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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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ESTÉTICA 370 ESTÉTICA<br />

domínio da "prática" e consi<strong>de</strong>rou-a como simples<br />

expediente <strong>de</strong> comunicação: "O artista,<br />

que <strong>de</strong>ixamos a vibrar em imagens expressas<br />

que prorrompem, por infinitos canais, <strong>de</strong> todo<br />

o seu ser, é homem integral e, portanto, também<br />

homem prático; como tal, está atento aos<br />

meios que evitem a dispersão dos resultados<br />

<strong>de</strong> seu trabalho espiritual, ao mesmo tempo<br />

que possibilitam e facilitam a reprodução <strong>de</strong><br />

suas imagens para ele e para os outros; por<br />

isso, realiza atos práticos que servem à obra <strong>de</strong><br />

reprodução. Esses atos, como todo ato prático,<br />

são guiados por conhecimentos e por isso são<br />

chamados <strong>de</strong> técnicos; e, por serem práticos,<br />

distinguem-se da intuição, que é teórica, e parecem<br />

exteriores a esta, sendo então chamados<br />

<strong>de</strong> físicos, e, quanto mais são fixados e abstraídos<br />

pelo intelecto, mais facilmente são assim<br />

<strong>de</strong>signados" (Breviario di E., em Nuovi saggi di<br />

E., II, pp. 39-40). E Gentile confirmava: "Admitindo-se<br />

que o elemento estético consiste na<br />

subjetivida<strong>de</strong> sentimental que conforma um<br />

pensamento, a representação na qual esse pensamento<br />

se <strong>de</strong>senvolve e atua refere-se unicamente<br />

aos meios técnicos <strong>de</strong> expressão. Alfieri<br />

é o mesmo poeta nos sonetos e nas tragédias,<br />

etc." (Fil. <strong>de</strong>Warte, VII, § 8).<br />

c) Tem-se o conceito <strong>de</strong> arte como construção<br />

quando não se consi<strong>de</strong>ra a ativida<strong>de</strong> E.<br />

como receptivida<strong>de</strong> ou criativida<strong>de</strong> puras, mas como<br />

um encontro entre a natureza e o homem<br />

ou como um produto complexo em que a obra<br />

do homem se acrescenta à da natureza sem <strong>de</strong>struí-la.<br />

Esse foi o conceito <strong>de</strong> arte <strong>de</strong> Kant, que<br />

concebeu a ativida<strong>de</strong> E. como uma forma <strong>de</strong><br />

juízo reflexivo, ou seja, uma das formas da<br />

faculda<strong>de</strong> que leva a ver a subordinação das leis<br />

naturais à liberda<strong>de</strong> humana ou o finalismo da<br />

natureza em relação ao homem. Para Kant, o<br />

finalismo da natureza não é "um conceito da natureza"<br />

nem "um conceito da liberda<strong>de</strong>", ou<br />

seja, não pertence só à natureza nem só ao homem,<br />

mas ao encontro entre a natureza e o<br />

homem, pelo fato <strong>de</strong> que é na natureza que<br />

o homem <strong>de</strong>ve realizar seus fins, experimentando<br />

um sentimento <strong>de</strong> prazer (libertação <strong>de</strong> uma necessida<strong>de</strong>)<br />

quando essa realização lhe aparece<br />

possível, quando a natureza se mostra capaz <strong>de</strong><br />

servir aos fins humanos (Crít. do Juízo, Intr., V).<br />

No mesmo conceito <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> E., Kant incluía<br />

assim o <strong>de</strong> encontro entre o mecanismo natural<br />

e a liberda<strong>de</strong> humana: encontro no qual a arte<br />

não prescin<strong>de</strong> da natureza, mas a subordina a si,<br />

e o homem frui <strong>de</strong>ssa subordinação como <strong>de</strong><br />

uma necessida<strong>de</strong> aplacada. O conceito pelo<br />

qual Kant exprimiu com mais freqüência o caráter<br />

construtivo (nem imitativo nem criativo) da<br />

arte foi a ativida<strong>de</strong> lúdica. Como ativida<strong>de</strong> liberal<br />

ou não mercenária, a arte é "um simples divertimento,<br />

ou seja, uma ocupação <strong>de</strong> per si<br />

agradável, que não necessita <strong>de</strong> outro objetivo"<br />

(Ibid., § 43). Depois, a noção <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> lúdica<br />

foi empregada para <strong>de</strong>finir algumas artes em<br />

particular, especialmente a eloqüência, a poesia<br />

e a música (Ibid., § 51). Tem esse mesmo significado<br />

o conceito <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> lúdica na doutrina<br />

<strong>de</strong> Schiller. O homem, sendo ao mesmo tempo<br />

natureza e razão, é dominado por duas tendências<br />

contrastantes: a tendência materiale a tendência<br />

formal; essas tendências são conciliadas<br />

pela tendência ao divertimento, que visa realizar<br />

a forma viva, isto é, a beleza (Über die<br />

ãsthetische Erziehung <strong>de</strong>s Menschen, 1793-95,<br />

XV; trad. it., p. 71). A tendência à ativida<strong>de</strong><br />

lúdica harmoniza a liberda<strong>de</strong> humana com a necessida<strong>de</strong><br />

natural. "Com liberda<strong>de</strong> ilimitada", diz<br />

Schiller, "o homem po<strong>de</strong> reunir as coisas que a<br />

natureza separou e po<strong>de</strong> separar as que a natureza<br />

uniu... Mas só tem esse direito <strong>de</strong> soberania<br />

no mundo das aparências, no reino irreal da<br />

imaginação e só enquanto se abstém escrupulosamente<br />

<strong>de</strong> afirmar sua existência no campo<br />

da teoria e <strong>de</strong> querer produzir sua existência<br />

efetiva" (Ibid., XXVI, p. 134).<br />

Portanto, a aparência E. (ou ativida<strong>de</strong> lúdica)<br />

é o domínio em que o homem e a natureza<br />

colaboram, a natureza limitando e condicionando<br />

a liberda<strong>de</strong> humana e esta, por sua vez, compondo<br />

e unificando os dados naturais. Esse é o<br />

conceito construtivo, que não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> aparecer<br />

esporadicamente mesmo na E. romântica<br />

do séc. XIX. O mais volumoso (senão o maior)<br />

tratado sobre essa E., E. ou ciência do belo<br />

(1846-57) <strong>de</strong> F. T. Vischer, apesar <strong>de</strong> aceitar a<br />

Idéia hegeliana, isto é, a Razão autoconsciente<br />

como princípio do mundo da arte, dizia que a<br />

Idéia estava em luta incessante contra obstáculos<br />

e influências que Vischer chamava <strong>de</strong> "reino<br />

do acaso". Segundo Vischer, toda a vida do<br />

espírito é "a história da anulação e da assimilação<br />

do acaso" (Àsthetik o<strong>de</strong>r Wissenschaft <strong>de</strong>s<br />

Schónen, § 41), mas é só na beleza que o acaso<br />

não é <strong>de</strong>struído, mas assimilado e organizado.<br />

Isso eqüivalia a ver na arte não uma obra <strong>de</strong><br />

criação, como a concebera Hegel, mas <strong>de</strong> construção<br />

condicionada.<br />

Na E. contemporânea, predomina o conceito<br />

<strong>de</strong> arte como construção. Foi explicitamente

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