22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

CORPO 2<br />

te formada e constituída como sua, está para si<br />

mesma como sujeito singular; e a corporalida<strong>de</strong><br />

é, <strong>de</strong>sse modo, a exteriorida<strong>de</strong> enquanto<br />

predicado no qual o sujeito se reconhece só a<br />

si. Essa exteriorida<strong>de</strong> não se representa a si<br />

mesma, mas à alma: e é o sinal <strong>de</strong>sta" (Ene,<br />

§411). Desse ponto <strong>de</strong> vista, o C. é a "manifestação<br />

externa" ou a "realização externa" da alma:<br />

exprime a alma na forma <strong>de</strong> uma exteriorida<strong>de</strong><br />

que não é real como tal, mas tão-somente "simbólica".<br />

Po<strong>de</strong>m-se encontrar resíduos <strong>de</strong>ssa<br />

concepção em todas as doutrinas que vêem no<br />

C. um complexo <strong>de</strong> fenômenos expressivos.<br />

3 a A terceira solução consiste em negar a diferença<br />

das substâncias, mas não a diferença<br />

entre alma e C, e portanto em consi<strong>de</strong>rar a<br />

alma e o C. duas manifestações <strong>de</strong> uma mesma<br />

substância. Spinoza <strong>de</strong>u forma típica a essa solução,<br />

consi<strong>de</strong>rando a alma e o C. como modos<br />

ou manifestações dos dois atributos fundamentais<br />

da única Substância divina, o pensamento<br />

e a extensão. "Entendo por C", disse ele, "um<br />

modo que, <strong>de</strong> certa forma <strong>de</strong>terminada, exprime<br />

a essência <strong>de</strong> Deus consi<strong>de</strong>rado como coisa<br />

extensa" (Et., II, <strong>de</strong>f. 1). Portanto, a "idéia <strong>de</strong> C.<br />

e o C, ou seja, a mente e o C, formam um só e<br />

mesmo indivíduo que ora é concebido sob o<br />

atributo do pensamento, ora sob o atributo da<br />

extensão" (Ibid., II, 21, scol.). Essa doutrina<br />

obviamente implica que a or<strong>de</strong>m e a conexão<br />

dos fenômenos corpóreos correspon<strong>de</strong>m perfeitamente<br />

à or<strong>de</strong>m e à conexão dos fenômenos<br />

mentais e que, portanto, reconstruindo a<br />

or<strong>de</strong>m e a conexão <strong>de</strong> uns, é possível conhecer<br />

a or<strong>de</strong>m e a conexão dos outros. Por essa vantagem<br />

que parece apresentar (sem contar o<br />

fato <strong>de</strong> que ela exclui a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> misturar<br />

e confundir as duas séries <strong>de</strong> fenômenos,<br />

tomando p. ex. como causa <strong>de</strong> um fenômeno<br />

corpóreo um fenômeno mental ou vice-versa),<br />

a doutrina <strong>de</strong> Spinoza foi um mo<strong>de</strong>lo para a<br />

doutrina do paralelismo psicofísico (v.) que<br />

presidiu à formação da psicologia científica<br />

mo<strong>de</strong>rna, servindo-lhe como hipótese <strong>de</strong> trabalho<br />

até há alguns <strong>de</strong>cênios.<br />

4- A quarta solução consiste em consi<strong>de</strong>rar o<br />

C. como uma forma <strong>de</strong> experiência ou como<br />

um modo <strong>de</strong> ser vivido, que tenha um caráter<br />

específico ao lado <strong>de</strong> outras experiências ou<br />

modos <strong>de</strong> ser. Os prece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>ssa solução<br />

são as doutrinas a que aludimos ao tratarmos<br />

da 1- solução <strong>de</strong> Schopenhauer e Bergson.<br />

Mas, enquanto essas doutrinas ainda têm ressonâncias<br />

i<strong>de</strong>alistas e implicam a redução do C.<br />

213<br />

CORPO 2<br />

ao espírito, a hipótese <strong>de</strong> que ora nos ocupamos<br />

não tem significado i<strong>de</strong>alista e evita tal redução.<br />

Essa solução encontrou forma típica na<br />

fenomenologia <strong>de</strong> Husserl, segundo a qual o C.<br />

é a experiência que se isola ou individua <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> sucessivos atos <strong>de</strong> redução fenomenológica.<br />

"Na esfera do que me pertence (da<br />

qual se eliminou tudo o que remete a uma subjetivida<strong>de</strong><br />

alheia), o que chamamos natureza<br />

pura e simples não possui mais o caráter <strong>de</strong><br />

ser objetivo e portanto não <strong>de</strong>ve ser confundido<br />

com um estrato abstraído do próprio mundo<br />

ou do seu significado imanente. Entre os C.<br />

<strong>de</strong>ssa natureza reduzida a 'o que me pertence',<br />

encontro meu próprio C, que se distingue <strong>de</strong><br />

todos os outros por uma particularida<strong>de</strong> única:<br />

é o único C. que não é somente um C, mas o<br />

meu C; é o único C, no interior do estrato<br />

abstraído, recortado por mim no mundo ao<br />

qual, <strong>de</strong> acordo com a experiência, eu coor<strong>de</strong>no<br />

campos <strong>de</strong> sensação <strong>de</strong> modos diferentes;<br />

é o único C. <strong>de</strong> que disponho <strong>de</strong> modo imediato,<br />

assim como disponho <strong>de</strong> seus órgãos" (Cart,<br />

Med., § 44). Desse modo, o C. é consi<strong>de</strong>rado<br />

experiência viva, vinculado a possibilida<strong>de</strong>s<br />

humanas bem <strong>de</strong>terminadas. De maneira análoga,<br />

o fisiólogo Kurt Goldstein distinguiu espírito,<br />

alma e C. como processos diferentes mas<br />

conexos, que ganham significado e relevância<br />

somente em sua conexão. Tais processos são,<br />

na verda<strong>de</strong>, comportamentos diferentes do<br />

organismo vivo. Em particular, o C. é "uma<br />

imagem física <strong>de</strong>terminada e multiforme" que<br />

se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>screver como um fenômeno <strong>de</strong> expressão,<br />

como um conjunto <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s ou<br />

como fenômenos que vão dar em todos os<br />

órgãos possíveis. Se o espírito é o ser do organismo,<br />

mais precisamente seu ser no mundo,<br />

o complexo das atitu<strong>de</strong>s vividas, a alma é o<br />

seu ter, isto é, a sua capacida<strong>de</strong> cognitiva; e o C.<br />

é o <strong>de</strong>vir, que não temos nem somos, mas que<br />

acontece em nós. Esse <strong>de</strong>vir é substancialmente<br />

um "<strong>de</strong>bate com o mundo", através do qual<br />

o homem acumula suas experiências e forma<br />

as suas capacida<strong>de</strong>s (Der Aufbau <strong>de</strong>s Organismus,<br />

1927, p. 206 ss.). Desse ponto <strong>de</strong> vista, o<br />

C. não é senão um comportamento, ou melhor,<br />

um elemento ou uma condição do comportamento<br />

humano. Concepção afim é a doutrina<br />

<strong>de</strong> Sartre, segundo a qual o C. é a experiência<br />

do que é "ultrapassado" e "passado". "Em cada<br />

projeto do Para-si [isto é, da consciência], em<br />

cada percepção, o C. está lá: ele é o passado<br />

imediato porquanto aflora ainda no presente

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!