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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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MATERIALISMO HISTÓRICO 652 MATERIALISMO HISTÓRICO<br />

<strong>de</strong>ve-se raciocinar sempre dialeticamente, ou<br />

seja, nunca supor que nosso conhecimento seja<br />

invariável e acabado, mas analisar o processo<br />

graças ao qual o conhecimento nasce da ignorância<br />

ou o conhecimento vago e incompleto<br />

torna-se mais justo e preciso" (Materialismus<br />

utid Empiriokritizismus, 1909; trad. it., p. 75).<br />

Como se vê, tampouco essas teses expressam<br />

uma concepção materialista, mas constituem<br />

uma reivindicação do realismo gnosiológico.<br />

MATERIALISMO HISTÓRICO (in Histórica!<br />

materialism-, fr. Matérialisme historique,<br />

ai. IIistorischerMaterialismus; it. Materialismo<br />

storico). Com este nome Engels <strong>de</strong>signou o<br />

cânon <strong>de</strong> interpretação histórica proposta por<br />

Marx, mais precisamente o que consiste em<br />

atribuir aos fatores econômicos (técnicas <strong>de</strong><br />

trabalho e <strong>de</strong> produção, relações <strong>de</strong> trabalho<br />

e <strong>de</strong> produção) peso prepon<strong>de</strong>rante na <strong>de</strong>terminação<br />

dos acontecimentos históricos. O pressuposto<br />

<strong>de</strong>sse cânon é o ponto <strong>de</strong> vista antropológico<br />

<strong>de</strong>fendido por Marx, segundo o qual<br />

a personalida<strong>de</strong> humana é constituída intrhisecamente<br />

(em sua própria natureza) por relações<br />

<strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> que o<br />

homem participa para prover âs suas necessida<strong>de</strong>s.<br />

A "consciência" do homem (suas crenças<br />

religiosas, morais, políticas, etc.) é resultado<br />

<strong>de</strong>ssas relações, e não seu pressuposto.<br />

Esse ponto <strong>de</strong> vista foi <strong>de</strong>fendido por Marx<br />

sobretudo na obra I<strong>de</strong>ologia alemã (Deutsche<br />

I<strong>de</strong>ologie, 1845-46). Em vista disso, a tese do<br />

M. histórico é <strong>de</strong> que as formas assumidas pela<br />

socieda<strong>de</strong> ao longo <strong>de</strong> sua história <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />

das relações econômicas predominantes em<br />

certas fases <strong>de</strong>la. Marx diz: "Km sua vicia produtiva<br />

em socieda<strong>de</strong>, os homens participam <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminadas relações necessárias e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

<strong>de</strong> sua vonta<strong>de</strong>: relações <strong>de</strong> produção<br />

que correspon<strong>de</strong>m a certa fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> suas forças produtivas materiais. Flsse<br />

conjunto <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> produção constitui a<br />

estrutura econômica da socieda<strong>de</strong>, que é a base<br />

real sobre a qual se erige uma superestrutura<br />

jurídica e política e â qual correspon<strong>de</strong>m <strong>de</strong>terminadas<br />

formas sociais <strong>de</strong> consciência. (...) Portanto,<br />

o modo <strong>de</strong> produção da vida material em<br />

geral condiciona o processo da vida social,<br />

política e espiritual" (Zur Kritik <strong>de</strong>rpolitischen<br />

Òkonomie, 1859, Pref.: trad. it., p. 17). Marx<br />

elaborou essa teoria sobretudo em oposição ao<br />

ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> Hegel, para quem é a consciência<br />

que <strong>de</strong>termina o ser social do homem;<br />

para Marx, pelo contrário, é o ser social do<br />

homem que <strong>de</strong>termina a sua consciência.<br />

Contudo, nào se <strong>de</strong>ve achar que Marx fosse<br />

partidário fatalismo econômico, segundo o<br />

qual as condições econômicas necessariamente<br />

levariam o homem a <strong>de</strong>terminadas formas <strong>de</strong><br />

vida social. Nessas relações econômicas, que<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> trabalho, produção,<br />

troca, etc, o homem é elemento ativo e condicionante.<br />

Portanto, a condicionalida<strong>de</strong> que a<br />

estrutura econômica exerce sobre as superestruturas<br />

sociais é — pelo menos em parte —<br />

uma autocondicionalida<strong>de</strong> do homem em relação<br />

a si próprio {DeutscheI<strong>de</strong>ologie, 1, C; trad.<br />

it., pp. 69 ss.). Engels falou em seguida da "inversão<br />

da práxis histórica", ou seja, <strong>de</strong> uma reação<br />

<strong>de</strong> oposição da consciência humana â ação das<br />

condições materiais sobre ela. Mas do ponto<br />

<strong>de</strong> vista <strong>de</strong> Marx essa inversão não é necessária,<br />

visto não ser a superestrutura que reage à<br />

estrutura, mas o homem que, intervindo com<br />

suas técnicas para mudar ou para melhorar a<br />

estrutura econômica, se autocondiciona por meio<br />

<strong>de</strong>la.<br />

O M. histórico chamou a atenção dos historiadores<br />

para um cânon interpretativo ao qual<br />

muitas vezes é indispensável recorrer para<br />

explicar acontecimentos e instituições histórico-sociais.<br />

A ele <strong>de</strong> fato recorrem, em maior<br />

ou menor grau, historiadores <strong>de</strong> todos os campos<br />

<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> humana, porquanto algumas<br />

vezes o caminho aberto por esse tipo <strong>de</strong> explicação<br />

histórica é o único possível. No entanto,<br />

nem sempre é o único possível. Hoje a tendência<br />

é interpretar o M. histórico como uma possibilida<strong>de</strong><br />

explicativa, à qual se recorre em<br />

circunstâncias apropriadas, e não como um princípio<br />

dogmático (sobretudo na forma proposta<br />

por Engels). Em outras palavras, afirmar que<br />

acontecimentos ou situações histórico-sociais<br />

sempre <strong>de</strong>vem ser explicados pelo <strong>de</strong>terminismo<br />

dos fatores econômicos é tese tão dogmática<br />

quanto qualquer outra que quisesse excluir<br />

absolutamente e em todos os casos o <strong>de</strong>terminismo<br />

<strong>de</strong> tais fatores. O historiador, diante<br />

<strong>de</strong> uma situação, <strong>de</strong>ve verificar o peso relativo<br />

cios fatores <strong>de</strong>terminantes, estabelecendo-o caso<br />

a caso. consi<strong>de</strong>rando as situações particulares,<br />

e não <strong>de</strong>cidindo <strong>de</strong> antemão e em <strong>de</strong>finitivo.<br />

Isento <strong>de</strong>ssa postura dogmática, o M. histórico<br />

representa, para a técnica <strong>de</strong> explicação historiográfica,<br />

uma das possibilida<strong>de</strong>s mais fecundas<br />

e um novo grau <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> à escolha historiográfica<br />

(v. HISTORIOGRAFIA).

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