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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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AMIZADE 38 AMOR<br />

ferentemente da A., é provocado pelo prazer<br />

causado pela vista da beleza (IX, 5, 1.166 b<br />

30). A A. distingue-se também da benevolência<br />

porque esta também po<strong>de</strong> dirigir-se a <strong>de</strong>sconhecidos<br />

e permanecer oculta: o que não acontece<br />

com a A. (IX, 5, 1.167 a 10). A A. é, certamente,<br />

uma espécie <strong>de</strong> concórdia, mas uma<br />

concórdia que não repousa na i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

opiniões, mas, assim como a concórdia entre<br />

cida<strong>de</strong>s, na harmonia das atitu<strong>de</strong>s práticas, <strong>de</strong><br />

sorte que, a justo título, chama-se <strong>de</strong> "A. civil"<br />

a concórdia política (IX, 6, 1.167 a 22). A A. é,<br />

certamente, uma comunida<strong>de</strong> no sentido <strong>de</strong><br />

que o amigo se comporta em relação ao amigo<br />

como em relação a si mesmo (IX, 12, 1.171 b<br />

32). Há tantas espécies <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>s quantas<br />

são as comunida<strong>de</strong>s, isto é, as partes da socieda<strong>de</strong><br />

civil: entre os navegantes, entre os soldados,<br />

entre os que fazem um trabalho qualquer<br />

em comum (VIII, 9, 1.159 b 25). Po<strong>de</strong> haver<br />

também A. entre senhor e escravo, se o escravo<br />

não for consi<strong>de</strong>rado apenas um instrumento<br />

animado, mas um homem. Só na tirania há pouca<br />

ou nenhuma A., pois nela não há nada em comum<br />

entre quem manda e quem obe<strong>de</strong>ce, e a<br />

A. é tão mais forte quanto mais coisas comuns<br />

houver entre iguais (VIII, 11, 1.161, b 5). Há<br />

também tantas A. quantas são as formas do<br />

amor: entre pai e filho, entre jovem e velho,<br />

entre marido e mulher. Esta última é a mais<br />

natural e nela se unem a utilida<strong>de</strong> e o prazer<br />

(VIII, 12, 1.161 b 11). Quanto ao fundamento<br />

da A., po<strong>de</strong> ser a utilida<strong>de</strong> recíproca, o prazer<br />

ou o bem, mas é claro que, enquanto a A. fundada<br />

na utilida<strong>de</strong> ou no prazer está <strong>de</strong>stinada a<br />

acabar quando o prazer ou a utilida<strong>de</strong> cessarem,<br />

a A. fundada no bem é a mais estável e<br />

firme, portanto a verda<strong>de</strong>ira A. (VIII, 3, 1.156 a<br />

6 ss.). Essa análise <strong>de</strong> Aristóteles, a mais completa<br />

e bela que em <strong>filosofia</strong> já se fez sobre o<br />

fenômeno A., apóia-se nos seguintes pontos: l 9<br />

a A. é uma comunida<strong>de</strong> ou participação solidária<br />

<strong>de</strong> várias pessoas em atitu<strong>de</strong>s, valores ou<br />

bens <strong>de</strong>terminados; 2- está ligada ao amor, tem<br />

formas semelhantes, mas não se i<strong>de</strong>ntifica com<br />

o amor; 3 Q aproxima-se mais da benevolência<br />

e, por isso, está vinculada aos afetos positivos,<br />

que implicam solicitu<strong>de</strong>, cuidado, pieda<strong>de</strong>,<br />

etc. Assim, segundo Aristóteles, a A. é mais<br />

ampla do que o amor, que é limitado e condicionado<br />

pelo prazer da beleza. E é diferente do<br />

amor pelo seu caráter ativo e seletivo, pelo que<br />

Aristóteles diz que o amor é uma afeição (Jtá9oç),<br />

isto é, uma modificação sofrida, ao passo que a<br />

A. é um habito (assim como hábito é a virtu<strong>de</strong>),<br />

isto é, uma disposição ativa e compromissiva<br />

da pessoa. Depois <strong>de</strong> Aristóteles, a A. foi exaltada<br />

pelos epicuristas, que nela basearam um<br />

dos fundamentos <strong>de</strong> sua ética e <strong>de</strong> sua conduta<br />

prática. Nessa escola, porém, assume caráter<br />

aristocrático; é uma das manifestações da vida<br />

do sábio, e não está, como em Aristóteles, vinculada<br />

às relações humanas como tais. Nos testemunhos<br />

epicuristas que nos chegaram, reaparecem<br />

alguns reparos aristotélicos, como, p.<br />

ex., que "A A. nasce do útil, mas é um bem por<br />

si. Amigo não é quem procura sempre o útil,<br />

nem quem nunca o une à A., pois o primeiro<br />

consi<strong>de</strong>ra a A. como um tráfico <strong>de</strong> vantagens,<br />

e o segundo <strong>de</strong>strói a esperança confiante <strong>de</strong><br />

ajuda, que é parte importante da A." (Sent. Vat.,<br />

39-24, Bignone).<br />

Com o predomínio do Cristianismo, a importância<br />

da A. como fenômeno humano primário<br />

<strong>de</strong>clina na literatura filosófica. O conceito<br />

mais amplo e mais importante passa a ser o<br />

do amor, do amor ao próximo, que carece dos<br />

caracteres seletivos e específicos que Aristóteles<br />

atribuíra à amiza<strong>de</strong>. De fato, "próximo"<br />

é aquele com que <strong>de</strong>paramos ou que está<br />

comumente em relação conosco, seja quem<br />

for, amigo ou inimigo. A máxima aristotélica<br />

da A., "comportar-se com o amigo como consigo<br />

mesmo", ver nele "um outro eu" (Et. nic,<br />

IX, 9, 1170 b 5; IX, 12, 1171 b 32), é estendida<br />

pelo Cristianismo a todo próximo.<br />

AMOR (gr. epcoç àyáiu]; lat. Amor, cantas;<br />

in. Love, fr. Amour, ai. Hebe, it. Amore). Os significados<br />

que este termo apresenta na linguagem<br />

comum são múltiplos, díspares e contrastantes;<br />

igualmente múltiplos, díspares e<br />

contrastantes são os que se apresentam na tradição<br />

filosófica. Começaremos apontando os<br />

usos mais correntes da linguagem comum, para<br />

selecioná-los, or<strong>de</strong>ná-los e utilizá-los como critério<br />

<strong>de</strong> seleção e organização dos usos filosóficos<br />

<strong>de</strong>sse termo: a) em primeiro lugar, com a<br />

palavra A. <strong>de</strong>signa-se a relação intersexual,<br />

quando essa relação é seletiva e eletiva, sendo,<br />

por isso, acompanhada por amiza<strong>de</strong> e por afetos<br />

positivos (solicitu<strong>de</strong>, ternura, etc). Do A.,<br />

nesse sentido, distinguem-se freqüentemente<br />

as relações sexuais <strong>de</strong> base puramente sensual,<br />

que não se baseiam na escolha pessoal, mas na<br />

necessida<strong>de</strong> anônima e impessoal <strong>de</strong> relações<br />

sexuais. Muitas vezes, porém, a mesma linguagem<br />

comum esten<strong>de</strong> também para esse tipo <strong>de</strong><br />

relações a palavra A., como quando se diz "fa-

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