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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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CONSCIÊNCIA 2<br />

partida e fundamento da <strong>filosofia</strong> e concebemna<br />

como a manifestação e revelação imediata<br />

da verda<strong>de</strong> e da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus ao homem.<br />

Esse princípio não se altera substancialmente<br />

nas várias formas do Espiritualismo contemporâneo,<br />

po<strong>de</strong>ndo, aliás, ser consi<strong>de</strong>rado sua <strong>de</strong>finição.<br />

Na mais importante <strong>de</strong>ssas formas, a<br />

doutrina <strong>de</strong> Bergson, a C, como atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

introspecção ou auscultação interior, <strong>de</strong> busca<br />

dos "dados imediatos", é a própria <strong>filosofia</strong>; e é<br />

também a realida<strong>de</strong>, a única realida<strong>de</strong>. "Em<br />

todo o reino animal", diz Bergson, "a C. mostra-se<br />

proporcional à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> opção <strong>de</strong><br />

que o ser vivo dispõe. Ela ilumina a zona <strong>de</strong><br />

virtualida<strong>de</strong>s que circundam o ato: me<strong>de</strong> o intervalo<br />

entre o que se faz e o que se po<strong>de</strong>ria<br />

fazer. Olhando-a <strong>de</strong> fora, po<strong>de</strong>r-se-ia tomá-la<br />

por um simples auxiliar da ação, por uma luz<br />

que ilumina a ação, centelha fugidia que brotaria<br />

do atrito entre ação real e ações possíveis.<br />

Mas é preciso observar que as coisas se passariam<br />

do mesmo modo se a C, em vez <strong>de</strong> efeito,<br />

fosse causa" (Évol. créatr, 11 a ed., 1911,<br />

pp. 194-195). E essa é, na realida<strong>de</strong>, segundo<br />

Bergson, a história verda<strong>de</strong>ira. "A vida, ou seja,<br />

a C. lançada através da matéíra, fixa a atenção<br />

em seu próprio movimento ou na matéria que<br />

atravessa, orientando-se assim no sentido da<br />

intuição ou no sentido da inteligência". Na primeira<br />

direção, a C. encontrou-se comprimida<br />

por seu invólucro e limitou-se a ir da intuição<br />

ao instinto. Na segunda direção, <strong>de</strong>terminandose<br />

como inteligência, exterioriza-se <strong>de</strong> si mesma,<br />

mas justamente por se adotar aos objetos<br />

externos chega a circular entre eles, a contornar<br />

as barreiras que eles lhe opõem e a esten<strong>de</strong>r<br />

in<strong>de</strong>finidamente seu domínio. "Uma vez liberta,<br />

po<strong>de</strong> dobrar-se sobre si mesma e<br />

<strong>de</strong>spertar as virtualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> intuição que ainda<br />

dormitam nela" (Ibid., p. 197). A C. é, portanto,<br />

o princípio criativo da realida<strong>de</strong> e ao<br />

mesmo tempo manifesta e revela imediatamente<br />

essa realida<strong>de</strong> no interior do homem.<br />

Observações <strong>de</strong>sse tipo são tão freqüentes<br />

e repetidas na <strong>filosofia</strong> contemporânea que seria<br />

supérfluo reproduzi-las. Interessa aqui fixar as<br />

etapas relevantes do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssa<br />

noção; na <strong>filosofia</strong> contemporânea, a etapa<br />

mais importante é constituída pela fenomenologia<br />

<strong>de</strong> Husserl. O ponto <strong>de</strong> partida e o<br />

ponto <strong>de</strong> chegada <strong>de</strong>ssa fenomenologia são os<br />

mesmos do espiritualismo, i<strong>de</strong>ntíficam-se com<br />

a C. tradicionalmente entendida como atitu<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> auto-auscultação. Husserl parte do cogito<br />

