22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

CAUSALIDADE 125 CAUSALIDADE<br />

coisa é, ou torna-se, o que é. Nesse sentido,<br />

afirma que a verda<strong>de</strong>ira causa <strong>de</strong> uma coisa é<br />

aquilo que, para a coisa, é "o melhor", isto é, a<br />

idéia ou o estado perfeito da própria coisa; p.<br />

ex., a causa do dois é a dualida<strong>de</strong>; do gran<strong>de</strong>,<br />

a gran<strong>de</strong>za; do belo, a beleza. De modo geral, o<br />

bem é a causa daquilo que existe <strong>de</strong> bom nas<br />

coisas e das próprias coisas (Fed, 97 c ss.,<br />

espec. 101 c). Ao lado <strong>de</strong>ssas causas "primeiras"<br />

ou "divinas", Platão admitiu <strong>de</strong>pois as concausas,<br />

que são as limitações encontradas pela<br />

obra criadora do <strong>de</strong>miurgo e que constituem os<br />

elementos <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> do próprio mundo<br />

(Tim., 69 a). Mas a primeira e verda<strong>de</strong>ira análise<br />

da noção <strong>de</strong> causa encontra-se em Aristóteles.<br />

Este afirma, pela primeira vez (Fís., I,<br />

1, 184 a 10), que conhecimento e ciência consistem<br />

em dar-se conta das causas e nada mais<br />

são além disso. Mas, ao mesmo tempo, nota<br />

que, se perguntar a causa significa perguntar o<br />

porquê <strong>de</strong> uma coisa, esse porquê po<strong>de</strong> ser diferente<br />

e há, portanto, várias espécies <strong>de</strong> causas.<br />

Num primeiro sentido, é causa aquilo <strong>de</strong><br />

que uma coisa é feita e que permanece na<br />

coisa, como, p. ex., o bronze é causa da estátua<br />

e a prata é causa da taça. Num segundo<br />

sentido, a causa é a forma ou o mo<strong>de</strong>lo, isto é,<br />

a essência necessária ou substância (v.) <strong>de</strong> uma<br />

coisa. Nesse sentido, é causa do homem a natureza<br />

racional que o <strong>de</strong>fine. Num terceiro sentido,<br />

é causa aquilo que dá início à mudança ou<br />

ao repouso: p. ex., o autor <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>cisão é a<br />

causa <strong>de</strong>la, o pai é causa do filho e, em geral,<br />

o que produz a mudança é causa da mudança.<br />

Num quarto sentido, a causa é o fim e, p. ex.,<br />

a saú<strong>de</strong> é a causa <strong>de</strong> se passear (Ibid., II, 3, 194<br />

b 16; Mel, V, 2, 1013 a-b). Causa material,<br />

causa formal, causa eficiente e causa final são,<br />

portanto, todas as causas possíveis, segundo<br />

Aristóteles. Três teoremas fundamentais esclarecem<br />

essa teoria aristotélica da causa. São: l 9<br />

a contemporaneida<strong>de</strong> da causa atual e <strong>de</strong> seu<br />

efeito, como, p. ex., da ação construtora do<br />

arquiteto e da casa; essa contemporaneida<strong>de</strong><br />

não se verifica na causa potencial; 2 9 a hierarquia<br />

das causas, pela qual é preciso procurar<br />

sempre a causa mais alta: p. ex., o homem<br />

constrói porque é construtor, mas é construtor<br />

pela arte <strong>de</strong> construir; essa arte é por isso a<br />

causa mais alta; 3 a a homogeneida<strong>de</strong> da causa<br />

e do efeito, pela qual os gêneros são causa dos<br />

gêneros, as coisas particulares das coisas particulares,<br />

o escultor da estátua, as coisas atuais<br />

das coisas atuais, as coisas possíveis das coisas<br />

possíveis {Fís., II, 3, 195 b 16 ss.).<br />

Mas a advertência fundamental é que as<br />

quatro causas não estão no mesmo plano: há<br />

uma causa primeira e fundamental, um porquê<br />

privilegiado, que é dado pela essência racional<br />

da coisa, pela substância (De part. an., I, 1,<br />

639 b 14). A substância é a essência necessária,<br />

eternamente atual, princípio <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>, portanto<br />

também do <strong>de</strong>vir enquanto passagem da<br />

potência ao ato. Da substância <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> a necessida<strong>de</strong><br />

causai. "Nas coisas artificiais", diz<br />

Aristóteles, "sendo a causa essa tal coisa, é preciso,<br />

necessariamente, que essas outras coisas<br />

sejam feitas ou existam. Assim também na natureza,<br />

se o homem é isto, fará estas coisas, e<br />

se faz estas coisas, acontecer-lhe-ão outras"<br />

(Fís., II, 9, 200 a 35). Em outros termos, a necessida<strong>de</strong><br />

pela qual uma causa qualquer (das<br />

que Aristóteles distingue) age é a própria necessida<strong>de</strong><br />

pela qual uma substância (p. ex., o<br />

homem como animal racional) é o que é. A necessida<strong>de</strong><br />

causai é, portanto, a própria necessida<strong>de</strong><br />

do ser enquanto ser, do ser substancial: a<br />

necessida<strong>de</strong> pela qual o que é não po<strong>de</strong> ser<br />

diferente do que é. A essa necessida<strong>de</strong> escapa<br />

somente o que é aci<strong>de</strong>ntal ou casual (v. ACASO).<br />

A doutrina <strong>de</strong> Aristóteles <strong>de</strong>monstra a estreita<br />

conexão entre a noção <strong>de</strong> causa e a <strong>de</strong> substância.<br />

A causa é o princípio <strong>de</strong> inteligibilida<strong>de</strong><br />

porque compreen<strong>de</strong>r a causa significa compreen<strong>de</strong>r<br />

a organização interna <strong>de</strong> uma substância,<br />

isto é, a razão pela qual uma substância<br />

qualquer (p. ex., o homem, Deus ou a pedra)<br />

é o que é e não po<strong>de</strong> ser ou agir diferentemente.<br />

P. ex., se o homem é "animal racional", o<br />

que ele é ou faz <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da sua substância<br />

assim <strong>de</strong>finida, que opera como força irresistível<br />

para produzir as <strong>de</strong>terminações do seu ser e<br />

do seu agir.<br />

Os estóicos enten<strong>de</strong>ram a causa como força<br />

produtiva, isto é, como "aquilo por cuja ação<br />

nasce um efeito". Segundo Sexto Empírico (Pirr.<br />

hyp., III, 14-15), eles distinguiram as causas<br />

sinéticas, concausais e cooperantes. As sinéticas<br />

são as causas propriamente ditas que,<br />

"quando presentes, está presente o efeito;<br />

quando retiradas ou diminuídas, retira-se ou diminui<br />

também o efeito". As concausais são as<br />

causas que se reforçam mutuamente na produção<br />

<strong>de</strong> um efeito, como no caso <strong>de</strong> dois bois<br />

que puxam o arado. A cooperante é a causa<br />

que produz uma pequena força, em virtu<strong>de</strong><br />

da qual o efeito se produz com facilida<strong>de</strong>:

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!