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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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TEOLOGIA 950 TEOLOGIA<br />

nas. Foi nesse sentido generalíssimo que essa<br />

palavra foi entendida pelo gran<strong>de</strong> erudito romano<br />

Marco Terêncio Varrão (séc. I a.C), cuja<br />

distinção <strong>de</strong> três T. foi transmitida por S. Agostinho:<br />

T. mítica ou fabulosa-, T. natural ou física-,<br />

T. civil. A '1'. mítica ou fabulosa é utilizada<br />

pelos poetas e admite muitas ficções contrárias<br />

a dignida<strong>de</strong> e à natureza da divinda<strong>de</strong>. A T.<br />

natural é a dos filósofos e estuda "o que os<br />

<strong>de</strong>uses são, o lugar em que resi<strong>de</strong>m, o gênero<br />

<strong>de</strong>les, sua essência, o tempo em que nasceram<br />

ou sua perenida<strong>de</strong>, e se o princípio <strong>de</strong>les está<br />

no fogo, como crê Heráclito, nos números,<br />

como afirma Pitágoras, ou nos átomos, como<br />

acredita Epicuro". Finalmente, a T. civil "<strong>de</strong>ve<br />

ser conhecida e praticada pelos cidadãos, principalmente<br />

pek» sacerdotes-, ensini quais as<br />

divinda<strong>de</strong>s a serem veneradas publicamente e<br />

quais as cerimônias e sacrifícios a serem realizados"<br />

(AGOSTINHO, De civ. Dei, VI, 5). Nesse<br />

sentido varroniano, Viço consi<strong>de</strong>rava a sua "ciência<br />

nova" como "uma T. civil e racional da<br />

providência", porquanto sua origem está na<br />

"sabedoria comum dos legisladores que fundaram<br />

as nações e que contemplarem Deus com<br />

o atributo <strong>de</strong> provi<strong>de</strong>ncial" (Sc. n., 11. Corolário<br />

em torno dos aspectos principais <strong>de</strong>ssa ciência).<br />

Em sentido mais especificamente histórico-filosófico,<br />

é possível distinguir: \- T. metafísica;<br />

2 S T. natural; 3" T. revelada; 4 e T.<br />

negativa.<br />

l y Aristóteles chamou sua "ciência primeira",<br />

a metafísica, <strong>de</strong> T.: enten<strong>de</strong>u-a ao mesmo tempo<br />

como ciência do ser enquanto ser (ou seja,<br />

da substância) e como ciência da substância<br />

eterna, imóvel e separada (ou seja, <strong>de</strong> Deus)<br />

(Met., VI, 1, 1026 a 10). Esse conceito <strong>de</strong> T.<br />

como metafísica persistiu por longos séculos.<br />

O estóico Cleantes incluía a T. entre as partes<br />

da <strong>filosofia</strong> (DIÓG. L, VII, 41). Para Plotino, a<br />

T. era a única ciência digna <strong>de</strong>sse nome (Enn.,<br />

V, 9, 7). Desse ponto <strong>de</strong> vista, os neoplatônicos<br />

muitas vezes chamaram os filósofos —<br />

inclusive os físicos e os materialistas — <strong>de</strong> teólogos,<br />

porquanto eles se ocupavam (como diz<br />

Proclo) dos "princípios primeiríssimos das coisas<br />

subsistentes por si mesmas" (Piai. theoi. I,<br />

3). F.sse é também o significado que Varrào atribuía<br />

à expressão "T. natural". Esse uso perdurou<br />

na <strong>filosofia</strong> cristã: nem na patrística nem na<br />

primeira fase da escolástica seria possível encontrar<br />

uma <strong>de</strong>limintaçào exata entre T. e <strong>filosofia</strong>.<br />

