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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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LINGUAGEM 622 LINGUAGEM<br />

Wittgenstein o caráter apofântico da L. em relação<br />

à totalida<strong>de</strong> do ser. Nesse sentido, <strong>de</strong>nominou<br />

a L. <strong>de</strong> "casa do ser". E acrescentou: "Falar<br />

em casa do ser não significa absolutamente<br />

transferir a imagem da casa para o ser; um dia,<br />

partindo <strong>de</strong> um pensamento a<strong>de</strong>quado da essência<br />

do ser, será possível chegar a compreen<strong>de</strong>r<br />

o que significam casa e habitar ("Brief über<br />

<strong>de</strong>n Humanismus", em Platos Lehre von <strong>de</strong>r<br />

Wahrheit, 1947, p. 112). Em outros termos, a L.<br />

é a revelação imediata do ser, e o homem tem<br />

acesso ao ser através da L.<br />

3 a A terceira doutrina fundamental da L. interpreta-a<br />

como um instrumento, como produto<br />

<strong>de</strong> escolhas repetidas e repetíveis. Essa doutrina<br />

foi exposta pela primeira vez por Platão.<br />

Diante das duas teses opostas — convencionalida<strong>de</strong><br />

e naturalida<strong>de</strong> da L. —, Platão evita <strong>de</strong>cidir-se<br />

em favor <strong>de</strong> uma das duas. Em Crãtilo<br />

afirma: ''Gostaria que, na medida do possível,<br />

os nomes fossem semelhantes às coisas, mas<br />

temo que — como diz Hermógenes — essa<br />

atração da semelhança nos leve para um terreno<br />

escorregadio e, assim, seja necessário lançar<br />

mão também <strong>de</strong> um meio mais grosseiro, que<br />

é a convenção, para certificar-nos da exatidão<br />

dos nomes" (Crat, 435 c). Para Platão, os nomes<br />

dos números, p. ex., dificilmente po<strong>de</strong>riam<br />

ser consi<strong>de</strong>rados naturais no sentido <strong>de</strong> serem<br />

semelhantes ao que indicam. Mas se<br />

nem a convenção nem a natureza, ou seja,<br />

se nem a <strong>de</strong>ssemelhança nem a semelhança<br />

entre a palavra e a coisa constituem o significado,<br />

o que é então que o constitui? O uso.<br />

Platão diz: "Se o uso não é uma convenção, seria<br />

melhor dizer que não é a semelhança a maneira<br />

como as palavras significam, mas antes o<br />

uso: este, ao que parece, po<strong>de</strong> significar tanto<br />

por meio da semelhança quando da <strong>de</strong>ssemelhança"<br />

(Crat., 435 a-b). Platão expressou aqui<br />

uma tese fundamental da lingüística mo<strong>de</strong>rna:<br />

é somente o emprego que estabelece, ou melhor,<br />

constitui o significado das palavras. Mas<br />

essa tese pressupõe outra, do caráter instrumental<br />

da L, que Platão expressou ao dizer<br />

que a L. é um instrumento e que, como todo<br />

instaimento, <strong>de</strong>ve ajustar-se ao seu objetivo<br />

(Crat, 387 a). Desse ponto <strong>de</strong> vista, o uso é a<br />

escolha repetida ou convalidada que levou a<br />

forjar <strong>de</strong>terminado instrumento lingüístico; e,<br />

assim como todos os outros instrumentos, os<br />

lingüísticos também po<strong>de</strong>m resultar mais ou<br />

menos perfeitos e a<strong>de</strong>quados à sua finalida<strong>de</strong>.<br />

Justifica-se assim aquilo que, para Platão, é a<br />

tese filosófica fundamental acerca da L: a falibilida<strong>de</strong><br />

da L, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dizer o que<br />

não é (Sof., 261 b). A característica comum das<br />

duas doutrinas prece<strong>de</strong>ntes, como vimos, é a<br />

negação <strong>de</strong>ssa tese. A tese do convencionalismo<br />

nega que a L. possa incluir o erro porque<br />

uma convenção só po<strong>de</strong> ter o mesmo valor <strong>de</strong><br />

uma outra. A tese da naturalida<strong>de</strong> nega que a<br />

L possa incluir o erro porque <strong>de</strong>ve reconhecer<br />

que a L. representa, <strong>de</strong> qualquer forma,<br />

aquilo que é, estando portanto sempre no<br />

campo da verda<strong>de</strong>. Ambas as teses excluem<br />

que a L. possa ser julgada ou que o juízo sobre<br />

a correção tenha sentido. Ao contrário, a<br />

tese da L. como operação, uso, escolha, inclui<br />

essa possibilida<strong>de</strong>, pois que vê nela o<br />

produto <strong>de</strong> operações <strong>de</strong>stinadas a constituir<br />

um instrumento eficaz e não consi<strong>de</strong>ra infalível<br />

o sucesso <strong>de</strong>ssas operações. O fundamento<br />

objetivo <strong>de</strong>ssa possibilida<strong>de</strong> é que "o<br />

discurso nasce da união recíproca das espécies"<br />

(Sof, 259 d), e que as espécies não estão<br />

todas unidas nem todas <strong>de</strong>sunidas, mas algumas<br />

po<strong>de</strong>m juntar-se e outras não. As possibilida<strong>de</strong>s<br />

da L, portanto, são limitadas pelas possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> combinação das espécies ou formas<br />

do ser (Sof., 262 c).<br />

Essa posição <strong>de</strong> Platão foi reproduzida por<br />

Leibniz: ''Sei que se costuma dizer nas escolas e<br />

em todo lugar que os significados das palavras<br />

são arbitrários (ex instituto), e é verda<strong>de</strong> que<br />

não são <strong>de</strong>terminados por uma necessida<strong>de</strong><br />

natural, mas são por força <strong>de</strong> razões naturais,<br />

nas quais o acaso <strong>de</strong>sempenha algum papel, e<br />

às vezes por razões morais, nas quais se inclui<br />

a escolha" (Nouv. ess., III, 2, 1). Her<strong>de</strong>r partia<br />

da mesma consi<strong>de</strong>ração preliminar e <strong>de</strong>finia<br />

como abstração a escolha que se faz <strong>de</strong> uma<br />

qualida<strong>de</strong> do objeto com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> darlhe<br />

um nome. "O homem põe em ação a reflexão<br />

não só quando percebe vivida e claramente<br />

todas as qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um objeto, mas também<br />

quando po<strong>de</strong> reconhecer uma ou mais<br />

<strong>de</strong>las como qualida<strong>de</strong>s distintivas. (...) E com<br />

que meios efetua tal reconhecimento? Através<br />

da sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abstração" (Werke, ed.<br />

Suphan, V, p. 35). Foi a partir <strong>de</strong>ssa tradição<br />

que Humboldt formulou a doutrina que <strong>de</strong>pois<br />

exerceria tanta influência sobre a mo<strong>de</strong>rna<br />

ciência da L. Desse ponto <strong>de</strong> vista, a formação<br />

dos instrumentos lingüísticos é a formação <strong>de</strong><br />

conexões, <strong>de</strong> symploké (como dizia Platão);<br />

portanto, a L. não é um complexo atomístico<br />

<strong>de</strong> palavras, mas é discurso organizado. Hum-

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