22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ANFIBOLIA 60 ANGUSTIA<br />

que, num texto célebre (O que é a proprieda<strong>de</strong>?,<br />

1840), ele <strong>de</strong>finia "um furto". No domínio<br />

da <strong>filosofia</strong>, o maior teórico do A. foi Max Stirner<br />

(pseudônimo <strong>de</strong> Kaspar Schmidt, 1806-56), autor<br />

<strong>de</strong> uma obra intitulada O único e a sua<br />

proprieda<strong>de</strong>(1845). A tese fundamental <strong>de</strong> Stirner<br />

é que o indivíduo é a única realida<strong>de</strong> e o único<br />

valor, logo é a medida <strong>de</strong> tudo. Subordiná-lo a<br />

Deus, à humanida<strong>de</strong>, ao Estado, ao espírito, a<br />

um i<strong>de</strong>al qualquer, seja embora o do próprio<br />

homem, é impossível, pois o que é diferente do<br />

eu individual e se lhe contrapõe, é um fantasma<br />

do qual ele acaba escravo. Desse ponto <strong>de</strong><br />

vista, a única forma <strong>de</strong> convivência social é a<br />

associação <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> qualquer hierarquia,<br />

da qual o indivíduo participa para multiplicar a<br />

sua força, mas que para ele é apenas um meio.<br />

Essa forma <strong>de</strong> associação po<strong>de</strong> nascer tão-somente<br />

da dissolução da socieda<strong>de</strong> atual, que,<br />

para o homem, é o estado <strong>de</strong> natureza, e po<strong>de</strong><br />

ser somente o resultado <strong>de</strong> uma insurreição<br />

que consiga abolir todas as constituições estatais.<br />

No caráter revolucionário do A. <strong>de</strong>pois<br />

insistiram os anarquistas russos, dos quais o<br />

maior foi Mikhail Bakunin (1814-96), autor <strong>de</strong><br />

numerosos livros entre os quais um intitulado<br />

Deus e o Estado (1871), em que afirma a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>struir todas as leis, instituições e<br />

crenças existentes. A tese anarquista da<br />

contraposição nítida e radical entre todas as<br />

or<strong>de</strong>ns políticas e sociais existentes, consi<strong>de</strong>radas<br />

como o próprio mal, e a nova or<strong>de</strong>m libertária<br />

futura, consi<strong>de</strong>rada como o bem total, foi reapresentada<br />

por G. Landauer (Die Revolution,<br />

1923). (Sobre ele cf. K. MANNHEIM, I<strong>de</strong>ologia<br />

und Utopie, 1929, IV, § 1; trad. it., p. 194 ss.).<br />

ANFEBO1IA (gr. à(i(piPoA,ía; lat. Amphibolia,<br />

in. Amphiboly, fr. Amphibolie, ai. Amphibolie,<br />

it. Anfibolia). Em Aristóteles (El. sof, 4, 166 a),<br />

é um dos sofismas in dictione, mais precisamente<br />

a falácia (v.) que provém do fato <strong>de</strong> que<br />

uma frase torna-se ambígua pela construção<br />

gramatical <strong>de</strong>feituosa. Mais genericamente, o<br />

termo A. foi entendido como uma palavra que<br />

significa duas ou mais coisas (SEXTO EMPÍRICO,<br />

Pirr. hyp., II, 256). Em Kant, o termo A. é usado<br />

na expressão "A. dos conceitos <strong>de</strong> reflexão"<br />

para indicar a confusão entre o uso empíricointelectual<br />

e o uso transcen<strong>de</strong>ntal dos conceitos<br />

<strong>de</strong> reflexão como "unida<strong>de</strong>" e "multiplicida<strong>de</strong>",<br />

