de</strong> já constituída das pessoas, mas entram<br />

a constituí-la como tal.<br />

Nesses termos, o conceito <strong>de</strong> C. faz parte<br />

<strong>de</strong> <strong>filosofia</strong>s díspares. Segundo Hei<strong>de</strong>gger, o<br />

conceito <strong>de</strong> C. <strong>de</strong>ve ser entendido "em sentido<br />

ontologicamente lato", isto é, como "C. existencial".<br />

"Nessa última constitui-se a articulação do<br />

ser-com que compreen<strong>de</strong>. Ela realiza a partilha<br />

da situação emotiva comum e da compreensão<br />

do ser-com. C. não é a transferência <strong>de</strong> experiências<br />

vividas (não importa quais, p. ex., opiniões<br />

e <strong>de</strong>sejos) do interior <strong>de</strong> um sujeito para<br />

o interior <strong>de</strong> outro sujeito. A co-presença está já<br />

essencialmente revelada na situação emotiva<br />

comum e na compreensão comum" (Sein und<br />

Zeit, § 34). Em outros termos, para Hei<strong>de</strong>gger,<br />

C. é já coexistência porque a co-participação<br />

emotiva e a compreensão dos homens entre si<br />

fazem parte da própria realida<strong>de</strong> do homem, o<br />

ser do ser-aí. Jaspers, que está substancialmente<br />

<strong>de</strong> acordo com Hei<strong>de</strong>gger, a partir daí passa a<br />

opor-se às ciências empíricas (psicologia, antropologia,<br />

sociologia) que preten<strong>de</strong>m analisar<br />

as relações <strong>de</strong> comunicação. Segundo Jaspers,<br />

o <strong>de</strong>feito <strong>de</strong>las é que <strong>de</strong>vem limitar-se à<br />

consi<strong>de</strong>ração das relações humanas e não das<br />

possíveis, ao passo que a C. é, precisamente,<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações. Nesse sentido, só<br />

po<strong>de</strong> ser esclarecida pela <strong>filosofia</strong> (Phil., II,<br />

cap. III). Dewey, ao contrário, que compartilha<br />

com Hei<strong>de</strong>gger e Jaspers o ponto <strong>de</strong> vista<br />

<strong>de</strong> que a C. constitui essencialmente a realida<strong>de</strong><br />

humana, consi<strong>de</strong>ra-a, como uma forma especial<br />

<strong>de</strong> ação recíproca da natureza e acredita,<br />

portanto, que po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve ser estudada pela<br />

pesquisa empírica (Experience and Nature,<br />

cap. V).<br />

Se na <strong>filosofia</strong> oitocentista, com o predomínio<br />

das concepções absolutistas (o próprio<br />

positivismo falava da Humanida<strong>de</strong> como <strong>de</strong><br />

um todo), eliminava-se a noção <strong>de</strong> C, na <strong>filosofia</strong><br />

dos sécs. XVII e XVIII essa noção fora elaborada,<br />

mas para respon<strong>de</strong>r a um problema diferente:<br />

o da "C. das substâncias", isto é, da<br />

substância alma com a substância corpo, e reciprocamente,<br />

problema este nascido com o<br />

cartesianismo, que distinguira pela primeira<br />

vez, <strong>de</strong> modo nítido, as duas espécies <strong>de</strong> substância.<br />

O próprio Descartes admitira como válida<br />

a noção corrente <strong>de</strong> ação recíproca entre as<br />

duas substâncias, que, na sua opinião, tocavamse<br />

na glândula pineal (Pass. <strong>de</strong> 1'âme, I, 32).<br />

Por outro lado, os ocasionalistas consi<strong>de</strong>raram<br />

impossível a ação <strong>de</strong> uma substância finita sobre<br />

a outra, porque nenhuma substância finita<br />

po<strong>de</strong> agir, isto é, ser causa; e assim julgaram<br />

que Deus mesmo intervém para estabelecer a<br />

relação entre a alma e o corpo, entre os vários<br />

corpos ou entre as várias almas, aproveitando a<br />

ocasião que se oferece com a mudança ocorrida<br />

numa substância para produzir mudanças nas

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!