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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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NECESSÁRIO 706 NECESSÁRIO<br />

do real. "Quando se têm todas as condições' 1 —<br />

diz Hegel — "a coisa <strong>de</strong>ve tornar-se real" (Ene,<br />

§ 147). "O N. é mediado por um círculo <strong>de</strong><br />

circunstâncias: é assim porque as circunstâncias<br />

são assim, e ao mesmo tempo é assim<br />

imediato, é assim porque é" (Ibid., § 149). Desse<br />

modo a necessida<strong>de</strong> torna-se alma da realida<strong>de</strong>,<br />

dialética (v.) da Razão Real ou da Realida<strong>de</strong><br />

Racional. Essa extensão da necessida<strong>de</strong> ao infinito<br />

não renova, como é óbvio, as características<br />

do conceito, que continua sendo o mesmo<br />

<strong>de</strong>finido por Aristóteles; assim como essas características<br />

não são renovadas pelo uso contemporâneo<br />

<strong>de</strong>sse conceito, que mais insiste na<br />

necessida<strong>de</strong> do real, em seus diversos graus e<br />

formas: Nicolai Hartmann (cf. especialmente Mõglichkeit<br />

nnd Wirklichkeit, 1938) (v. POSSÍVEL).<br />

Agora po<strong>de</strong>mos lançar uma vista d'olhos na<br />

sorte que a <strong>filosofia</strong> contemporânea <strong>de</strong>u às três<br />

formas do N., comumente admitidas a partir <strong>de</strong><br />

Wolff, provando que esse conceito realmente<br />

não foi inovado.<br />

I a O moralmente N., o obrigatório ou o que<br />

é <strong>de</strong> <strong>de</strong>ver, embora algumas vezes continue recebendo<br />

esse nome, não po<strong>de</strong> ser incluído nas<br />

formas do N.;<br />

2 a O hipoteticamente N., i<strong>de</strong>ntificando-se<br />

com o causai (v.) ou o condicional (v.), compartilha<br />

o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong>sses conceitos;<br />

3 a É ao absolutamente N., ao N. "geométrico"<br />

ou "lógico", que se faz mais freqüentemente<br />

referência no domínio do saber filosófico e<br />

científico. Wittgenstein diz: "Existe apenas uma<br />

necessida<strong>de</strong> lógica, e assim existe apenas uma<br />

impossibilida<strong>de</strong> lógica" (Tractacus, 6.375).<br />

Quase todos os lógicos contemporâneos<br />

subscrevem, ou implicitamente admitem, essa<br />

tese <strong>de</strong> Wittgenstein. Não há acordo entre eles,<br />

no entanto, quanto à <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong><br />

lógica. As principais doutrinas a respeito são:<br />

a) doutrina da analiticida<strong>de</strong>, b) doutrina da regra;<br />

c) doutrina da imunida<strong>de</strong>, d) doutrina da<br />

qualida<strong>de</strong>.<br />

a) A primeira é her<strong>de</strong>ira da <strong>de</strong>finição leibniziana<br />

da necessida<strong>de</strong> lógica como "impossibilida<strong>de</strong><br />

do contrário". Peirce dizia que lógica<br />

ou essencialmente N. é aquilo que uma pessoa<br />

que não conhece os fatos, mas está perfeitamente<br />

a par das regras do raciocínio e das palavras<br />

implícitas no raciocínio, sabe que é verda<strong>de</strong>iro.<br />

Tal pessoa, p. ex., não sabe se existe ou<br />

não um animal chamado basilisco ou se existem<br />

coisas como serpentes, galinhas e ovos,<br />

mas sabe que todo basilisco nasceu <strong>de</strong> um ovo<br />

<strong>de</strong> galinha chocado por uma serpente. "Isso é<br />

essencialmente N. porque é isso que a palavra<br />

basilisco significa." iColl. Pap., 4.67). Lewis, por<br />

sua vez, disse que "uma asserção é logicamente<br />

necessária se, e somente se, o contraditório<br />

<strong>de</strong>la é incompatível consigo mesmo"<br />

(Analysis of Knowledge and Valuation, 1946,<br />

p. 89), que nada mais é que uma reformulação<br />

da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Leibniz. No mesmo sentido<br />

Strawson disse que "uma asserção é necessária<br />

quando é a contraditória <strong>de</strong> uma asserção<br />

inconsistente" (Intr. to Logical Theory), 1952,<br />

p. 22). Carnap, observando que o conceito <strong>de</strong><br />

necessida<strong>de</strong> lógica é comumente entendido no<br />

sentido <strong>de</strong> que se aplica a uma proposição p<br />

"se e somente se a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> p se baseia em<br />

razões puramente lógicas e não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

da contingência dos fatos, em outras palavras,<br />

se a pressuposição <strong>de</strong> não-p conduz a uma<br />

contradição lógica, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente dos fatos",<br />

i<strong>de</strong>ntificou a necessida<strong>de</strong> lógica com a<br />

verda<strong>de</strong> lógica e <strong>de</strong>finiu a verda<strong>de</strong> lógica, na<br />

esteira <strong>de</strong> Leibniz. como a verda<strong>de</strong> que é válida<br />

em todos os mundos possíveis, ou, em sua<br />

terminologia, é válida em qualquer <strong>de</strong>scrição<br />

<strong>de</strong> estado <strong>de</strong> um sistema.. Sua <strong>de</strong>finição da <strong>de</strong>scrição<br />

<strong>de</strong> estado esclarece esse conceito: "Uma<br />

classe <strong>de</strong> enunciados em SI que, para cada<br />

enunciado atômico, contém esse enunciado ou<br />

sua negação mas não ambas as coisas, nem nenhum<br />

outro enunciado, é chamado <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrição<br />

<strong>de</strong> estado em SI, porque ele obviamente<br />

dá a <strong>de</strong>scrição completa <strong>de</strong> um possível estado<br />

do universo dos indivíduos em relação a todas<br />

as proprieda<strong>de</strong>s e relações expressas pelos<br />

predicados do sistema. Assim, as <strong>de</strong>scrições<br />

<strong>de</strong> estado representam os mundos possíveis <strong>de</strong><br />

Leibniz ou os possíveis estados <strong>de</strong> coisas <strong>de</strong><br />

Wittgenstein" (Meaning and Necessity, §§ 2 e<br />

39). Essa é a expressão mais rigorosa que a tese<br />

da redução da necessida<strong>de</strong> à analiticida<strong>de</strong> já<br />

teve. No entanto, não esteve imune a críticas<br />

(cf., p. ex., QUINE, From a Logical Point ofView,<br />

II; A. PAP, Semantics and Necessary Truth, pp.<br />

150 ss.).<br />

b) A segunda interpretação da necessida<strong>de</strong><br />

lógica reduz os enunciados à aplicação da necessida<strong>de</strong><br />

a simples regras: regras <strong>de</strong> transformação<br />

ou, mais simplesmente, regras lingüísticas.<br />

A doutrina segundo a qual as "verda<strong>de</strong>s<br />

necessárias" da matemática (p. ex., a famosa<br />

proposição <strong>de</strong> que falava Kant, "7 + 5 = 12")<br />

nada mais são do que regras <strong>de</strong> transformação, regras<br />

que permitem inferir uma fórmula <strong>de</strong>

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