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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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VONTADE 1009 VONTADE<br />

vida mais aceitável e. às vezes, é posto em ser<br />

pela própria fé (The Will to Believe, 1897).<br />

2" Por outro lado, a V. às vezes foi i<strong>de</strong>ntificada<br />

com o princípio da ação em geral, ou seja,<br />

com a apetiçào. O primeiro a expor esse conceito<br />

generalizado da V. foi S. Agostinho, segundo<br />

quem "a vonta<strong>de</strong> está em todos os atos dos<br />

homens; aliás, todos os atos nada mais são que<br />

vonta<strong>de</strong>" (Decir. Dei, XIV. 6). S. Anselmo repetia<br />

essa noção (Libero arbítrio, 14, 19). que<br />

na ida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna foi aceita por Descartes.<br />

Este, assim como S. Agostinho, chamou <strong>de</strong> V.<br />

todas as ações da alma, em oposição às paixões:<br />

"O que chamo <strong>de</strong> ações são todas as<br />

nossas V., porque sentimos que elas vêm diretamente<br />

do nosso espirito, e parece que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />

só <strong>de</strong>le, enquanto as afeições são todas<br />

as percepções ou conhecimentos que se<br />

encontram em nós mas não foram produzidos<br />

por nossa alma, que, portanto, os recebeu das<br />

coisas representadas" (Pass. <strong>de</strong> 1'âme, I, 17).<br />

Hobbes faz uma crítica explícita à noção tradicional:<br />

"Não 6 boa a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> V. como<br />

apetite racional, comumente proferida pelas<br />

escolas. Pois se fosse, não po<strong>de</strong>riam existir<br />

atos voluntários contrários à razão. (...) Mas se,<br />

em lugar <strong>de</strong> apetite racional, dissermos apetite<br />

resultante cie <strong>de</strong>liberação anterior, então a V.<br />

será o último apetite a <strong>de</strong>liberar" (Leriath.. I, 6).<br />

O último apetite é o mais próximo da ação, ao<br />

qual a ação se segue. Desse ponto <strong>de</strong> vista, a V.<br />

humana não é diferente da apetiçào animal (De<br />

coip., 2T, § 13). De modo análogo, Locke <strong>de</strong>finia<br />

a V, como "o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> começar ou não<br />

começar, continuar ou interromper certas ações<br />

do nosso espírito, ou certos movimentos do<br />

nosso corpo, simplesmente com um pensamento<br />

ou com a preferência do próprio espírito"<br />

(Hnsaio, II, 21, 5). F. Hume <strong>de</strong>clarava: "Por<br />

V. não entendo outra coisa senão a impressão<br />

interior que sentimos ou <strong>de</strong> que somos cônscios,<br />

quando conscientemente damos origem a<br />

um novo movimento do nosso corpo ou a uma<br />

nova percepção do nosso espírito" ( Treatise, II,<br />

III. I). Hume negava também qualquer influência<br />

da razão sobre a V. assim entendida, reduzindo<br />

as chamadas voliçòes racionais às emoções<br />

tranqüilas, ligadas a instintos originários<br />

da natureza humana (como benevolência e<br />

ressentimento, amor pela vida, gentileza para a<br />

criança) ou ao apetite geral pelo bem e a aversão<br />

ao mal (Ibid, II, III, 3). Muito semelhante<br />

a esta é a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Condillac: "Por V. se<br />

enten<strong>de</strong> um <strong>de</strong>sejo absoluto, em virtu<strong>de</strong> do qual<br />

pensamos que a coisa <strong>de</strong>sejada está em nosso<br />

po<strong>de</strong>r" (Traité <strong>de</strong>s sensations. I. 3. 9). Concepções<br />

muito semelhantes encontram-se freqüentemente<br />

nos iluministas e nos i<strong>de</strong>ólogos do séc.<br />

XVIII e do início do séc. XIX. Mach retomava<br />

essa concepção (Popidárwissenschaftlische<br />

Vorlesioigen, 1896, p. 72), e Dewey repetia<br />

quase literalmente a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Hobbes ao<br />

dizer: "A V. não é algo oposto às conseqüências<br />

ou separado <strong>de</strong>las. É a cansa das conseqüências;<br />

é a causação em seu aspecto pessoal;<br />

O aspecto que prece<strong>de</strong> imediatamente a ação"<br />

(Hiü)iau Sature and Conduct, p. 44). A mesma<br />

tendência geral pertence a interpretação da<br />

V. como modo <strong>de</strong> ser do cuidado (vj, segundo<br />

Hei<strong>de</strong>gger, sendo o cuidado a manifestação<br />

fundamental da existência do homem no munclo,<br />

que consiste propriamente em preocuparse<br />

com as coisas e cuidar dos outros (Seiu und<br />

Zeit, § 41). Por outro lado, certas interpretações<br />

da psicologia contemporânea po<strong>de</strong>m ser enquadradas<br />

na mesma tendência geral: é o que acontece<br />

com a famosa interpretação <strong>de</strong> McDougall,<br />

segundo a qual a voliçào seria "o apoio ou o<br />

reforço que um <strong>de</strong>sejo ou uma conação recebe<br />

da cooperação <strong>de</strong> um impulso excitado no sistema<br />

dos sentimentos <strong>de</strong> autoconsi<strong>de</strong>raçâo"<br />

(Introduction to Social Psycology, 1908). Segundo<br />

essas interpretações, <strong>de</strong> fato, seriam<br />

atos voluntários aqueles nos quais o impulso<br />

<strong>de</strong>terminante é constituído por uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

respeito ou <strong>de</strong> exaltação do Eu diante <strong>de</strong> si<br />

mesmo.<br />

Finalmente, nas expressões V. <strong>de</strong> viver e V.<br />

<strong>de</strong> potência, a V. é entendida no sentido mais<br />

geral.<br />

A V. <strong>de</strong> viverque, segundo Schopenhauer, é<br />

o número do mundo, nada tem cie racional: "é<br />

um ímpeto cego, irresistível, que já vemos aparecer<br />

na natureza inorgânica e vegetal, assim<br />

como também na parte vegetativa <strong>de</strong> nossa<br />

própria vida". Portanto, "o que a v. sempre quer<br />

é a vida, justamente porque esta é apenas o<br />

manifestar-se da V. na representação, e é simples<br />

pleonasmo dizer V. <strong>de</strong> viverem vez <strong>de</strong> V."<br />

(Díe Weil. I, § 54).<br />

Analogamente, V. <strong>de</strong> potência é, segundo<br />

Nietzsche. um impulso fundamental que nada<br />

tem <strong>de</strong> causação racional: "A vida, como caso<br />

particular, aspira ao máximo sentimento <strong>de</strong> potência<br />

possível. Aspirar a outra coisa não é senão

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