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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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EMOÇÃO 316 EMOÇÃO<br />

e o pranto, ajudam mecanicamente a saú<strong>de</strong>. A<br />

utilida<strong>de</strong> das E. <strong>de</strong>corre da função exercida em<br />

face da vida por seu tom fundamental, prazer<br />

ou dor. "O prazer", diz Kant (Antr., § 60), "é o<br />

sentido do crescimento da vida; a dor, do impedimento<br />

à vida: a vida do animal, como já<br />

notaram os médicos, é o antagonismo contínuo<br />

entre prazer e dor." Nesse jogo <strong>de</strong> antagonismo,<br />

a dor tem a primazia. De fato, aquilo que<br />

<strong>de</strong> modo imediato, ou seja, por via do sentido,<br />

me impele a abandonar meu modo <strong>de</strong> ser, é <strong>de</strong>sagradável<br />

para mim, aflige-me; o que, ao contrário,<br />

me impele a conservá-lo (a permanecer<br />

nele) é agradável para mim, apraz-me. Mas<br />

como o tempo nos foge, indo sempre do presente<br />

para o futuro e não vice-versa, somos<br />

obrigados a sair do estado presente sem saber<br />

em qual entraremos, sabendo apenas que é um<br />

estado diferente. Ora, essa perspectiva é a causa<br />

do sentimento agradável, o que significa que<br />

ele é precedido e condicionado pelo sentimento<br />

<strong>de</strong> dor vinculado à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sair do<br />

próprio modo <strong>de</strong> ser. "A dor", nota também<br />

Kant, "é o aguilhão da ativida<strong>de</strong> e é nela que<br />

sentimos a vida; sem dor, cessaria a vida". É<br />

estranho que essas observações <strong>de</strong> Kant, que<br />

outra pretensão não tinham senão caracterizar<br />

uma situação <strong>de</strong> fato, tenham sido amplificadas<br />

por Schopenhauer, fundamentando seu pessimismo<br />

romântico. Viver, para Schopenhauer,<br />

significa querer; querer significa <strong>de</strong>sejar; e o<br />

<strong>de</strong>sejo implica a ausência do que se <strong>de</strong>seja, ou<br />

seja, <strong>de</strong>ficiência e dor. Por isso, a vida é dor e a<br />

vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver é o princípio da dor. Da satisfação<br />

do <strong>de</strong>sejo ou da necessida<strong>de</strong>, surge um<br />

novo <strong>de</strong>sejo, outra necessida<strong>de</strong> ou o tédio da<br />

satisfação prolongada. Nessa oscilação, contínua,<br />

o prazer representa só um momento <strong>de</strong><br />

trânsito, negativo e instável: é a simples cessação<br />

da dor (Die Welt, I, § 57).<br />

A distinção e a especificação dos conceitos<br />

<strong>de</strong> "E.", "sentimento" e "paixão" po<strong>de</strong>m ser vistas<br />

no fato <strong>de</strong> que, na doutrina <strong>de</strong> Hegel, a paixão<br />

recebe tratamento privilegiado, enquanto o<br />

sentimento e, sobretudo, a emoção são reduzidos<br />

ao nível da "vã opinião" dos estóicos.<br />

Hegel fala das E. a propósito da forma do sentimento,<br />

que faz parte do espirito subjetivo, mais<br />

precisamente do momento <strong>de</strong>le que é a "psicologia";<br />

esta "indica em forma <strong>de</strong> narração o<br />

que é espírito ou alma, o que lhe acontece,<br />

o que faz" (Ene, 387). O sentimento, diz<br />

Hegel, tem forma <strong>de</strong> "particularida<strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntal";<br />

nele o espírito encontra sua "forma íntima<br />

e pior, em que já não está livre, como universalida<strong>de</strong><br />

infinita, mas seu conteúdo está como<br />

aci<strong>de</strong>ntal, subjetivo, particular" (Ibid., 447).<br />

Obviamente, com essas expressões, Hegel preten<strong>de</strong><br />

referir-se às E., das quais o sentimento<br />

constitui a forma ou categoria universal; e às E.<br />

cabem portanto as qualificações <strong>de</strong> "particularida<strong>de</strong><br />

aci<strong>de</strong>ntal" e "conteúdo aci<strong>de</strong>ntal, subjetivo,<br />

particular": expressões todas que, na linguagem<br />

<strong>de</strong> Hegel, <strong>de</strong>signam <strong>de</strong>terminações<br />

provisórias ou aparentes, que só têm realida<strong>de</strong><br />

na substância racional. Quanto aos "sentimentos<br />

práticos", só po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados como<br />

tais egoísticos e maus, pois só estes pertencem<br />

à individualida<strong>de</strong> que se mantém contra a<br />

universalida<strong>de</strong>; o conteúdo <strong>de</strong>sses sentimentos,<br />

portanto, só é <strong>de</strong>terminado em antítese com o<br />

dos direitos e dos <strong>de</strong>veres (Ibid., 471). As<br />

expressões que Hegel emprega a propósito e<br />

que parecem referir-se ao conteúdo da forma<br />

do sentimento, ou seja, à esfera das E., sâo o<br />

equivalente exato da "vã opinião" dos estóicos<br />

e do "pensamento confuso" <strong>de</strong> Spinoza e<br />

Leibniz: indicam estados ou momentos que<br />

não têm significado próprio, mas só o significado<br />

negativo <strong>de</strong> não serem perfeitamente<br />

redutíveis ao juízo, ou, em geral, às <strong>de</strong>terminações<br />

racionais.<br />

A partir da segunda meta<strong>de</strong> do séc. XIX, as E.<br />

tornam-se objeto <strong>de</strong> indagação científica e sâo<br />

consi<strong>de</strong>radas em estreita conexão com os movimentos<br />

e os estados corpóreos que as acompanham.<br />

A primeira tentativa importante nesse<br />

sentido foi <strong>de</strong> Charles Darwin, em Expressão<br />

das E. no homem e nos animais, <strong>de</strong> 1872, que<br />

também utilizou pesquisas anteriores e assumiu<br />

como ponto <strong>de</strong> partida a distinção <strong>de</strong> Spencer<br />

entre sensações e emoções. Segundo Spencer<br />

{Principies of Psichology, 1855, § 66), todas<br />

as experiências vividas (feelings) divi<strong>de</strong>m-se<br />

em duas classes: sensações, produzidas por um<br />

estímulo periférico, e E, produzidas por um estímulo<br />

central. Sensações e E. distinguem-se<br />

sobretudo porque as primeiras são relativamente<br />

simples e as segundas são extremamente<br />

complexas. Ambas, porém, são mecanismos <strong>de</strong><br />

adaptação ou <strong>de</strong> resposta a conjuntos uniformes<br />

<strong>de</strong> circunstâncias externas (Ibid, § 216). Darwin<br />

preocupou-se principalmente em estudar os<br />

movimentos ou as modificações somáticas que<br />

constituem a expressão das emoções. E julgou<br />

po<strong>de</strong>r explicá-las mediante três princípios. l s<br />

Princípio dos hábitos úteis e associados, que exprimiu<br />

assim: "Quando uma sensação, um <strong>de</strong>-

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