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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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FORMA 469 FORMA<br />

qualquer substância, falando <strong>de</strong> "F. separadas"<br />

para indicar as idéias existentes na mente <strong>de</strong><br />

Deus (ALBERTO MAGNO, S. Th., I, q. 6; S. TOMÁS,<br />

S. Th., I, q. 15 a. 1) e <strong>de</strong> "F. subsistentes"<br />

para indicar os anjos que não têm corpo e,<br />

portanto, não têm matéria (S. TOMÁS, S. Th., I,<br />

q. 50 a. 2). Além disso, falavam <strong>de</strong> "F.<br />

substanciais ou <strong>de</strong> F. aci<strong>de</strong>ntais" (Ibid., I, q. 76<br />

a. 1), sendo esta última expressão, do ponto <strong>de</strong><br />

vista aristotélico, no mínimo contraditória. Gilberto<br />

Porretano (séc. XII), em Desexprincipiis,<br />

separara as F. inerentes, correspon<strong>de</strong>ntes às<br />

primeiras quatro categorias <strong>de</strong> Aristóteles<br />

(substância, qualida<strong>de</strong>, quantida<strong>de</strong>, relação)<br />

das F. assistentes, correspon<strong>de</strong>ntes às outras<br />

categorias aristotélicas, <strong>de</strong> caracteres que não<br />

constituem a substância das coisas. Em todos<br />

os casos, a F. conserva os caracteres que Aristóteles<br />

lhe havia atribuído: é causa ou razão <strong>de</strong><br />

ser da coisa, aquilo em virtu<strong>de</strong> do que uma coisa<br />

é o que é; é ato ou atualida<strong>de</strong> da coisa, por<br />

isso o princípio e o fim do seu <strong>de</strong>vir.<br />

O conceito <strong>de</strong> F. assim entendido foi e continua<br />

sendo empregado também fora do aristotelismo<br />

e <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>rivados. Não possui <strong>de</strong>terminações<br />

diferentes das aqui apontadas a F. <strong>de</strong><br />

que fala Bacon como objeto da ciência natural:<br />

essa F. é ato e causa eficiente, tanto quanto a<br />

F. aristotélica (Nov. Org. II, 17), e distingue-se<br />

<strong>de</strong>sta apenas porque, como pensava Aristóteles,<br />

não po<strong>de</strong> ser apreendida pelo procedimento<br />

<strong>de</strong>dutivo ou pelo intelecto intuitivo, mas só<br />

pela indução experimental. Descartes referese<br />

à significação tradicional da palavra quando<br />

nega que existam "as F. ou qualida<strong>de</strong>s sobre<br />

as quais se discute nas escolas" (Discours, V).<br />

E é com o mesmo significado que essa palavra<br />

é usada por Bergson, ao afirmar que "F. é um<br />

instantâneo <strong>de</strong> uma transição", ou seja, uma<br />

espécie <strong>de</strong> imagem intermediária da qual se<br />

aproximam as imagens reais em sua mudança<br />

e que é pressuposta como "a essência da coisa<br />

ou a coisa mesma" (Évol. créatr., IV ed., 1911,<br />

p. 327).<br />

Deste conceito <strong>de</strong> F. aproxima-se o sentido<br />

com que essa palavra é usada por Hegel,<br />

como "totalida<strong>de</strong> das <strong>de</strong>terminações", que é<br />

a essência no seu manifestar-se como fenômeno<br />

(Ene, § 129). Nesse sentido, F. é o modo<br />

<strong>de</strong> manifestar-se da essência ou substância <strong>de</strong><br />

uma coisa, na medida em que esse modo <strong>de</strong><br />

manifestar-se coinci<strong>de</strong> com a própria essência.<br />

É nesse sentido que Hegel empregava habitualmente<br />

essa palavra, p. ex. quando dizia: "O<br />

conteúdo humano da consciência, produzido<br />

pelo pensamento, não aparece primeiro em<br />

F. <strong>de</strong> pensamento, mas como sentimento, intuição,<br />

representação, F. que <strong>de</strong>vem ser distinguidas<br />

do pensamento como F." (Ene, § 2).<br />

Foi exatamente com esse sentido que Croce<br />

e Gentile falaram <strong>de</strong> "formas do espírito", seja<br />

para estabelecer, seja para negar sua diversida<strong>de</strong>.<br />

2- Uma relação ou um conjunto <strong>de</strong> relações<br />

(or<strong>de</strong>m) que po<strong>de</strong> conservar-se constante com<br />

a variação dos termos entre os quais se situa.<br />

P. ex., a relação "Sep, então q" po<strong>de</strong> ser assumida<br />

como a F. da inferência, porque permanece<br />

constante quaisquer que sejam as proposições<br />

pe qentre as quais se situa. Assim, diz-se<br />

habitualmente que a matemática é uma ciência<br />

formal porque o que ela ensina não vale apenas<br />

para certos conjuntos <strong>de</strong> coisas, mas para<br />

todos os conjuntos possíveis, já que versa sobre<br />

certas relações gerais que constituem o aspecto<br />

formal das coisas. Nesse sentido, a palavra F. foi<br />

usada pela primeira vez por Tetens, para indicar<br />

as relações estabelecidas pelo pensamento entre<br />

as representações sensíveis que, por sua vez,<br />

constituiriam a "matéria" do conhecer (Philosophische<br />

Versuche über die menschliche Natur,<br />

1776, I, p. 336). Kant fez distinção análoga na<br />

dissertação <strong>de</strong> 1770: "À representação pertence,<br />

em primeiro lugar, alguma coisa que se<br />

po<strong>de</strong> chamar <strong>de</strong> matéria, que é a sensação, e,<br />

em segundo lugar, aquilo que se po<strong>de</strong> chamar<br />

<strong>de</strong> F. ou espécie das coisas sensíveis, que<br />

serve para coor<strong>de</strong>nar, por meio <strong>de</strong> certa lei<br />

natural da alma, as várias coisas que impressionam<br />

os sentidos" (De mundi sensibilis et<br />

intelligibilis forma et ratione, § 4). Essa distinção<br />

entre matéria e F. foi o ponto <strong>de</strong> partida <strong>de</strong><br />

toda a <strong>filosofia</strong> kantiana, mas Kant nunca alterou<br />

o significado <strong>de</strong> F., que continuou sendo<br />

relação ou conjunto <strong>de</strong> relações, isto é, or<strong>de</strong>m.<br />

Escreveu em Prolegômenos (§ 17): "O elemento<br />

formal da natureza é a regularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos<br />

os objetos da experiência." Analogamente,<br />

a F. dos princípios morais é a simples relação<br />

na qual uma lei se encontra com os seres racionais,<br />

ou seja, sua valida<strong>de</strong> para todos esses<br />

seres, sua universalida<strong>de</strong> (Crít. R. Prática, § 4).<br />

A partir <strong>de</strong> Kant o sentido <strong>de</strong>ssa palavra nunca<br />

<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser o <strong>de</strong> relação generalizável, or<strong>de</strong>m,<br />

coor<strong>de</strong>nação ou, mais simplesmente, universalida<strong>de</strong>.<br />

Nesse sentido, Kant distinguiu matéria<br />

e F. no conceito: "A matéria do conceito é<br />

o objeto; a F. <strong>de</strong>le é a universalida<strong>de</strong>" (Logik.,

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