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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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MATÉRIA 2<br />

or<strong>de</strong>m e posição (Mel.. I, 4, 985 b 15), mas configuração,<br />

or<strong>de</strong>m e posição nada mais são que<br />

extensão. Extensão também é a configuração à<br />

qual, segundo Kpicuro, se reduzem todas as<br />

qualida<strong>de</strong>s cio átomo (DIÓG. L, X, 54). Assim, a<br />

hipótese atomista implica o conceito <strong>de</strong> M.<br />

como extensão, o que foi ressaltado por Guilheme<br />

<strong>de</strong> Ockham no séc. XIV: "E impossível haver<br />

M. sem extensão porque não é possível haver<br />

M. que não tenha as partes distantes umas<br />

das outras; por isso, ainda que as partes cia M.<br />

possam unir-se, como se unem as partes cia<br />

água e do ar, não po<strong>de</strong>m estar no mesmo<br />

lugar" (Summ. phys., 1, 19; QuocIL. IV, q. 23).<br />

4- O conceito cie M. como força ou energia é<br />

<strong>de</strong>fendido pela primeira vez pelos platônicos<br />

<strong>de</strong> Cambridge, no séc. XVII, sendo <strong>de</strong>pois aceito<br />

por Leibniz e por muitos filósofos do séc.<br />

XVIII. Segundo Cudworth. a M. é uma natureza<br />

plástica, uma força viva que é emanação direta<br />

<strong>de</strong> Deus ( The Tme Jtitellectual System of<br />

the ['nirerse, 1. 1, 3). H. More, assim como Descartes,<br />

reduz a M. a extensão, mas i<strong>de</strong>ntifica a<br />

extensão com o espírito, resolvendo-a em partículas<br />

indivisíveis que ele chama <strong>de</strong> manadas<br />

físicas e que nada mais têm <strong>de</strong> material (I-jicbiridion<br />

metaphysicum. I, 8, 8; I, 9, 3)- Essas consi<strong>de</strong>rações<br />

metafísicas ganharam significado<br />

mais preciso em Newton e Leibniz. Newton julgava<br />

impossível admitir que "a M. fosse isenta<br />

<strong>de</strong> qualquer tenacida<strong>de</strong> e atrito <strong>de</strong> partes, bem<br />

como <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> movimento"; consi<strong>de</strong>rava,<br />

portanto, que ela tivesse estreitíssima<br />

relação com as "forças" ou "princípios" que se<br />

manifestam na experiência (Optickis. 1704, III,<br />

1. q. 31). Para Leibniz. a M., além da extensão,<br />

é constituída por uma força passiva <strong>de</strong> resistência,<br />

que é a impenetrabilida<strong>de</strong> ou anlitipia(\.)<br />

(Op., ed. Erdmann, pp. 157, 463, 466. 691). A<br />

mesma doutrina foi aceita por Woltf, que <strong>de</strong>finia<br />

a M. como "um ente extenso provido <strong>de</strong><br />

força <strong>de</strong> inércia", e acreditava que ela possuísse<br />

força ativa por si (Cosm.. §§ 141-42). Essa<br />

interpretação cia M. tornou-se um dos temas<br />

comuns do Iluminismo e da polêmica dos iluministas<br />

contra Descartes. Di<strong>de</strong>rot dizia: "Não<br />

sei em que sentido os filósofos supuseram que<br />

a M. é indiferente ao movimento e ao repouso.<br />

É certo, porém, que todos os corpos gravitam<br />

uns sobre os outros, que todas as partículas dos<br />

corpos gravitam umas sobre as outras, que neste<br />

universo tudo está em translação ou in nisu.<br />

ou em translação e in nisu ao mesmo tempo"<br />

(Príncipes phil. surla matière et le monvemenl,<br />

648 MATÉRIA 2<br />

em Giuir.phil, ed. Verniére, p. 393). Essa concepção<br />

também foi aceita por Kant que dizia:<br />

"A M. enche um espaço, não através <strong>de</strong> sua<br />

existência pura, mas por meio <strong>de</strong> uma força<br />

motriz, particular": a força repulsiva <strong>de</strong> todas as<br />

suas partes (Metaphysische Anfangsgrün<strong>de</strong> <strong>de</strong>r<br />

Natunvissenschaft, II. Lehrsatz, 2, 3). O conceito<br />

romântico <strong>de</strong> M. como força oti ativida<strong>de</strong>,<br />

expresso por Schelling. p. ex., é apenas uma<br />

ampliação <strong>de</strong>ssa doutrina. Segundo Schelling,<br />

as três dimensões da M. são <strong>de</strong>terminadas pelas<br />

três forças que a constituem: força expansiva,<br />

força atrativa e uma terceira força sintética,<br />

que correspon<strong>de</strong>m, em sua natureza, ao<br />

magnetismo, á eletricida<strong>de</strong> e ao quimismo, respectivamente<br />

(System <strong>de</strong>r transzen<strong>de</strong>ntalen<br />

I<strong>de</strong>alismus, III, cap. II, Dedução da matéria;<br />

trad. it.. pp. 109 ss.). Mais genericamente,<br />

Schopenhauer i<strong>de</strong>ntificava M. com ativida<strong>de</strong><br />

(Die Welt, I, § 4). No domínio científico, esse<br />

ponto <strong>de</strong> vista foi realizado como energismo<br />

(v.). G. Ostwald sustentou, no fim do século<br />

passado, que o conceito <strong>de</strong> M. era perfeitamente<br />

inútil para a ciência da natureza, propondo<br />

a sua substituição pelo conceito <strong>de</strong> energia (Die<br />

1'benríndung <strong>de</strong>s wíssenschaftlichen Mctterialismus,<br />

1895).<br />

5 a Embora não se possa chamar <strong>de</strong> conceito<br />

<strong>de</strong> M. a redução <strong>de</strong> M. a percepções ou idéias,<br />

proposta por Berkeley, porque isso é simplesmente<br />

negá-la, é possível aceitar a <strong>de</strong>finição<br />

dada por Mach, <strong>de</strong> que a M. é uma "conexão<br />

<strong>de</strong>terminada <strong>de</strong> elementos sensíveis em conformida<strong>de</strong><br />

com uma lei" (Analyse <strong>de</strong>r Rrnpfindungen.<br />

XIV, 14). Essa <strong>de</strong>finição não ten<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />

fato. a negar a matéria ou a reduzi-la a elementos<br />

subjetivos e psíquicos, mas a substituir a rigi<strong>de</strong>z<br />

e inércia tradicionalmente atribuídas à<br />

M. pela estabilida<strong>de</strong> relativa cie uma lei. Nesta<br />

<strong>de</strong>finição, o conceito fundamental é <strong>de</strong> lei,<br />

entendida como expressão <strong>de</strong> uma conexão<br />

constante. A M. seria precisamente a conexão<br />

constante na qual se apresentam agrupados<br />

os elementos últimos das coisas, ou seja,<br />

as sensações.<br />

6 a Os usos anteriores são todos cie natureza<br />

filosófica, apesar cie algumas vezes terem sido<br />

propostos ou sustentados por cientistas. No<br />

domínio da ciência, mais precisamente da mecânica,<br />

a noção <strong>de</strong> M. se i<strong>de</strong>ntifica com a <strong>de</strong><br />

massa (<strong>de</strong>finida pelo segundo princípio da<br />

dinâmica como relação entre a força e a aceleração<br />

imprimida). A massa po<strong>de</strong> ser entendida<br />

como massa inercial ou como peso. O princí-

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