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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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BELO 106 BELO<br />

naquilo que os antigos chamavam <strong>de</strong> poética,<br />

isto é, ciência ou arte da produção. Po<strong>de</strong>m ser<br />

distinguidos cinco conceitos fundamentais <strong>de</strong><br />

B., <strong>de</strong>fendidos e ilustrados tanto <strong>de</strong>ntro quanto<br />

fora da estética: l e o B. como manifestação do<br />

bem; 2 S o B. como manifestação do verda<strong>de</strong>iro;<br />

3 Q o B. como simetria; 4 Q o B. como perfeição<br />

sensível; 5 Q o B. como perfeição expressiva.<br />

1 Q O B. como manifestação do bem é a teoria<br />

platônica do belo. Segundo Platão, só à beleza,<br />

entre todas as substâncias perfeitas, "coube<br />

o privilégio <strong>de</strong> ser a mais evi<strong>de</strong>nte e a mais<br />

amável" (Fed., 250 e). Por isso, na beleza e no<br />

amor que ela suscita, o homem encontra o ponto<br />

<strong>de</strong> partida para a recordação ou a contemplação<br />

das substâncias i<strong>de</strong>ais (ibid., 251 a). A repetição<br />

<strong>de</strong>ssa doutrina do B. no neoplatonismo<br />

assume caráter teológico ou místico porque o<br />

bem ou as essências i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> que falava Platão<br />

são hipostatizadas e unificadas por Plotino no<br />

Uno, isto é, em Deus; o Uno e Deus são <strong>de</strong>finidos<br />

como "o Bem". "É o Bem", diz Plotino,<br />

"que dá beleza a todas as coisas", <strong>de</strong> modo que<br />

o B., em sua pureza, é o próprio bem e todas<br />

as outras belezas são adquiridas, mescladas e<br />

não primitivas: porque vêm <strong>de</strong>le (Enn., 1, 6, 7).<br />

Essa forma mística ou teológica nem sempre<br />

reveste a doutrina do B. como manifestação do<br />

bem, mas é óbvio que semelhante doutrina é<br />

explícita ou implicitamente pressuposta cada<br />

vez que se propõe a função da arte no aperfeiçoamento<br />

moral.<br />

2 e A doutrina do B. como manifestação da<br />

verda<strong>de</strong> é própria do Romantismo. "O B.", dizia<br />

Hegel, "<strong>de</strong>fine-se como a aparição sensível<br />

da Idéia." Isso significa que beleza e verda<strong>de</strong><br />

são a mesma coisa e que se distinguem só porque,<br />

enquanto na verda<strong>de</strong> a Idéia tem manifestação<br />

objetiva e universal, no B. ela tem<br />

manifestação sensível (Vorlesungen über die<br />

Ãsthetik, ed. Glockner, I, p. 160). Raramente,<br />

fora <strong>de</strong> Hegel, esse ponto <strong>de</strong> vista foi apresentado<br />

com tanta <strong>de</strong>cisão, mas reaparece em quase<br />

todas as formas da estética romântica, constituindo,<br />

indubitavelmente, uma <strong>de</strong>finição típica<br />

do belo.<br />

3 Q A doutrina do B. como simetria foi apresentada<br />

pela primeira vez por Aristóteles: o B.<br />

é constituído pela or<strong>de</strong>m, pela simetria e por<br />

uma gran<strong>de</strong>za capaz <strong>de</strong> ser abarcada, em seu<br />

conjunto, por um só olhar (Poet., 7, 1.450 b 35<br />

ss.). Essa doutrina foi aceita pelos estóicos, citados<br />

por Cícero: "Assim como no corpo existe<br />

uma harmonia <strong>de</strong> feições bem proporcionadas,<br />

unida a um belo colorido, que se chama beleza,<br />

também para a alma a uniformida<strong>de</strong> e a<br />

coerência das opiniões e dos juízos, unida a<br />

certa firmeza e imutabilida<strong>de</strong>, que é conseqüência<br />

da virtu<strong>de</strong> ou contém a própria essência<br />

da virtu<strong>de</strong>, chama-se beleza" (Tusc, IV, 13,<br />

31). Essa doutrina fixou-se por longo tempo na<br />

tradição. Foi adotada pelos escolásticos (p. ex.,<br />

S. TOMÁS, S. Tb., I, q. 39, aa. 8) e por muitos<br />

escritores e artistas do Renascimento, quando<br />

quiseram ilustrar o que procuravam fazer com<br />

a sua arte: p. ex., Leonardo em Trattato <strong>de</strong>lia<br />

pittura.<br />

4 e É com a doutrina do B. como perfeição<br />

sensível que nasce a Estética. "Perfeição sensível"<br />

significa, por um lado, "representação<br />

sensível perfeita" e, por outro, "prazer que acompanha<br />

a ativida<strong>de</strong> sensível". No primeiro sentido,<br />

é concebida principalmente pelos analistas<br />

alemães e, em particular, por Baumgarten<br />

(Aesthetica, 1750, §§ 14-18). No segundo sentido,<br />

foi utilizada sobretudo pelos analistas ingleses,<br />

em primeiro lugar por Hume (Essay Moral<br />

and Political, 1741) e porBurke (A Philosophical<br />

Inquiry into the Origin ofOur I<strong>de</strong>as ofthe Sublime<br />

and Beautiful, 1756), preocupados ambos<br />

em <strong>de</strong>terminar os caracteres que fazem do<br />

prazer sensível aquilo que se costuma chamar<br />

<strong>de</strong> "beleza". Kant unificou essas duas <strong>de</strong>finições<br />

complementares <strong>de</strong> B. e insistiu naquilo<br />

que até hoje é consi<strong>de</strong>rado seu caráter fundamental,<br />

isto é, o <strong>de</strong>sinteresse. Conseqüentemente,<br />

<strong>de</strong>finia o B. como "o que agrada universalmente<br />

e sem conceitos" (Crít. do Juízo, § 6) e insistia<br />

na in<strong>de</strong>pendência entre prazer do B. e qualquer<br />

interesse, tanto sensível quanto racional.<br />

"Cada um chama <strong>de</strong> agradável o que o satisfaz;<br />

<strong>de</strong> Belo, o que lhe agrada; <strong>de</strong> bom o que aprecia<br />

ou aprova, aquilo a que confere um valor<br />

objetivo. O prazer também vale para os animais<br />

irracionais; a beleza, só para os homens, em<br />

sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seres animais mas racionais, e<br />

não só por serem racionais, mas por serem, ao<br />

mesmo tempo, animais. O bom tem valor para<br />

todo ser racional em geral" (Crít. dojuizo, § 5).<br />

Kant distinguiu além disso o B. livre (pulchritudo<br />

vaga) e o B. a<strong>de</strong>rente (pulchritudo adhaerens).<br />

O primeiro não pressupõe um conceito daquilo<br />

que o objeto <strong>de</strong>ve ser; p. ex., as flores são<br />

belezas naturais livres. O segundo pressupõe<br />

esse conceito; p. ex., a beleza <strong>de</strong> um cavalo, <strong>de</strong><br />

uma igreja, etc. pressupõe o conceito da finalida<strong>de</strong><br />

a que tais objetos são <strong>de</strong>stinados (ibid.,<br />

§16).

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