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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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FORÇA 468 FORMA<br />

mesmo, seria ela mesma F. Diz: "A percepção<br />

interna ou imediata é a consciência <strong>de</strong> uma F.<br />

que é meu próprio eu e que serve <strong>de</strong> exemplo<br />

para todas as noções gerais e universais <strong>de</strong><br />

causa e <strong>de</strong> F." {Nouveaux essais d'anthropologie,<br />

1823-24, em ÇEuvres, ed. Naville, III, p.<br />

5). Praticamente na mesma época Schopenhauer<br />

realizava a mesma passagem da psicologia<br />

para a metafísica, reconhecendo como<br />

única F. constitutiva da essência do mundo a<br />

que o homem percebe imediatamente em si<br />

mesmo, ou seja, a vonta<strong>de</strong> {Die Welt ais Wille<br />

und Vorstellung, 1819). Isso <strong>de</strong>ve ser entendido<br />

no sentido <strong>de</strong> que ao homem mostra-se<br />

como vonta<strong>de</strong> a mesma potência ativa que nas<br />

outras partes da natureza se manifesta como<br />

F.: "Se, portanto, eu disser que a F. que faz a<br />

pedra cair no chão, em sua essência, em si e<br />

fora <strong>de</strong> qualquer representação, é vonta<strong>de</strong>, não<br />

se <strong>de</strong>verá atribuir a essa afirmação o insensato<br />

significado <strong>de</strong> que a pedra se move segundo<br />

um motivo conhecido pelo fato <strong>de</strong> que no homem<br />

a vonta<strong>de</strong> se manifesta <strong>de</strong>ste modo" {Ibid.,<br />

I, § 19)- Esta i<strong>de</strong>ntificação da F. que o homem<br />

conhece pela experiência interior com a F. que<br />

age no mundo continua constituindo a base<br />

das <strong>filosofia</strong>s espiritualistas. A doutrina <strong>de</strong><br />

Bergson, segundo a qual um elã vital, que se<br />

revela à consciência humana como duração<br />

real, dá origem à vida penetrando e organizando<br />

a matéria {Évol. créatr., cap. I), obe<strong>de</strong>ce ao<br />

mesmo critério fundamental. Mas essa postura<br />

também é assumida pelas doutrinas materialistas:<br />

admitir, a exemplo <strong>de</strong> Haeckel {Die Weltrãtsel,<br />

1899), uma única F. que explica todo<br />

<strong>de</strong>vir do universo e é análoga à que se revela<br />

na consciência do homem significa obe<strong>de</strong>cer à<br />

mesma interpretação da noção <strong>de</strong> F.<br />

b) Por outro lado, a redução <strong>de</strong>ssa noção a<br />

experiência interna por vezes significou uma<br />

crítica à própria noção, porque consi<strong>de</strong>rada<br />

como sinal do seu caráter arbitrário. A este respeito,<br />

Locke evi<strong>de</strong>nciara que a idéia <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

{Power) <strong>de</strong>rivara da reflexão do espirito sobre<br />

suas operações {Ensaio, II, 21, 4). Com o fim<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r sua concepção do universo como linguagem<br />

ou manifestação <strong>de</strong> Deus, Berkeley foi<br />

levado a retirar o caráter realista dos conceitos<br />

da ciência: "F., gravida<strong>de</strong>, atração e termos semelhantes<br />

convém ao fim <strong>de</strong> raciocinar e <strong>de</strong> fazer<br />

cálculos sobre o movimento e sobre todos<br />

os corpos que se movem, mas não ao fim <strong>de</strong><br />

compreen<strong>de</strong>r a natureza do próprio movimento"<br />

{De motu, § 17; Siris, § 234). Hume por sua<br />

vez <strong>de</strong>monstrou que nem da experiência interna<br />

nem <strong>de</strong> qualquer outra fonte o espírito<br />

po<strong>de</strong> extrair uma idéia clara e real <strong>de</strong> F.: "E certo<br />

que ignoramos a maneira como os corpos<br />

agem um sobre o outro, e que sua F. ou energia<br />

nos é <strong>de</strong> todo incompreensível, porém somos<br />

igualmente ignorantes sobre a maneira ou<br />

F. com que uma mente, conquanto suprema,<br />

age sobre si mesma e sobre os corpos. De qual<br />

<strong>de</strong>ssas coisas, pergunto, conseguimos fazer<br />

uma idéia?... O que é mais difícil conceber: que<br />

o movimento nasce <strong>de</strong> um choque ou que nasce<br />

<strong>de</strong> um ato <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>? Tudo o que conhecemos<br />

é nossa ignorância profunda em ambos os<br />

casos" {Inq. Cone. Un<strong>de</strong>rst, VII, 1). Essa crítica<br />

<strong>de</strong> Hume é clássica e, sob certo aspecto, <strong>de</strong>finitiva.<br />

Mach consi<strong>de</strong>rou "fetichismo" o uso<br />

do conceito <strong>de</strong> F., aliás tanto quanto o <strong>de</strong> causa,<br />

que <strong>de</strong>sejava substituir pelo conceito <strong>de</strong><br />

função {Analyse <strong>de</strong>r Empfindungen, 9 a ed.,<br />

1922, p. 74; Populãwissenschaftlichen Vorlossugen,<br />

1896, p. 259; trad. in., 1943, p. 254). Por<br />

outro lado, pelo fato <strong>de</strong> esse conceito ter <strong>de</strong>ixado<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar o interesse da ciência também <strong>de</strong>ixou<br />

<strong>de</strong> ter interesse para a crítica metodológica.<br />

Portanto, hoje se apresenta como conceito científico<br />

antiquado, que serve <strong>de</strong> pretexto (embora<br />

cada vez mais raramente) para especulações<br />

metafísicas (cf. MAX JAMMER, Concepts of<br />

Force, 1957: obra rica <strong>de</strong> informações conquanto<br />

dúbia e confusa ao <strong>de</strong>limitar a noção <strong>de</strong> que<br />

trata).<br />

FORMA (gr. (lopcpn, £Í5oç; lat. Forma; in.<br />

Form; fr. Forme, ai. Form; it. Forma). Esse termo<br />

tem as seguintes significações principais:<br />

I a Essência necessária ou substância das coisas<br />

que têm matéria. Nesse sentido, que está<br />

presente em Aristóteles, F. não só se opõe a<br />

matéria, mas a pressupõe. Aristóteles usa, portanto,<br />

esse termo com referência às coisas naturais<br />

que são compostas <strong>de</strong> matéria e F., e observa<br />

que a F. é mais "natureza" que a matéria,<br />

uma vez que <strong>de</strong> uma coisa diz-se aquilo que<br />

ela é em ato (a F.), e não o que é em potência<br />

(Fís., II, 1, 193 b 28; Met., IV, 1015 a 11). Desse<br />

ponto <strong>de</strong> vista, não se po<strong>de</strong> dizer que são F. as<br />

substâncias imóveis {Deus e as inteligências<br />

motrizes), que são isentas <strong>de</strong> matéria, mas são<br />

F. as substâncias naturais em movimento. Don<strong>de</strong><br />

a polêmica <strong>de</strong> Aristóteles contra o platonismo,<br />

com o objetivo <strong>de</strong> afirmar a inseparabilida<strong>de</strong><br />

entre F. e matéria. Os escolástícos<br />

não se ativeram rigorosamente a essa terminologia<br />

aristotélica e esten<strong>de</strong>ram o termo F. a

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