22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

HISTÓRIA 505 HISTORIA<br />

como medida do progresso na H., mas as<br />

características <strong>de</strong>ssa noção não mudam enquanto<br />

se admite a inevitabilida<strong>de</strong> do progresso.<br />

e) Com a afirmação da inevitabilida<strong>de</strong> do<br />

progresso, o próprio progresso torna-se inconcebível<br />

(como viu Hegel), porque, se a H. é necessária,<br />

cada momento <strong>de</strong>la é tudo o que<br />

<strong>de</strong>ve ser e não po<strong>de</strong> ser melhor nem pior do<br />

que os outros. A concepção da necessida<strong>de</strong> da<br />

H. é a concepção da H. como plano provi<strong>de</strong>ncial.<br />

A noção <strong>de</strong> plano provi<strong>de</strong>ncial está implícita<br />

em todas as formas <strong>de</strong> milenarísmo ou<br />

quiliasmo (v.): toda doutrina <strong>de</strong>sse tipo inclui a<br />

idéia <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento necessário dos feitos<br />

humanos até a consecução <strong>de</strong> um estado <strong>de</strong>finitivo<br />

<strong>de</strong> perfeição. Foi esse, p. ex., o conceito<br />

<strong>de</strong> H. em Orígenes: para ele, os mundos suce<strong>de</strong>m-se<br />

no tempo como escolas nas quais os<br />

seres <strong>de</strong>caídos se reeducam (De princ, III, 6,<br />

3), e o ciclo total da H. é o retorno do mundo a<br />

Deus, que culmina na apocatãstase, na restituição<br />

<strong>de</strong> todos os seres à sua perfeição originária<br />

(Injohann., XX, 7). Mas o primeiro a formular<br />

claramente o conceito <strong>de</strong> plano provi<strong>de</strong>ncial<br />

foi S. Agostinho, que viu na H. a luta entre a cida<strong>de</strong><br />

celeste e a cida<strong>de</strong> terrena: luta <strong>de</strong>stinada<br />

a acabar com o triunfo da cida<strong>de</strong> celeste. Para<br />

esse triunfo, segundo S. Agostinho, Deus faz<br />

que também contribuam o mal e a má vonta<strong>de</strong><br />

{De civ. Dei, XI, 17). Os três períodos em que,<br />

para S. Agostinho, a H. se divi<strong>de</strong> não são mais<br />

que o <strong>de</strong>senvolvimento do plano provi<strong>de</strong>ncial.<br />

No primeiro, os homens vivem sem leise ainda<br />

não há luta contra os bens do mundo. No segundo,<br />

os homens vivem sob a lei e por isso<br />

combatem contra o mundo, mas sào vencidos.<br />

O terceiro período é o tempo da graça, em<br />

que os homens combatem e vencem (Ibid., XIX,<br />

15-26). No séc. XII, a profecia <strong>de</strong> Gioacchino<br />

da Fiore parte do mesmo conceito <strong>de</strong> H. e tem<br />

como mo<strong>de</strong>lo a divisão das ida<strong>de</strong>s feita por<br />

S. Agostinho. Gioacchino acredita que, <strong>de</strong>pois<br />

da ida<strong>de</strong> do Pai, que é a da lei, e da ida<strong>de</strong><br />

do Filho, que é a do Evangelho, virá a ida<strong>de</strong> do<br />

Espírito, que é a da Graça, da inteligência plena<br />

da verda<strong>de</strong> divina (Concórdia novi et veteris<br />

testamento, V, 84, 112).<br />

Todavia, o plano provi<strong>de</strong>ncial da H., embora<br />

infalível e necessário, é, do ponto <strong>de</strong> vista<br />

religioso, imperscrutável em seus <strong>de</strong>talhes. O<br />

homem religioso crê nele e na sua perfeição,<br />

mas sabe que não po<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r os caminhos<br />