191 CONSCIÊNCIA 2<br />

cartesiano, isto é, da consi<strong>de</strong>ração das vivências<br />

(Erlebnissé) "em toda a plenitu<strong>de</strong> concreta<br />

com que se apresentam em sua conexão concreta<br />

— a corrente da C. —, na qual se unificam<br />

graças à sua própria essência" (I<strong>de</strong>en, I, §<br />

34). Mas para esclarecer a natureza das vivências,<br />

isto é, da C. em geral, Husserl vale-se da<br />

noção <strong>de</strong> intencionalida<strong>de</strong>, já utilizada por<br />

Brentano para <strong>de</strong>finir o caráter dos fenômenos<br />

psíquicos {Psychologie vom empirischen<br />

Standpunkt, 1874). A intencionalida<strong>de</strong> é o referir-se<br />

ou o reportar-se do ato <strong>de</strong> C. a outra coisa,<br />

a alguma coisa que não é o próprio ato <strong>de</strong><br />

consciência. Para Husserl, essa noção (v. INTEN-<br />

CIONALIDADE) <strong>de</strong>fine a própria natureza da C. em<br />

geral, que, por isso, é um transcen<strong>de</strong>r que<br />

constitui uma relação com o objeto "em pessoa"<br />

e não com uma imagem ou representação<br />

<strong>de</strong>le. Nesse sentido, a relação com o objeto não<br />

é "psicológica", não inci<strong>de</strong> no círculo <strong>de</strong> uma<br />

realida<strong>de</strong> específica, a alma, mas é <strong>de</strong> natureza<br />

lógico-transcen<strong>de</strong>ntal, é uma possibilida<strong>de</strong> que<br />

<strong>de</strong>fine o modo <strong>de</strong> ser da consciência. A C. nesse<br />

sentido, para Husserl, é aquilo que era para<br />

Kant: uma relação com o objeto, mais precisamente,<br />

uma relação, na qual o objeto se dã<br />

como tal. Todavia, para Husserl, a intencionalida<strong>de</strong><br />

não exaure a essência da consciência,<br />

que é uma "corrente <strong>de</strong> vivências" {Erlebnissé)<br />

e apreen<strong>de</strong>-se a si mesma <strong>de</strong> forma direta e<br />

privilegiada, que nada mais tem a ver com a<br />

intencionalida<strong>de</strong>. Nesse aspecto, Husserl distingue<br />

a percepção imanente da percepção transcen<strong>de</strong>nte.<br />

A percepção transcen<strong>de</strong>nte é a percepção<br />

da coisa no espaço, que nunca está<br />

presente à consciência em sua plena atualida<strong>de</strong>.<br />

Daí <strong>de</strong>riva o caráter em si do objeto transcen<strong>de</strong>nte,<br />

caráter que exprime a possibilida<strong>de</strong><br />

da C. <strong>de</strong> retornar ao objeto e <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntífícá-lo.<br />

Mas justamente por estar ligada a essa simples<br />

possibilida<strong>de</strong> a existência da coisa nunca é necessária,<br />

mas contingente; tudo o que da coisa<br />

é dado à percepção transcen<strong>de</strong>nte po<strong>de</strong> também<br />

não ser; a percepção transcen<strong>de</strong>nte é sempre<br />

duvidosa (I<strong>de</strong>en, I, § 46). A percepção imanente,<br />

ao contrário, é a percepção do cogito<br />

cartesiano, que tem por objeto as mesmas<br />

vivências (recordar, imaginar, <strong>de</strong>sejar, etc.) Estas<br />

não são dadas à C. do mesmo modo como a<br />

coisa é dada aos fenômenos subjetivos, isto é,<br />

através <strong>de</strong> aparições, sombreamentos, aproximações,<br />

que acenam para a unida<strong>de</strong> transcen<strong>de</strong>nte<br />

do objeto: ao contrário, caracteriza-se<br />

pela imediação e pela absolutida<strong>de</strong>. "A percep-

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