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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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ESTÉTICA 372 ESTÉTICA<br />

da visão, algumas vezes adotou essa noção da<br />

arte como conhecimento. Assim, p. ex., K.<br />

Fiedler disse: "Só a verda<strong>de</strong> e o conhecimento<br />

parecem ser ocupações dignas do homem, e<br />

se quisermos dar à arte um lugar entre as mais<br />

elevadas tendências do espírito será preciso<br />

indicar como objetivo seu apenas o impulso<br />

para a verda<strong>de</strong>, o impulso para o conhecimento"<br />

(Aphorismen, em Schriften überKunst, 1914,<br />

II, 8, pp. 147 ss.).<br />

E) A inclusão da arte na esfera da ativida<strong>de</strong><br />

prática é a tese explícita <strong>de</strong> Aristóteles. Dada a<br />

gran<strong>de</strong> divisão entre ciências teoréticas ou<br />

cognoscitivas, que têm por objeto o necessário,<br />

e ciências praticas, que têm por objeto o possível,<br />

para Aristóteles a arte pertence ao domínio<br />

prático e constitui o objeto da poética, ou seja,<br />

da ciência da produção, enquanto a outra subdivisão<br />

da prática é a ciência da ação (Et. nic,<br />

VI, 4, 1140 a 1). Não obstante a forte influência<br />

<strong>de</strong> Aristóteles (ou talvez porque essa influência<br />

tenha sido anulada pela outra a que já nos<br />

referimos), a concepção da arte como ativida<strong>de</strong><br />

prática raramente voltou na história da estética.<br />

Po<strong>de</strong> ser incluída nesse tópico a concepção<br />

da arte como ativida<strong>de</strong> lúdica, exposta pela<br />

primeira vez por H. Spencer, que consi<strong>de</strong>rou a<br />

arte como uma ativida<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>svinculou<br />

<strong>de</strong> sua finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>de</strong>stramento biológico<br />

e tornou-se fim em si mesmo (Principies of<br />

Psychology, 1855, §§ 535-36). Com algumas variantes,<br />

essa teoria foi retomada por K. Groos,<br />

que associou a arte à "experiência sensorial<br />

lúdica" (Spiele <strong>de</strong>s Menschen, 1889), mas foi sobretudo<br />

Nietzsche quem insistiu no caráter prático<br />

da arte, vendo nela uma manifestação da<br />

vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência. Segundo Nietzsche, a arte<br />

está condicionada por um sentimento <strong>de</strong> força<br />

e <strong>de</strong> plenitu<strong>de</strong> como o que se verifica na embriaguez.<br />

A beleza é a expressão <strong>de</strong> uma vonta<strong>de</strong><br />

vitoriosa, <strong>de</strong> uma coor<strong>de</strong>nação mais intensa,<br />

<strong>de</strong> uma harmonia <strong>de</strong> todas as vonta<strong>de</strong>s<br />

violentas, <strong>de</strong> um equilíbrio perpendicular infalível:<br />

"A arte correspon<strong>de</strong> aos estados <strong>de</strong> vigor<br />

animal. É, por um lado, um excesso <strong>de</strong> constituição<br />

vigorosa que transborda para o mundo<br />

das imagens e dos <strong>de</strong>sejos; por outro, é a excitação<br />

das funções animais, por meio das imagens<br />

e dos <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> uma vida intensa; é a<br />

exaltação do sentimento da vida e um estimulante<br />

à vida" (WillezurMacht, ed. 1901, § 361).<br />

É essencial à arte a perfeição do ser, o encaminhamento<br />

do ser para a plenitu<strong>de</strong>; a arte é<br />

essencialmente a afirmação, a divinização da<br />

existência. O estado apolíneo (v.) nada mais é<br />

que a resultante extrema da embriaguez dionisíaca:<br />

é o repouso <strong>de</strong> certas sensações extremas<br />

<strong>de</strong> embriaguez.<br />

O A inclusão da arte na esfera da sensibilida<strong>de</strong><br />

é uma tese platônica que reaparece no<br />

séc. XVIII com inversão <strong>de</strong> sinal. Platão confinara<br />

a arte à esfera da aparência sensível e a<br />

caracterizara pela recusa <strong>de</strong> sair <strong>de</strong>ssa esfera<br />

com o uso do cálculo e da medida (Rep. X, 602<br />

c-d). Mas no séc. XVIII, a noção <strong>de</strong> arte como<br />

sensibilida<strong>de</strong> não é mais diminuição ou con<strong>de</strong>nação:<br />

a arte aparece como a perfeição da sensibilida<strong>de</strong>.<br />

O nascimento e a elaboração do<br />

conceito <strong>de</strong> gosto (v.), paralelamente ao nascimento<br />

e à elaboração da categoria sentimento<br />

(v.) condiciona a nova apreciação da esfera da<br />

sensibilida<strong>de</strong>, própria da <strong>filosofia</strong> dos setecentistas,<br />

e a inclusão das artes nessa esfera.<br />

Baumgarten achava que "o objetivo da E. é a<br />

perfeição do conhecimento sensível enquanto<br />

tal" e que essa perfeição é a beleza (Aesthetica,<br />

1750-58, § 14). É bem verda<strong>de</strong> que ele consi<strong>de</strong>rava<br />

as representações E. como representações<br />

claras, mas confusas, e assim estabelecia<br />

uma diferença só <strong>de</strong> grau entre estas e as<br />

representações racionais (que são claras t distintas):<br />

o que, como Kant <strong>de</strong>veria observar<br />

freqüentemente, não é uma distinção suficiente<br />

entre sensibilida<strong>de</strong> e inteligência (Crít. R. Pura,<br />

§ 8; cf. Crít. do Juízo, Intr., § III). Mas é também<br />

verda<strong>de</strong> que, muito embora com conceitos imperfeitos,<br />

Baumgarten tinha em mira reivindicar<br />

a autonomia da esfera sensível. Viço incluía<br />

a poesia nessa esfera, em oposição a tudo o<br />

que "sobre a origem da poesia se disse, primeiro<br />

por Platão, <strong>de</strong>pois por Aristóteles, até os nossos<br />

Patrizi, Scaligeri, Castelvetri" (Sc. nuova,<br />

1744, II, Delia metafísica poética). Segundo<br />

Viço, a tese <strong>de</strong>sses autores era da poesia como<br />

"sabedoria oculta", ou seja, "metafísica raciocii<br />

nada e abstraída", ao passo que a tese <strong>de</strong> Viço<br />

era <strong>de</strong> que a poesia fora metafísica "sentida e<br />

imaginada", tal como podia ocorrer em homens<br />

"que eram <strong>de</strong> nulo raciocínio, mas <strong>de</strong><br />

sentidos robustos e vigorosíssimas fantasias"<br />

(Ibid., 1744, II, Delia metafísica poética). Ora,<br />

segundo Viço, metafísica (isto é, conhecimento)<br />

e poesia opõem-se totalmente: aquela purifica<br />

a mente dos preconceitos da infância, esta<br />

neles imerge e <strong>de</strong>rrama a mente; aquela resiste<br />

ao juízo dos sentidos, esta faz <strong>de</strong>les a sua<br />

norma principal; aquela <strong>de</strong>bilita a fantasia, esta<br />

a requer robusta; enfim, aquela só confere pen-<br />

L

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