"matéria", "forma" e semelhantes (Crítica<br />

R. Pura, An. dos princ, Apênd.) G. P.<br />

ANFEBOLOGIA. V. ANFIBOLIA.<br />

ANGÚSTIA (in. Dead; fr. Angoisse, ai. Angst;<br />

it. Angoscia). No seu significado filosófico, isto<br />

é, como atitu<strong>de</strong> do homem em face <strong>de</strong> sua<br />

situação no mundo, esse termo foi introduzido<br />

por Kierkegaard em Conceito <strong>de</strong> angústia<br />

(1844). A raiz da A. é a existência como possibilida<strong>de</strong><br />

(v. EXISTÊNCIA). AO contrário do temor<br />

e <strong>de</strong> outros estados análogos, que sempre se<br />

referem a algo <strong>de</strong>terminado, a A. não se refere<br />

a nada preciso: é o sentimento puro da possibilida<strong>de</strong>.<br />

O homem no mundo vive <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>,<br />

já que a possibilida<strong>de</strong> é a dimensão do<br />

futuro e o homem vive continuamente <strong>de</strong>bruçado<br />

sobre o futuro. Mas as possibilida<strong>de</strong>s que<br />

se apresentam ao homem não têm nenhuma<br />

garantia <strong>de</strong> realização. Só por piedosa ilusão<br />

elas se lhe apresentam como possibilida<strong>de</strong>s<br />

agradáveis, felizes ou vitoriosas: na realida<strong>de</strong>,<br />

como possibilida<strong>de</strong>s humanas, não oferecem<br />

garantia alguma e ocultam sempre a alternativa<br />

imanente do insucesso, do fracasso e da<br />

morte. "No possível tudo é possível", diz Kierkegaard,<br />

o que quer dizer que uma possibilida<strong>de</strong><br />

favorável não tem maior segurança do<br />

que a possibilida<strong>de</strong> mais <strong>de</strong>sastrosa e horrível.<br />

Logo, o homem que se dá conta disso, reconhece<br />

a inutilida<strong>de</strong> da habilida<strong>de</strong> e diante <strong>de</strong> si<br />

só tem dois caminhos: o suicídio ou a fé, isto é,<br />

o recurso a "Aquele a quem tudo é possível". A<br />

A. é, segundo Kierkegaard, parte essencial da<br />

espiritualida<strong>de</strong> própria do homem, <strong>de</strong> sorte que,<br />

se o homem fosse anjo ou animal, não conheceria<br />

a A.: e, como efeito, logra mascará-la ou<br />

escondê-la o homem cuja espiritualida<strong>de</strong> é<br />

<strong>de</strong>masiado débil. Enquanto reflexão sobre a<br />

própria condição humana, a espiritualida<strong>de</strong> do<br />

homem está ligada à A., isto é, ao sentimento<br />

da ameaça imanente em toda possibilida<strong>de</strong><br />

humana como tal. — Na <strong>filosofia</strong> contemporânea,<br />

Hei<strong>de</strong>gger centrou na A. a sua análise existencial<br />

(v. EMOÇÃO). A A. é a situação afetiva<br />

fundamental, "que po<strong>de</strong> manter aberta a contínua<br />

e radical ameaça que vem do ser mais próprio<br />

e isolado do homem": isto é, a ameaça da<br />

morte. Na A., o homem "sente-se em presença<br />

do nada, da impossibilida<strong>de</strong> possível da sua<br />

existência". Nesse sentido, a A. constitui essencialmente<br />

o que Hei<strong>de</strong>gger chama <strong>de</strong> "o ser<br />

para a morte", isto é, a aceitação da morte como<br />

"a possibilida<strong>de</strong> absolutamente própria, incondicional<br />

e insuperável do homem" (Sein und<br />

Zeít, § 53). Mas nem por isso a A. é o medo da<br />

morte ou dos perigos que po<strong>de</strong>m provocá-la.<br />

Diz Hei<strong>de</strong>gger: "O medo tem assento no ente<br />

<strong>de</strong> que se cuida <strong>de</strong>ntro do mundo. A A., porém,<br />

brota do próprio Ser-aí. O medo chega

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!