pelos quais se vai realizando. Posto dian-<br />

te do mal, confia em que o mal, em última instância,<br />

não triunfará, mas sabe que não po<strong>de</strong> dizer<br />

como isso acontecerá. Quando, no Romantismo,<br />

a doutrina do plano provi<strong>de</strong>ncial da H.<br />

se transforma em doutrina filosófica, o não-saber<br />

religioso transforma-se em certeza racional.<br />

Hegel afirmou muitas vezes que a diferença<br />

entre religião e <strong>filosofia</strong> é que a segunda <strong>de</strong>monstra,<br />

na sua <strong>de</strong>terminação, essa relação<br />

entre Deus e o mundo, esse plano provi<strong>de</strong>ncial,<br />

e a primeira se limita a reconhecê-los<br />

(Ene, § 573; Philosophie <strong>de</strong>r Geschíchte, ed.<br />

Lasson, I, p. 55). Entretanto, o ingresso <strong>de</strong>ssa<br />

noção em <strong>filosofia</strong> <strong>de</strong>ve-se sobretudo a<br />

Fichte. Em Caracteres da Ida<strong>de</strong> Contemporânea<br />

(1806), Fichte afirmava energicamente a<br />

necessida<strong>de</strong> da H. e a sua redução a um plano<br />

provi<strong>de</strong>ncial: "Qualquer coisa que realmente<br />

exista existe por absoluta necessida<strong>de</strong>: e existe<br />

necessariamente na forma precisa em que existe"<br />

(Ibid., IX). E distinguia dois elementos no<br />

processo <strong>de</strong> civilização da espécie humana: um<br />

elemento apriori, que é o plano do mundo ou<br />

or<strong>de</strong>m provi<strong>de</strong>ncial, e um elemento a posteriori,<br />

temporal ou empírico, constituído pelos<br />

fatos. A resultante <strong>de</strong>ssa concepção é que<br />

"Nada é como é porque Deus queira arbitrariamente<br />

assim, mas porque Deus não po<strong>de</strong> manifestar-se<br />

<strong>de</strong> outro modo. Reconhecer isso,<br />

submeter-se humil<strong>de</strong>mente e ser feliz, na consciência<br />

da nossa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> com a força divina,<br />

é tarefa <strong>de</strong> todo homem" (Ibid., IX; trad. it.<br />

Cantoni, p. 67). Com essa distinção, Fichte parece<br />

atribuir certa autonomia (embora fictícia)<br />

aos "fatos"da H., em face do plano provi<strong>de</strong>ncial<br />

<strong>de</strong> que <strong>de</strong>vem participar. Mas mesmo essa<br />

autonomia fictícia dos fatos <strong>de</strong>saparece na doutrina<br />

<strong>de</strong> Hegel: "Deus prevalece, e a H. do<br />

mundo não representa nada além do plano da<br />

providência. Deus governa o mundo: o conteúdo<br />

do seu governo, a execução do seu plano é<br />

a H. universal... A <strong>filosofia</strong> quer conhecer o<br />

conteúdo, a realida<strong>de</strong> da idéia divina e justificar<br />

a realida<strong>de</strong> vilipendiada. Com efeito, a razão<br />

é a percepção da obra <strong>de</strong> Deus" (Philosophie<br />

<strong>de</strong>r Geschichte, ed. Lasson, I, p. 55). Foi<br />

esse conceito <strong>de</strong> H. que Croce retomou e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u<br />

nos primeiros <strong>de</strong>cênios do séc. XX. Para<br />

ele, o sujeito da H. é o Espírito do Mundo ou a<br />

Razão, não o homem (Teoria e storia <strong>de</strong>lia<br />

storiografia, 1917, p. 87). A H. é uma or<strong>de</strong>m<br />

progressiva que não conhece <strong>de</strong>cadência, interrupção<br />

ou morte (La storia come pensiero e<br />

come azione, 1938, p. 38). Ela é sempre jus-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!