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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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BEM 107 BEM<br />

Com a doutrina <strong>de</strong> Kant, o conceito <strong>de</strong> B. foi<br />

reconhecido numa esfera específica, tornou-se<br />

um valor, ou melhor, uma classe <strong>de</strong> valores,<br />

fundamental. Juntamente com o Verda<strong>de</strong>iro e<br />

com o Bem, entrou na constituição <strong>de</strong> uma<br />

nova espécie <strong>de</strong> trinda<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al, correspon<strong>de</strong>nte<br />

às três formas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> reconhecidas como<br />

próprias do homem: intelecto, sentimento e<br />

vonta<strong>de</strong>. Embora essa tripartição tenha sido<br />

consi<strong>de</strong>rada durante muito tempo como um<br />

dado <strong>de</strong> fato originário, testemunhado pela<br />

"consciência" ou pela "experiência interior", na<br />

realida<strong>de</strong> é uma noção historicamente <strong>de</strong>rivada,<br />

que, na segunda meta<strong>de</strong> do séc. XVIII, nasceu<br />

da inserção da "faculda<strong>de</strong> do sentimento" entre<br />

as outras faculda<strong>de</strong>s (reconhecidas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o tempo<br />

<strong>de</strong> Aristóteles): a teorética e a prática (v.<br />

GOSTO; SENTIMENTO).<br />

5 Q Como perfeição expressiva ou completitu<strong>de</strong><br />

da expressão, o B. é, implícita ou explicitamente,<br />

<strong>de</strong>finido por todas as teorias que consi<strong>de</strong>ram<br />

a arte como expressão (v. ESTÉTICA, 3).<br />

Croce disse: "Parece-nos lícito e oportuno <strong>de</strong>finir<br />

a beleza como expressão bem-sucedida, ou<br />

melhor, como expressão pura e simples, pois a<br />

expressão, quando não é bem-sucedida, não<br />

é expressão" (Estética, 4 a ed., 1912, p. 92). E,<br />

conquanto, na obra <strong>de</strong> Croce, a teoria da arte<br />

como expressão se combine ou se confunda<br />

com a <strong>de</strong> arte como conhecimento, a <strong>de</strong>finição<br />

<strong>de</strong> beleza dada por Croce po<strong>de</strong> ser adotada em<br />

qualquer teoria da arte como expressão.<br />

BEM (gr. àyaOóv; lat. Bonum; in. Good; fr.<br />

Biert; ai. Gut; it. Bene). Em geral, tudo o que<br />

possui valor, preço, dignida<strong>de</strong>, a qualquer título.<br />

Na verda<strong>de</strong>, B. é a palavra tradicional para<br />

indicar o que, na linguagem mo<strong>de</strong>rna, se chama<br />

valor (v.). Um B. é um livro, um cavalo, um<br />

alimento, qualquer coisa que se possa ven<strong>de</strong>r<br />

ou comprar; um B. também é beleza, dignida<strong>de</strong><br />

ou virtu<strong>de</strong> humana, bem como uma ação<br />

virtuosa, um comportamento aprovável. Em correspondência<br />

com essa extrema varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

significados, o adjetivo bom tem uma idêntica<br />

varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aplicações. Po<strong>de</strong>mos falar <strong>de</strong> "uma<br />

boa chave <strong>de</strong> fenda" ou <strong>de</strong> "um bom automóvel"<br />

