22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ESPAÇO 349 ESPAÇO<br />

(cf. OCKHAM, Summulae physicorum, IV, 20;<br />

Quodl., I, 4). No Renascimento era <strong>de</strong>fendida<br />

por Campanella (Desensu rerum, I, 12), sendo<br />

aceita e reexposta por Descartes nos termos<br />

da sua geometria. Entre lugar e E. Descartes<br />

estabelecia uma diferença apenas nominal, porquanto<br />

"o lugar assinala mais expressamente a<br />

situação do que a gran<strong>de</strong>za ou a figura e pensamos<br />

mais nestas quando falamos do E.". Mas<br />

as duas coisas são idênticas: "Se dizemos que<br />

uma coisa está em tal lugar, enten<strong>de</strong>mos somente<br />

que está situada <strong>de</strong> tal modo em relação<br />

a outras coisas; mas se acrescentamos que ocupa<br />

tal E. ou tal lugar, enten<strong>de</strong>mos a<strong>de</strong>mais que<br />

ela é <strong>de</strong> tal gran<strong>de</strong>za e <strong>de</strong> tal forma que po<strong>de</strong><br />

preenchê-lo exatamente" (Princ. phil, II, 14).<br />

Descartes negava, portanto, a existência do vazio<br />

(Ibid., II, 16); assim como a negava Spinoza,<br />

que compartilhava da mesma concepção<br />

<strong>de</strong> E. (Et., I, 15, scol.). Leibniz, por sua vez,<br />

<strong>de</strong>fendia essa concepção contra Newton e seus<br />

seguidores. "Se o E. é uma proprieda<strong>de</strong> ou um<br />

atributo, <strong>de</strong>ve ser a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguma<br />

substância. O E. vazio e limitado, que seus <strong>de</strong>fensores<br />

supõem entre os dois corpos, seria<br />

proprieda<strong>de</strong> ou afecção <strong>de</strong> que substância?"<br />

(IV e Lettre à Clarke, 8; Op., ed. Erdmann, p.<br />

756). Mas a velha concepção encontrava em<br />

Leibniz expressão nova e feliz, em termos <strong>de</strong><br />

noção <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m, que <strong>de</strong>veria tornar-se clássica:<br />

"Consi<strong>de</strong>ro o E. (opondo-se a Newton e seus<br />

seguidores) como algo puramente relativo, do<br />

mesmo modo que o tempo, ou seja, como uma<br />

or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> coexistências, assim como o tempo<br />

é uma or<strong>de</strong>m das sucessões. Isso porque o E.<br />

caracteriza, em termos <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>, uma<br />

or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> coisas que existem ao mesmo tempo,<br />

porquanto existem juntamente, sem entrar<br />

em seus modos <strong>de</strong> existir" (IIPLettre ã Clarke,<br />

4; Op., ed. Erdmann, p. 752). A <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />

Leibniz foi retomada por Wolff (Ont., § 389) e<br />

por Baumgarten (Mel, § 239). O próprio Kant<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>-a nas primeiras obras e só resolve<br />

abandoná-la em 1768, em Sobre o primeiro<br />

fundamento da distinção das regiões no espaço.<br />

Nessa obra ele <strong>de</strong>clara insuficiente a concepção<br />

do E. como or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> coexistências:<br />

"As posições das partes do E. em relação entre<br />

si pressupõem a região segundo a qual elas estão<br />

or<strong>de</strong>nadas nessa relação; entendida do<br />

modo mais abstrato, a região não consiste na<br />

relação que uma coisa tem com outra no E. (o<br />

que, propriamente, constitui o conceito <strong>de</strong> posição),<br />

mas na relação do sistema <strong>de</strong>ssas posi-<br />

ções com o E. cósmico absoluto". Todavia, a<br />

concepção posicionai do E. nunca é <strong>de</strong> todo<br />

abandonada pelo pensamento filosófico posterior:<br />

parece pressuposta nas teorias i<strong>de</strong>alistas<br />

do E. (v. mais abaixo), pelo que se po<strong>de</strong> extrair<br />

do caráter genérico e confuso dos conceitos<br />

empregados, e foi <strong>de</strong>fendida com energia e<br />

luci<strong>de</strong>z por Hei<strong>de</strong>gger. Este afirmou que "nem<br />

o E. está no sujeito nem o mundo está ntí E.",<br />

mas que o próprio sujeito, ou seja, a realida<strong>de</strong><br />

humana, o ser-aí, é espacial em sua natureza.<br />

E é espacial porque, como ser-no-mundo, em<br />

sua relação com as coisas, é dominado pela<br />

proximida<strong>de</strong> ou pela distância das coisas utilizáveis,<br />

por um conjunto <strong>de</strong> relações possíveis<br />

que "a intuição formal" do E. só faz evi<strong>de</strong>nciar<br />

nas várias disciplinas geométricas (Sein und<br />

Zeit, §§ 23-24).<br />

tí) A segunda concepção <strong>de</strong> E. consi<strong>de</strong>ra-o<br />

como o recipiente que contém os objetos materiais.<br />

Essa concepção nasceu com o atomismo<br />

antigo, e sua tese fundamental é a existência<br />

do E. vazio e <strong>de</strong> sua infinida<strong>de</strong>. Demócrito já<br />

expressara essas idéias; afirmava que os átomos<br />

se movem no E. vazio e que esse E. é infinito<br />

(Fr, 38-40, Diels). Epicuro herdou essa<br />

concepção (Carta a Heródoto; cf. Dióg. L., X,<br />

67), que era <strong>de</strong>fendida por Lucrécio Caro (De<br />

rer. nat., I, pp. 950 ss.). A mesma concepção<br />

<strong>de</strong> E. era compartilhada pelos estóicos, em particular<br />

por Zenão (DIÓG. L, VII, 140). ^<br />

Obliterada durante muito tempo pela concepção<br />

aristotélica, essa doutrina volta a apresentar-se<br />

no Renascimento. Telésio afirma que<br />

o E. <strong>de</strong>ve po<strong>de</strong>r ser receptáculo <strong>de</strong> qualquer<br />

coisa, <strong>de</strong> tal modo que, estejam as coisas <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong>le ou distantes <strong>de</strong>le, ele permaneça idêntico<br />

e acolha prontamente todas as coisas que<br />

se suce<strong>de</strong>m nele, sendo ao mesmo tempo tão<br />

gran<strong>de</strong> quanto as coisas que nele acham lugar.<br />

O E., portanto, é infinito e incorpóreo: a existência<br />

do vazio é um fato <strong>de</strong> experiência (De<br />

rer. nat, I, 25). A infinida<strong>de</strong> do E. era <strong>de</strong>finida<br />

por Giordano Bruno no mesmo sentido (De<br />

1'infinito, universo e mondi, I).<br />

Essa concepção <strong>de</strong> E. prevaleceu na ciência<br />

graças a Newton, que dizia: "O E. absoluto, por<br />

sua própria natureza, sem relação com algo exterior,<br />

é sempre semelhante e imóvel. O E.<br />

relativo é a dimensão móvel ou a medida do E.<br />

absoluto; nossos sentidos o <strong>de</strong>terminam por<br />

sua posição em relação aos corpos, sendo muitas<br />

vezes confundido com o E. imóvel; essa é a<br />

dimensão <strong>de</strong> um subterrâneo, <strong>de</strong> um E. aéreo

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!