22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

LIBERDADE 612 LIBERDADE<br />

mesma doutrina: L. <strong>de</strong> indiferença é "uma expressão<br />

sem sentido", pois significaria que no<br />

homem há "um efeito sem causa". Somos livres<br />

para fazer quando temos o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> fazer<br />

(Dictionnairephilosophique, art. "Liberte"). Kant<br />

utilizou o conceito <strong>de</strong> L. finita para <strong>de</strong>finir a L.<br />

jurídica ou política: ela é "a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> não<br />

obe<strong>de</strong>cer a outras leis externas a não ser as leis<br />

às quais eu possa dar meu assentimento" (Zum<br />

ewigen Frie<strong>de</strong>n, II, art. 1, n s 1). A concepção<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminismo não necessarista consolidouse<br />

na orientação empirista. Stuart Mill mostrou<br />

que o fatalismo brota <strong>de</strong> um conceito <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong><br />

que não se reduz ao <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação.<br />

Ela significa apenas "uniformida<strong>de</strong> <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m e<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> previsão". Mas para os <strong>de</strong>fensores<br />

da necessida<strong>de</strong> "é como se houvesse um<br />

vínculo mais forte entre as voliçòes e suas causas:<br />

como se, ao dizerem que a vonta<strong>de</strong> é governada<br />

pelo equilíbrio dos motivos, estivessem<br />

dizendo algo além da afirmação <strong>de</strong> que,<br />

conhecendo-se os motivos e nossa habitual<br />

suscetibilida<strong>de</strong> a eles, fosse possível predizer a<br />

maneira como iremos agir" (Logic, VI, 2, § 2).<br />

Dewey traduz essa doutrina para os termos do<br />

pragmatismo, ou seja, do empirismo orientado<br />

para o futuro: "Às vezes se afirma que, se é<br />

possível <strong>de</strong>monstrar que a <strong>de</strong>liberação <strong>de</strong>termina<br />

a escolha e é <strong>de</strong>terminada pelo caráter e pelas<br />

condições, é porque não existe liberda<strong>de</strong>. É<br />

como dizer que uma flor não po<strong>de</strong> produzir<br />

fruto porque provém da raiz e do caule. A<br />

questão não diz respeito aos antece<strong>de</strong>ntes da<br />

<strong>de</strong>liberação da escolha, mas às suas conseqüências.<br />

Qual é sua característica? Dar-nos o<br />

controle das possibilida<strong>de</strong>s futuras que se<br />

abrem para nós. Esse controle é o núcleo da<br />

nossa liberda<strong>de</strong>. Sem ele, somos empurrados<br />

<strong>de</strong> trás. com ele caminhamos na luz" (Human<br />

Naiure and Conduct, 1922, p. 311). A L. <strong>de</strong> que<br />

Hei<strong>de</strong>gger fala como "transcendência" e "projeção"<br />

do homem no mundo também é uma L.<br />

finita, porque condicionada e limitada pelo mundo<br />

em que se projeta (Vom Wesen <strong>de</strong>s Guin<strong>de</strong>s,<br />

1949, III, trad. it., pp. 64 ss.).<br />

Essa doutrina da L. consolidou-se e tornouse<br />

mais clara e coerente quando, a partir da década<br />

<strong>de</strong> 40, a ciência <strong>de</strong>sistiu do i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong><br />

necessária e <strong>de</strong> previsão infalível. O<br />

predomínio do conceito <strong>de</strong> condição sobre o<br />

<strong>de</strong> causa, da explicação probabilista sobre a<br />

explicação necessarista, que se <strong>de</strong>lineou na física<br />

atômica como efeito do princípio <strong>de</strong> in<strong>de</strong>terminaçào<br />

(v. CAUSALIDADE; CONDIÇÃO), tornou<br />

obviamente anacrônica a conservação do esquema<br />

necessarista para a explicação dos acontecimentos<br />

humanos. Ao mesmo tempo, <strong>de</strong>ixou<br />

<strong>de</strong> ter sentido a oposição entre ciência e<br />

consciência, entre a exigência <strong>de</strong> causalida<strong>de</strong><br />

própria da primeira e o testemunho <strong>de</strong> L. dada<br />

pela segunda. Por um lado. vimos que a consciência<br />

nào dá <strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> L. absoluta e<br />

que tampouco po<strong>de</strong> mostrar ser válida qualquer<br />

<strong>de</strong>monstração nesse sentido; por outro<br />

lado, vimos qtie a ciência nào exige a causalida<strong>de</strong><br />

necessária que autorizaria a previsão infalível<br />

dos eventos, mas um <strong>de</strong>terminismo condicionante<br />

que autorize a previsão provável<br />

dos eventos. A conclusão é que o conceito <strong>de</strong><br />

L. como autocausaçào (que ainda aparece em<br />

Bergson e Sartre) é tão pouco sustentável<br />

quanto o conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminismo como necessida<strong>de</strong>.<br />

Correspon<strong>de</strong>ntemente, no plano político<br />

o conceito <strong>de</strong> L. como po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> fazer o<br />

que apraz e o conceito <strong>de</strong> L. como po<strong>de</strong>r absoluto<br />

da totalida<strong>de</strong> a que o homem pertence<br />

(Estado, Igreja, raça, partido, etc.) são igualmente<br />

mistificadores. Hoje, assim como nos<br />

tempos em que a noção no mundo mo<strong>de</strong>rno<br />

foi formulada pela primeira vez, a L. é uma<br />

questão <strong>de</strong> medida, <strong>de</strong> condições e <strong>de</strong> limites;<br />

e isso em qualquer campo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> metafísico e<br />

psicológico ao até econômico e político. Hoje<br />

se <strong>de</strong>staca o fato <strong>de</strong> que a L. humana é "situada,<br />

enquadrada no real, uma L. sob condição,<br />

uma L relativa" (Gi RVITCH, Détermismes<br />

sociaux et liberte hnmaine, 1955, p. 81). Expressa-se<br />

por vezes esse conceito dizendo que<br />

a L. não é uma escolha, mas uma "possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> escolha", ou seja, uma escolha que, se<br />

feita, po<strong>de</strong>rá ser sempre repetida em <strong>de</strong>terminada<br />

situação (ABBAGNANO, Possibilita e liberta,<br />

1956. passim). Dessa forma, po<strong>de</strong>-se dizer<br />

que a L. está presente em todas as ativida<strong>de</strong>s<br />

humanas organizadas e eficazes, notadamente<br />

nos procedimentos científicos cujas técnicas <strong>de</strong><br />

verificação consistem exatamente em possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> escolha no sentido acima. Válido é o<br />

procedimento que po<strong>de</strong> ser eficazmente empregado<br />

por qualquer um, nas circunstâncias<br />

apropriadas: é uma "possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha"<br />

sempre ao alcance <strong>de</strong> qualquer um que se<br />

encontre nas condições oportunas. Analogamente,<br />

as L. políticas são possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> escolha<br />

que asseguram aos cidadãos a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> escolher sempre. Um tipo <strong>de</strong> governo<br />

não é livre simplesmente por ter sido escolhido<br />

pelos cidadãos, mas se, em certos limites, per-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!