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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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ESCOLHA 345 ESCOLHA<br />

(p. ex., por parte <strong>de</strong> De Wulf, Histoire <strong>de</strong> Ia<br />

philosophie médíévale, 1900, e ed. seguintes),<br />

mas essas tentativas não têm base histórica e<br />

reduzem-se a alijar da E. gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong><br />

autores e a estabelecer concordâncias e uniformida<strong>de</strong>s<br />

fictícias entre os outros (cf. Abbagnano,<br />

Storia <strong>de</strong>llafil, 2 a ed., 1958, 1, § 171, e a<br />

bibliografia correspon<strong>de</strong>nte).<br />

2. Por extensão, po<strong>de</strong>-se chamar <strong>de</strong> E. qualquer<br />

<strong>filosofia</strong> que assuma a tarefa <strong>de</strong> ilustrar e<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r racionalmente <strong>de</strong>terminada tradição<br />

ou revelação religiosa. Para isso, via <strong>de</strong> regra,<br />

essa E. lança mão <strong>de</strong> uma <strong>filosofia</strong> já estabelecida<br />

e famosa; <strong>de</strong> tal sorte que, nesse sentido, a<br />

E. é a utilização <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada <strong>filosofia</strong> para a<br />

<strong>de</strong>fesa e a ilustração <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada tradição<br />

religiosa (v. FILOSOFIA). Nesse sentido genérico<br />

são muitas as E., tanto na Antigüida<strong>de</strong> quanto<br />

no mundo mo<strong>de</strong>rno: na Antigüida<strong>de</strong> o neoplatonismo,<br />

o neopitagorismo, etc.; na Ida<strong>de</strong><br />

Média, a <strong>filosofia</strong> dos árabes e dos ju<strong>de</strong>us;<br />

no mundo mo<strong>de</strong>rno, são escolásticas as <strong>filosofia</strong>s<br />

<strong>de</strong> Malebranche, <strong>de</strong> Berkeley, da direita<br />

hegeliana, <strong>de</strong> Rosmini, <strong>de</strong> muitos espiritualistas,<br />

etc.<br />

ESCOLHA (gr. ocipemç, 7ipoocípemç; lat.<br />

Electio; in. Choice, fr. Choix, ai. Wahl; it. Sceltá).<br />

Procedimento pelo qual <strong>de</strong>terminada possibilida<strong>de</strong><br />

é assumida, adotada, <strong>de</strong>cidida ou realizada<br />

<strong>de</strong> um modo qualquer, preferentemente a outras.<br />

O conceito <strong>de</strong> E. está estreitamente vinculado<br />

ao <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>'(v.), <strong>de</strong> tal modo que<br />

não só não há E. on<strong>de</strong> não há possibilida<strong>de</strong> (visto<br />

ser justamente a possibilida<strong>de</strong> o que se oferece<br />

à E.), como tampouco há possibilida<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

não há E., já que a antecipação, a projeção ou a<br />

simples previsão das possibilida<strong>de</strong>s são escolhas.<br />

Por outro lado, o conceito <strong>de</strong> E. é uma das<br />

<strong>de</strong>terminações fundamentais do conceito <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong><br />

(v.).<br />

O conceito <strong>de</strong> E. é constante em Platão, que,<br />

usando o mito <strong>de</strong> Er, mostra que o <strong>de</strong>stino do<br />

homem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da E. que ele faz do mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> vida: "Não havia nada <strong>de</strong> necessariamente<br />

preestabelecido para a alma porque cada uma<br />

<strong>de</strong>via mudar segundo a E. que fizesse" (Rep., X,<br />

618 b). Mas foi Aristóteles quem fez a primeira<br />

análise exaustiva da E., distinguindo-a: l s do<br />

<strong>de</strong>sejo, que é comum também aos seres irracionais,<br />

ao passo que a E. não é (Et. nic, III, 2,<br />

1111 b 3); 2 S da vonta<strong>de</strong>, porque também se<br />

po<strong>de</strong>m querer as coisas impossíveis (p. ex., a<br />

imortalida<strong>de</strong>), mas não escolher (Ibid., 1111b<br />

19); 3 S da opinião, que também po<strong>de</strong> referir-se<br />

às coisas impossíveis (p. ex., as eternas) que<br />

não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> nós (Ibid., 1111 b 30). A<br />

essas <strong>de</strong>terminações negativas Aristóteles<br />

acrescentou a <strong>de</strong>terminação positiva <strong>de</strong> que a<br />

