22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

DIALÉTICA 273 DIALÉTICA<br />

nação que do Não-eu se reflete sobre o Eu,<br />

produzindo neste a representação (Wissenschaftslehre,<br />

§ 4, E). Mas para Hegel a D. é "a<br />

própria natureza do pensamento" {Ene, § 11),<br />

visto ser a resolução das contradições em que<br />

se enreda a realida<strong>de</strong> finita, que como tal é objeto<br />

do intelecto. A D. é "a resolução imanente<br />

na qual a unilateralida<strong>de</strong> e a limitação das <strong>de</strong>terminações<br />

intelectuais se expressam como<br />

são, ou seja, como sua negação. Todo finito<br />

tem a característica <strong>de</strong> suprimir-se a si mesmo.<br />

A D. constitui, pois, a alma do progresso científico<br />

e é o único princípio através do qual a conexão<br />

imanente e a necessida<strong>de</strong> entram no<br />

conteúdo da ciência; nela também está, sobretudo,<br />

a elevação verda<strong>de</strong>ira e não extrínseca<br />

acima do finito" (Jbid, § 81). A D. coniste: l s<br />

na colocação <strong>de</strong> um conceito "abstrato e limitado";<br />

2- no suprimir-se <strong>de</strong>sse conceito algo<br />

"finito" e na passagem para o seu oposto; 3 e na<br />

síntese das duas <strong>de</strong>terminações prece<strong>de</strong>ntes,<br />

que conserva "o que há <strong>de</strong> afirmativo na sua<br />

solução e na sua transposição". Hegel dá a esses<br />

três momentos os nomes, respectivamente,<br />

<strong>de</strong> intelectual, dialético e especulativo ou positivo<br />

racional. Mas a D. não é só o segundo<br />

<strong>de</strong>sses momentos: é mais o conjunto do movimento,<br />

especialmente em seu resultado positivo<br />

e em sua realida<strong>de</strong> substancial. De fato, pela<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> entre racional e real, a D. é não só<br />

a lei do pensamento, mas a lei da realida<strong>de</strong>, e<br />

seus resultados não são conceitos puros ou<br />

conceitos abstratos, mas "pensamentos concretos",<br />

ou seja, realida<strong>de</strong>s propriamente ditas, necessárias,<br />

<strong>de</strong>terminações ou categorias eternas.<br />

Toda a realida<strong>de</strong> move-se dialeticamente e,<br />

portanto, a <strong>filosofia</strong> hegeliana vê em toda parte<br />

tría<strong>de</strong>s <strong>de</strong> teses, antítese e sínteses, nas quais a<br />

antítese representa a "negação", "o oposto" ou<br />

"outro" da tese, e a síntese constitui a unida<strong>de</strong><br />

e, ao mesmo tempo, a certificação <strong>de</strong> ambas.<br />

Hegel viu os prece<strong>de</strong>ntes remotos <strong>de</strong>ssa D. em<br />

Heráclito e Proclo. De fato, Heráclito não só<br />

concebeu o absoluto como "unida<strong>de</strong> dos opostos"<br />

como também concebeu essa unida<strong>de</strong><br />

como objetiva ou imanente ao objeto", ao contrário<br />

<strong>de</strong> Zenão, que consi<strong>de</strong>rou puramente<br />

subjetivas as contradições, sendo por isso uma<br />

espécie <strong>de</strong> Kant da antigüida<strong>de</strong>. "Em Heráclito",<br />

diz Hegel, "encontramos pela primeira<br />

vez a idéia filosófica em sua forma especulativa...<br />

Aqui finalmente vemos terra: não há<br />

proposição <strong>de</strong> Heráclito que eu não tenha acolhido<br />

na minha lógica" (Geschichte <strong>de</strong>r Philo-<br />

sophie, ed. Glockner, I, p. 343). Por outro lado,<br />

Proclo foi quem <strong>de</strong>scobriu o caráter triádico do<br />

procedimento dialético, consi<strong>de</strong>rando-o como<br />

o <strong>de</strong>rivar as coisas do Uno e seu retorno ao<br />

Uno. Segundo Proclo, esse movimento duplo<br />

consta <strong>de</strong> três momentos: l s a permanência<br />

imutável da Causa em si mesma; 2- o provir do<br />

ser <strong>de</strong>rivado que, pela sua semelhança com a<br />

causa, fica ligada a ela ao mesmo tempo em<br />

que <strong>de</strong>la se afasta; 3 Q o retorno ou a conversão<br />

do ser <strong>de</strong>rivado à sua causa originária (Inst.<br />

theol, 29-3D- Desse modo, diz Hegel, Proclo<br />

"não se limita aos momentos abstratos da<br />

tría<strong>de</strong>, mas consi<strong>de</strong>ra as três <strong>de</strong>terminações<br />

abstratas do absoluto, cada uma por si, como<br />

totalida<strong>de</strong> da tría<strong>de</strong>, obtendo assim uma tría<strong>de</strong><br />

real" (Geschichte <strong>de</strong>r Philosophie, ed. Glockner,<br />

III, pp. 73 ss. ).<br />

Na <strong>filosofia</strong> mo<strong>de</strong>rna e contemporânea a<br />

palavra D. tem, na maioria das vezes, o significado<br />

helegiano. Por um lado, esse significado<br />

é conservado pelas numerosas ramificações do<br />

I<strong>de</strong>alismo romântico e por outro é adotado por<br />

pontos <strong>de</strong> vista diferentes, mas que utilizam a<br />

noção em que este se baseia. Na primeira direção,<br />

po<strong>de</strong>-se observar que a chamada "reforma"<br />

da D. hegeliana, <strong>de</strong> cuja autoria Gentile se<br />

vangloriou, foi simplesmente a distinção entre<br />

a D. do "pensado", do objeto do pensamento,<br />

e a D. do "ato pensante" da consciência ou do<br />

Espírito absoluto. Mas cada uma <strong>de</strong>ssas D. distinguidas<br />

por Gentile configura-se como síntese<br />

dos opostos: síntese <strong>de</strong> opostas objetivida<strong>de</strong>s<br />

objetivamente tais (D. do pensador),<br />

síntese do eu e do não-eu (D. do pensante)<br />

(Spirito come atto puro, VIII, 6). Mas com<br />

isso não se inova o conceito <strong>de</strong> D. Como também<br />

não se inova com a distinção, estabelecida<br />

por Croce, entre o "nexo dos distintos"<br />

(isto é, entre as várias categorias do pensar, do<br />

agir e das suas formas) e a "D. dos opostos", que<br />

seria a unida<strong>de</strong> e a oposição entre belo e feio,<br />

verda<strong>de</strong>iro e falso, bem e mal, útil e inútil, no<br />

seio <strong>de</strong> cada forma espiritual (Lógica, I, cap. 6).<br />

Por outro lado, a noção <strong>de</strong> D. foi utilizada por<br />

Marx, Engels e seus discípulos no mesmo sentido<br />

atribuído por Hegel, mas sem o significado<br />

i<strong>de</strong>alista que recebera no sistema <strong>de</strong> Hegel. O<br />

que Marx censurava no conceito hegeliano era<br />

que a D., para Hegel, é consciência e permanece<br />

na consciência, não alcançando nunca o<br />

objeto, a realida<strong>de</strong>, a natureza, a não ser no<br />

pensamento e como pensamento. Segundo<br />

Marx toda a <strong>filosofia</strong> hegeliana vive na "abstra-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!