S. Tomás mesmo, na primeira fase <strong>de</strong> sua<br />

obra, aceitou a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> entre T. e metafísica,<br />

eximo se vê no prólogo ao seu comentário à<br />

Metafísica cie Aristóteles, on<strong>de</strong> ele diz que,<br />

cc>mo a metafísica consi<strong>de</strong>ra em primeiro lugar<br />

as substâncias separadas ou divinas, em segun<strong>de</strong>'<br />

lugar o ente como tal e em terceiro lugar as<br />

causas ou os princípios primeiros, "é chamada<br />

<strong>de</strong> ciência divina ou T. quando consi<strong>de</strong>ra as<br />

substâncias separadas; <strong>de</strong> metafísica quando<br />

consi<strong>de</strong>ra o ente; (...) e <strong>de</strong> <strong>filosofia</strong> primeira<br />

quando consi<strong>de</strong>ra as causas primeiras das coisas"<br />

(In Met., Proemium).<br />

No séc. XVII começou-se a fazer a distinção<br />

entre "<strong>filosofia</strong> primeira", que também foi chamada<br />

<strong>de</strong> ontologia (v.), e T.; começou-se também<br />

a fazer a distinção entre T. como ciência<br />

natural e T. baseada na revelação. Essas distincOes<br />

estão claramente estabelecidas em De<br />

atigumentis scíentiarum (1623) <strong>de</strong> F. Bacon,<br />

que chamou <strong>de</strong> T. natural o conhecimento<br />

que se po<strong>de</strong> obter <strong>de</strong> Deus "através da luz da<br />

natureza e da contemplação das coisas criadas'<br />

(De augm. scient, III, 2), e <strong>de</strong> T. inspirada ou<br />

sagrada a que se baseia em princípios diretamente<br />

inspirados por Deus (Ibíd., III, 1).<br />

2- O segundo conceito <strong>de</strong> T. é, portanto, o<br />

<strong>de</strong>" T. natural, que se distingue do anterior só<br />

pc'lo fato <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r uma parte da metafísica,<br />

e não a sua totalida<strong>de</strong>; mais precisamente<br />

a parte que tem por objeto as coisas divinas. A<br />

expressão <strong>de</strong> Bacon, "T. natural", foi retomada<br />

e difundida por Wolff: ele a <strong>de</strong>finia como "a<br />

ciência do que é possível por obra <strong>de</strong> Deus",<br />

portanto como uma parte da <strong>filosofia</strong>, que é,<br />

ein geral, a ciência das coisas possíveis (Log.,<br />

Disc. prael., 57). Baumgarten insistia no caráter<br />

racional da T. assim entendida: "T. natural é a<br />

ciência <strong>de</strong> Deus, na medida em que po<strong>de</strong> ser<br />

conhecido sem fé" (Met., § 800), e a consi<strong>de</strong>rava<br />

fundamento da <strong>filosofia</strong> prática, da T. e da T.<br />

revelada (Ibíd., § 601). Foi esse conceito <strong>de</strong> T.<br />

que, juntamente com seu conteúdo, Kant criticou<br />

em Crítica da Razão Pura. Ele, porém,<br />

preocupou-se também em distinguir as várias<br />

espécies <strong>de</strong> 'I'., e, partindo da distinção básica<br />

entre T. racional e T. revelada, distinguiu na T.<br />

racional a T. transcen<strong>de</strong>ntal— que "concebe<br />

seu objeto simplesmente como razão pura, por<br />

meio <strong>de</strong> meros conceitos transcen<strong>de</strong>ntais (ens<br />

ofigínarium, realissimum, ens entium)" —e a<br />

T. natural, que utiliza "conceitos tomados da<br />

natureza". Por sua vez, a T. transcen<strong>de</strong>ntal<br />

po<strong>de</strong> ser cosmoteologia, se <strong>de</strong>duzir a existência<br />

<strong>de</strong> Deus da experiência em geral, ou ontoteologia,<br />

se <strong>de</strong>duzir sua existência a partir <strong>de</strong>

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