E. "é sempre acompanhada por razão e pensamento"<br />

(Ibid., 1112 a 15). A essa <strong>de</strong>terminação<br />

po<strong>de</strong>-se acrescentar outra, fundamental, extraída<br />

das <strong>de</strong>terminações negativas: a E. diz<br />

respeito só às coisas possíveis. Essa última <strong>de</strong>terminação,<br />

que é a fundamental, era explicitamente<br />

ressaltada por S. Tomás, que repetia<br />

substancialmente a análise aristotélica (S. Th.,<br />

II, 1, q. 13, a. 5).<br />

A noção <strong>de</strong> E. sempre foi amplamente utilizada<br />

pelos filósofos, em especial na discussão<br />

do problema da liberda<strong>de</strong> (v.), mas não foi<br />

analisada com freqüência. A partir <strong>de</strong> Kierkegaard,<br />

a <strong>filosofia</strong> da existência enfatizou o<br />

valor da E. no que concerne à própria personalida<strong>de</strong><br />

do homem ou à sua existência, consi<strong>de</strong>rando<br />

a E. sobretudo sob o ângulo da sua própria<br />

possibilida<strong>de</strong>, ou seja, como E. da escolha.<br />

Diz Kierkegaard: "A E. é <strong>de</strong>cisiva para o conteúdo<br />

da personalida<strong>de</strong>: com a E. ela aprofunda-se<br />

na coisa escolhida, mas se não escolhe<br />

<strong>de</strong>finha" (Werke, II, p. 1.48). Desse ponto <strong>de</strong><br />

vista, a E. importante não é entre o bem e o<br />

mal, mas entre escolher e não escolher. "Com<br />

essa E., não escolho entre o bem e o mal, mas<br />

escolho o bem; mas, porquanto escolho o<br />

bem, escolho com isso a escolha entre o bem<br />

e o mal. A E. original está sempre presente em<br />

toda E. ulterior" (Ibid., II, p. 196). Esse conceito<br />

foi freqüentemente repetido no existencialismo<br />

contemporâneo. Segundo Hei<strong>de</strong>gger, a E.<br />

autêntica é a E. do que já foi escolhido, a E. das<br />

possibilida<strong>de</strong>s que já são do homem. "Repetição<br />

da E. significa escolhimento <strong>de</strong>ssa E.,<br />

opção por uma possibilida<strong>de</strong> que tem raiz no<br />

si-mesmo. Ao escolher a E., o ser-aí possibilita<br />

pela primeira vez o seu autêntico po<strong>de</strong>r-ser"<br />

(Sein undZeit, § 54). Mas nesse sentido a "E. da<br />

E." é simplesmente a aceitação ou o reconhecimento<br />

daquilo que se é, renunciando-se a<br />

qualquer pretensão <strong>de</strong> mudança ou libertação.<br />

No mesmo sentido, Jaspers diz: "Não posso recomeçar<br />

e escolher entre ser eu mesmo e não<br />

ser eu mesmo, como se a liberda<strong>de</strong> fosse apenas<br />

um instrumento. Mas, quando escolho, sou,<br />

e, se não sou, não escolho" (Phil, II, p. 182).<br />

Quer dizer: o que posso escolher é apenas<br />

meu eu-mesmo: o eu-mesmo que é idêntico à<br />

situação, ao lugar áz realida<strong>de</strong> em que me encontro<br />

(Ibid., I, p. 245). A E. da E. na verda<strong>de</strong> é

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