como também <strong>de</strong> "uma boa ação" ou <strong>de</strong><br />

"uma pessoa boa". Dizemos também "um bom<br />

prato", para indicar algo que correspon<strong>de</strong> ao<br />

nosso paladar, ou "um bom quadro", para indicar<br />

um quadro bem-feito.<br />

Dessa esfera do significado geral, pela qual<br />

a palavra se refere a tudo o que tem um valor<br />

qualquer, po<strong>de</strong>-se recortar a esfera do significado<br />

específico, em que a palavra se refere particularmente<br />

ao domínio da moralida<strong>de</strong>, isto é,<br />

dos mores, da conduta, dos comportamentos<br />

humanos intersubjetivos, <strong>de</strong>signando, assim, o<br />

valor específico <strong>de</strong> tais comportamentos. Nesse<br />

segundo significado, isto é, como B. moral, o B.<br />

é objeto da ética e o registro dos seus diferentes<br />

significados históricos é encontrado no verbete<br />

Ética (v). Por ora, <strong>de</strong>veremos tratar da noção<br />

<strong>de</strong> B. só no primeiro sentido, isto é, na sua<br />

acepção mais geral. Po<strong>de</strong>mos, então, distinguir<br />

dois pontos <strong>de</strong> vista fundamentais, que apresentam<br />

intersecção na história da <strong>filosofia</strong>: l s a<br />

teoria metafísica, segundo a qual o B. é a realida<strong>de</strong>,<br />

mais precisamente a realida<strong>de</strong> perfeita<br />

ou suprema, e é <strong>de</strong>sejado como tal; 2" a teoria<br />

subjetivista, segundo a qual o B. é o que é <strong>de</strong>sejado<br />

ou o que agrada, e é tal só nesse aspecto.<br />

1 Q O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> todas as teorias metafísicas<br />

é a teoria <strong>de</strong> Platão, segundo a qual o B. é o<br />

que confere verda<strong>de</strong> aos objetos cognoscíveis,<br />

que confere ao homem o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> conhecêlos,<br />

que confere luz e beleza às coisas, etc; em<br />

uma palavra, é fonte <strong>de</strong> todo ser, no homem e<br />

fora do homem (Rep., VI, 508 e 509 b). Platão<br />

compara o B. ao Sol, que dá aos objetos não só<br />

a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serem vistos como também<br />

a <strong>de</strong> serem gerados, <strong>de</strong> crescerem e <strong>de</strong> nutrirse;<br />

e, assim como o Sol que, mesmo sendo a<br />

causa <strong>de</strong>ssas coisas, não é nenhuma <strong>de</strong>las, também<br />

o B. como fonte da verda<strong>de</strong>, do belo, da<br />

cognoscibilida<strong>de</strong>, etc. e, em geral, do ser, não<br />

é nenhuma <strong>de</strong>ssas coisas e está além <strong>de</strong>las (ibid.,<br />

509 b). Analogamente, Plotino vê no B. a primeira<br />

Hipóstase, isto é, a origem da realida<strong>de</strong>,<br />

o próprio Deus, consi<strong>de</strong>rando-o como causa,<br />

ao mesmo tempo, do ser, da ciência (Enn., VI,<br />

7, 16) e, em geral, <strong>de</strong> tudo o que é ou vale um<br />

título qualquer (ibid., V, 4, 1). Essas noções<br />

tornaram-se correntes na <strong>filosofia</strong> medieval,<br />

que i<strong>de</strong>ntificou, segundo o exemplo neoplatônico,<br />

o B. com Deus mesmo, <strong>de</strong> modo que só<br />

po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado "bom" o que é, <strong>de</strong> algum<br />

modo, semelhante a Deus (S. TOMÁS. S. Th., I.<br />

q. 6, a. 4).<br />

O teorema característico <strong>de</strong>ssa concepção<br />

<strong>de</strong> B. é o que afirma a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do que é B.<br />

com o que existe. "Bonum e em-são a mesma<br />

coisa na realida<strong>de</strong>", diz S. Tomás, "embora possam<br />

distinguir-se um do outro racionalmente.<br />

O B., com efeito, é o ente como objeto <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sejo, o que não é o ente" (S. Th., 1, q. 5, a. 1).<br />

Por isso, "todo ente, como ente, é bom" (ibid.,<br />

I, q. 5, a. 3). De fato, todo ente como tal está em

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