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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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ÉTICA 380 ÉTICA<br />

355). Hoje, <strong>de</strong> fato, está bem claro que a concepção<br />

2 <strong>de</strong> E., tal como foi expressa, com uma<br />

uniformida<strong>de</strong> impressionante, <strong>de</strong> Parmêni<strong>de</strong>s<br />

até nós, não passa <strong>de</strong> imagem reduzida do tempo:<br />

é o tempo reduzido a uma <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>terminações,<br />

a simultaneida<strong>de</strong> (o totumsimut), que,<br />

como hoje todos sabem, é não só temporalida<strong>de</strong>,<br />

mas temporalida<strong>de</strong> mensurável. Quanto<br />

à concepção da E. como aevum, ou seja, como<br />

duração temporal in<strong>de</strong>finida, choca-se com as<br />

objeções já expostas por Kant em sua crítica<br />

à cosmologia racional do séc. XVIII (v. COSMO-<br />

LOGIA).<br />

ÉTICA (gr. xò rjGiKá; lat. Ethica; in. Ethics;<br />

fr. Éthique, ai. Ethik, it. Eticà). Em geral, ciência<br />

da conduta. Existem duas concepções fundamentais<br />

<strong>de</strong>ssa ciência: 1- a que a consi<strong>de</strong>ra<br />

como ciência do /zm para o qual a conduta dos<br />

homens <strong>de</strong>ve ser orientada e dos meios para<br />

atingir tal fim, <strong>de</strong>duzindo tanto o fim quanto os<br />

meios da natureza do homem; 2- a que a consi<strong>de</strong>ra<br />

como a ciência do móvel da conduta humana<br />

e procura <strong>de</strong>terminar tal móvel com vistas<br />

a dirigir ou disciplinar essa conduta. Essas<br />

duas concepções, que se entremesclaram <strong>de</strong><br />

várias maneiras na Antigüida<strong>de</strong> e no mundo<br />

mo<strong>de</strong>rno, são profundamente diferentes e falam<br />

duas línguas diversas. A primeira fala a língua<br />

do i<strong>de</strong>al para o qual o homem se dirige por<br />

sua natureza e, por conseguinte, da "natureza",<br />

"essência" ou "substância" do homem. Já a<br />

segunda fala dos "motivos" ou "causas" da conduta<br />

humana, ou das "forças" que a <strong>de</strong>terminam,<br />

preten<strong>de</strong>ndo ater-se ao conhecimento<br />

dos fatos. A confusão entre ambos os pontos<br />

<strong>de</strong> vista heterogêneos foi possibilitada pelo<br />

fato <strong>de</strong> que ambas costumam apresentar-se<br />

com <strong>de</strong>finições aparentemente idênticas do<br />

bem. Mas a análise da noção <strong>de</strong> bem (v.) logo<br />

mostra a ambigüida<strong>de</strong> que ela oculta, já<br />

que bem po<strong>de</strong> significar ou o que é (pelo fato<br />

<strong>de</strong> que é) ou o que é objeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo, <strong>de</strong><br />

aspiração, etc, e estes dois significados correspon<strong>de</strong>m<br />

exatamente às duas concepções <strong>de</strong> É.<br />

acima distintas. De fato, é característica da concepção<br />

I a a noção <strong>de</strong> bem como realida<strong>de</strong><br />

perfeita ou perfeição real, ao passo que na concepção<br />

2- encontra-se a noção <strong>de</strong> bem como<br />

objeto <strong>de</strong> apetição. Por isso, quando se afirma<br />

que "o bem é a felicida<strong>de</strong>", a palavra "bem"<br />

tem um significado completamente diferente<br />

daquele que se encontra na afirmação "o bem<br />

é o prazer". A primeira asserção (no sentido em<br />

que é feita, p. ex., por Aristóteles e por S. To-<br />

más), significa: "a felicida<strong>de</strong> é o fim da conduta<br />

humana, <strong>de</strong>dutível da natureza racional do homem",<br />

ao passo que a segunda asserção significa<br />

"o prazer é o móvel habitual e constante da<br />

conduta humana". Como o significado e o<br />

alcance das duas asserções são, portanto, completamente<br />

diferentes, sempre se <strong>de</strong>ve ter em<br />

mente a distinção entre ética do fim e ética do<br />

móvel, nas discussões sobre ética. Tal distinção,<br />

ao mesmo tempo que divi<strong>de</strong> a história da<br />

E., permite ver como são irrelevantes muitas<br />

das discussões a que <strong>de</strong>u ensejo e que outra<br />

causa não têm senão a confusão entre os dois<br />

significados propostos.<br />

l 2 Ambas as doutrinas éticas elaboradas por<br />

Platão, quais sejam, a que se encontra expressa<br />

em A República e a que está expressa em Filebo,<br />

pertencem à primeira das concepções que<br />

distinguimos. A É. exposta em A República é<br />

uma E. das virtu<strong>de</strong>s, e as virtu<strong>de</strong>s são funções<br />

da alma (Rep., I, 353 b) <strong>de</strong>terminadas pela natureza<br />

da alma e pela divisão das suas partes<br />

(Jbid., IV, 434 e). O paralelismo entre as partes do<br />

Estado e as partes da alma permite a Platão<br />

<strong>de</strong>terminar e <strong>de</strong>finir as virtu<strong>de</strong>s particulares,<br />

bem como a virtu<strong>de</strong> que compreen<strong>de</strong> todas<br />

elas: a justiça como cumprimento <strong>de</strong> cada parte<br />

à sua função (Jbid, 443 d). Analogamente, a É.<br />

<strong>de</strong> Filebo começa <strong>de</strong>finindo o bem como forma<br />

<strong>de</strong> vida que mescla inteligência e prazer e sabe<br />

<strong>de</strong>terminar a medida <strong>de</strong>ssa mistura (Fil., 27 d).<br />

A É. <strong>de</strong> Aristóteles é, aliás, o protótipo <strong>de</strong>ssa<br />

concepção. Aristóteles <strong>de</strong>termina o propósito<br />

da conduta humana (a felicida<strong>de</strong>), a partir da<br />

natureza racional do homem (Et. nic, I, 7), e<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong>termina as virtu<strong>de</strong>s que são condição<br />

da felicida<strong>de</strong>. Por sua vez, a É. dos estóicos,<br />

com a sua máxima fundamental <strong>de</strong> "viver segundo<br />

a razão", <strong>de</strong>duz as normas <strong>de</strong> conduta<br />

da natureza racional e perfeita da realida<strong>de</strong> (J,<br />

STOBEO, Ecl., II, 76, 3; DIÓG. L, VII, 87). 0<br />

misticismo neoplatônico colocou como propósito<br />

da conduta humana o retorno do homem<br />

ao seu princípio criador e sua integração com<br />

ele. Segundo Plotino, esse retorno é "o fim da<br />

viagem" do homem, é o afastamento <strong>de</strong> todas<br />

as coisas exteriores, "a fuga <strong>de</strong> um só para um<br />

só", ou seja, do homem em seu isolamento<br />

para a Unida<strong>de</strong> divina (Enn., VI, 9,11).<br />

Por mais diferentes que sejam as doutrinas<br />

mencionadas, em suas articulações internas<br />

as formulações são idênticas, pois: a) <strong>de</strong>terminam<br />

a natureza necessária do homem, b) <strong>de</strong>duzem<br />

<strong>de</strong> tal natureza o fim para o qual sua

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