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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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DURAÇÃO 296 DUVIDA<br />

Nossas percepções nunca têm uma sucessão<br />

tão constante e regular que possa correspon<strong>de</strong>r<br />

ã do tempo, que é contínuo, uniforme e simples,<br />

como uma linha reta". Portanto, po<strong>de</strong>-se<br />

dizer que se conhece "a D. através do número<br />

dos movimentos periódicos iguais, dos quais<br />

um começa quando acaba o outro, como p. ex.<br />

o número <strong>de</strong> revoluções da terra ou dos astros"<br />

(Nouv. ess., II, 14, § 16, 22). Em outros termos,<br />

para Leibniz a noção <strong>de</strong> D. está ligada à <strong>de</strong><br />

medida do tempo e esta última está ligada aos<br />

movimentos periódicos uniformes. E Kant exprimia<br />

substancialmente o mesmo conceito <strong>de</strong><br />

duração ao observar que "só por meio do permanente<br />

a existência adquire, nas várias partes<br />

da série temporal, uma quantida<strong>de</strong> que se chama<br />

duração" (Crít. R. Pura, Anal. d. Princ, I.<br />

Analogia). A D. é, portanto, uma quantida<strong>de</strong><br />

mensurável com fundamento na permanência:<br />

é um atributo da substância porquanto é o próprio<br />

objeto que permanece no tempo (Jbid.).<br />

Don<strong>de</strong> se conclui que, enquanto os antigos<br />

remetiam a idéia <strong>de</strong> D. à <strong>de</strong> eternida<strong>de</strong>, os<br />

mo<strong>de</strong>rnos, ao contrário, remetem-na à idéia <strong>de</strong><br />

tempo, i<strong>de</strong>ntificando-as.<br />

Bergson procura separar D. <strong>de</strong> tempo, pelo<br />

menos do tempo mensurável pela ciência, e<br />

acaba por transformá-la numa espécie <strong>de</strong> eternida<strong>de</strong>.<br />

Para Bergson, o tempo da ciência é<br />

espacializado, ou seja, reduzido à sucessão <strong>de</strong><br />

instantes idênticos. O tempo real ou D. é dado<br />

pela consciência, <strong>de</strong>spojado <strong>de</strong> qualquer superestrutura<br />

intelectual ou simbólica, ou reconhecido<br />

em sua flui<strong>de</strong>z original. Nessa flui<strong>de</strong>z<br />

não existem estados <strong>de</strong> consciência relativamente<br />

uniformes que se sucedam uns aos<br />

outros, como os instantes do tempo espacializado<br />

da ciência. Existe uma única corrente<br />

fluida, on<strong>de</strong> não existem cortes nítidos nem<br />

separações, e na qual, a cada instante, tudo é<br />

novo e tudo é ao mesmo tempo conservado.<br />

Bergson diz: "Meu estado d'alma, avançando<br />

no caminho do tempo, vai-se dilatando continuamente<br />

com a D. que recolhe: po<strong>de</strong>-se dizer<br />

que faz uma avalanche consigo mesmo" (Évol.<br />

créatr., p. 2). O conceito <strong>de</strong> D. assim entendido<br />

é o princípio <strong>de</strong> toda a <strong>filosofia</strong> <strong>de</strong> Bergson: é<br />

invocado como memória, ou seja, conservação<br />

integral, em Matière et mémoire, para explicar<br />

a relação entre alma e corpo (v. ALMA); como<br />

ímpeto vital em Evolução criadora, para explicar<br />

a evolução da vida e sua divisão nas duas<br />

direções fundamentais que são instinto e inteligência;<br />

e também como ímpeto vital em Deux<br />

sources <strong>de</strong> Ia morale et <strong>de</strong> Ia religion, para explicar<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento das socieda<strong>de</strong>s humanas<br />

e seu encaminhamento para uma socieda<strong>de</strong><br />

mística. Finalmente, é o objeto próprio da<br />

intuição, que é o órgão específico da <strong>filosofia</strong>,<br />

<strong>de</strong>stinada a apreen<strong>de</strong>r a espiritualida<strong>de</strong> como<br />

tal, da mesma forma como o intelecto <strong>de</strong>stinase<br />

a apreen<strong>de</strong>r a matéria, ou seja, a imobilida<strong>de</strong><br />

do mecanicismo. Como já se disse, essa noção<br />

<strong>de</strong> D., não obstante apresentar-se caracterizada<br />

como mudança incessante, está mais próxima<br />

da noção <strong>de</strong> eternida<strong>de</strong> que da noção <strong>de</strong><br />

tempo, visto que, na verda<strong>de</strong>, conserva tudo, é<br />

tudo e nada tem fora <strong>de</strong> si, precisamente como<br />

o aión <strong>de</strong> Aristóteles.<br />

DÚVIDA (gr. àTTopíot; lat. Dubium, in. Doubt;<br />

fr. Doute, ai. Zweifel; it. Dubbio). Esse termo<br />

costuma <strong>de</strong>signar duas coisas diferentes, porém<br />

mais ou menos ligadas: l s um estado<br />

subjetivo <strong>de</strong> incerteza, ou seja, uma crença ou<br />

opinião não suficientemente <strong>de</strong>terminadas, ou<br />

a hesitação em escolher entre a asserção da<br />

afirmação e a asserção da negação; 2 S uma<br />

situação objetiva <strong>de</strong> in<strong>de</strong>terminação ou a problematicida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> uma situação: seu caráter<br />

<strong>de</strong> in<strong>de</strong>cisão em relação ao possível êxito ou à<br />

possível solução. Aristóteles foi o primeiro a reconhecer<br />

(pelo menos implicitamente) essa<br />

distinção <strong>de</strong> significados quando negou que a<br />

dúvida pu<strong>de</strong>sse reduzir-se à "equivalência dos<br />

raciocínios contrários", porque é essa equivalência<br />

que po<strong>de</strong> produzir a dúvida. E disse:<br />

"Quando raciocinamos em ambas as direções e<br />

todos os elementos do discurso parecem <strong>de</strong>senvolver-se<br />

com igual valida<strong>de</strong> em cada um<br />

dos dois sentidos, ficamos em D. sobre o que<br />

fazer" (Top., VI, 7, 145 b 15). A "equivalência<br />

<strong>de</strong> raciocínios opostos" é a situação objetiva <strong>de</strong><br />

in<strong>de</strong>terminação; a D. é a incerteza subjetiva, a<br />

incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão que ela comporta. Esses<br />

dois aspectos encontram-se, <strong>de</strong> forma mais<br />

ou menos explícita, na história da <strong>filosofia</strong>, mas<br />

com predominância do aspecto subjetivo, que<br />

é consi<strong>de</strong>rado peculiar ou constitutivo da dúvida.<br />

É isso o que se conclui <strong>de</strong> um comentário<br />

<strong>de</strong> Sexto Empírico (Pirr. hyp., I, 7) para quem<br />

a D. é "a hesitação entre afirmar e negar", conquanto<br />

os céticos não neguem os bons fundamentos<br />

objetivos <strong>de</strong>ssa hesitação. E mesmo não<br />

negando seu fundamento objetivo, S. Tomás<br />

insiste no caráter subjetivo da D. como ignorância<br />

ou falta <strong>de</strong> informação, não a consi<strong>de</strong>rando,<br />

portanto, essencial à escolha voluntária<br />

(S. Th., III, 2. 18, a. 4). Aparentemente, o cará-

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