22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ECONOMIA POLÍTICA 300 ECONOMIA POLÍTICA<br />

como "ciência da or<strong>de</strong>m natural", e a doutrina<br />

<strong>de</strong>ssa or<strong>de</strong>m era ilustrada no Tableau économique<br />

(1758) <strong>de</strong> François Quesnay e em Refléxions<br />

sur Ia formation et Ia distribution <strong>de</strong>s<br />

richesses(1776) <strong>de</strong> Turgot. Essa doutrina é análoga<br />

e correspon<strong>de</strong>nte à do jusnaturalismo (v.):<br />

a or<strong>de</strong>m natural é racional, portanto uma<br />

or<strong>de</strong>m segundo a qual todo indivíduo po<strong>de</strong> alcançar<br />

o maior proveito possível com o mínimo<br />

esforço. Graças a esse caráter, essa or<strong>de</strong>m<br />

garante a coincidência entre interesse particular<br />

e o interesse geral, <strong>de</strong> tal modo que "o mundo<br />

caminha por si mesmo", e o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> bemestar<br />

confere à socieda<strong>de</strong> uma tendência contínua<br />

ao progresso. Mas está claro que, se a or<strong>de</strong>m<br />

natural dos fenômenos econômicos é a<br />

única possível, qualquer tentativa <strong>de</strong> intervir<br />

nela para modificá-la é, além <strong>de</strong> inútil, prejudicial,<br />

e portanto a máxima fundamental da política<br />

econômica <strong>de</strong>ve ser a <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixá-la caminhar<br />

por sua própria conta. Laisser faire, laisser<br />

passer foi o lema que os fisiocratas opuseram<br />

aos obstáculos que a or<strong>de</strong>nação, ainda parcialmente<br />

medieval, das ativida<strong>de</strong>s econômicas e<br />

as doutrinas mercantilistas haviam multiplicado.<br />

Adam Smith só fez aceitar o princípio fisiocrático<br />

em An Inquiry into theNature and Causes<br />

of the Wealth ofNations (177'6), que costuma<br />

ser consi<strong>de</strong>rado o início da fase científica da<br />

economia. Segundo Adam Smith, existe uma<br />

or<strong>de</strong>m harmoniosa e benéfica das coisas, que<br />

se manifesta sempre que a natureza fica entregue<br />

a si mesma. As instituições humanas muitas<br />

vezes alteraram ou perturbaram a or<strong>de</strong>m<br />

natural, mas esta ainda po<strong>de</strong> ser encontrada<br />

sob as superestruturas históricas que a ocultam.<br />

Deve ser tarefa da ciência <strong>de</strong>scobrir as<br />

leis <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong>ssa or<strong>de</strong>m e prescrever<br />

os meios pelos quais ela po<strong>de</strong> ser integralmente<br />

realizada nas socieda<strong>de</strong>s humanas. Abolidos<br />

os sistemas <strong>de</strong> proteção ou <strong>de</strong> restrição, "o sistema<br />

simples e fácil da liberda<strong>de</strong> natural instaura-se<br />

por si mesmo". A única regra que esse<br />

sistema comporta é a liberda<strong>de</strong> ilimitada dos<br />

sujeitos econômicos. De fato, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa<br />

liberda<strong>de</strong>, permite-se a ação da força natural<br />

própria da natureza humana, que, com sua<br />

ação constante em todos os homens, garante a<br />

realização da or<strong>de</strong>m econômica: a tendência<br />

egoísta. Smith acredita que em todas as circunstâncias<br />

os homens ten<strong>de</strong>m a agir no sentido <strong>de</strong><br />

seu verda<strong>de</strong>iro interesse e que, assim agindo,<br />

não só realizam o seu bem pessoal, mas também<br />

o bem coletivo. Em outros termos, como<br />

já acreditavam os fisiocratas, a or<strong>de</strong>m natural<br />

age como or<strong>de</strong>m provi<strong>de</strong>ncial: a harmonia entre<br />

o interesse individual e o interesse público<br />

está previamente garantida, e Smith não acha<br />

possível o conflito entre os dois interesses. Foi<br />

esse o princípio clássico do liberalismo econômico,<br />

cujas exigências básicas Smith enuncia:<br />

a negação <strong>de</strong> qualquer função econômica do<br />

Estado e a concepção <strong>de</strong> que a concorrência é<br />

a gran<strong>de</strong> força reguladora dos valores econômicos.<br />

As análises subseqüentes dos economistas<br />

mostraram, todavia, que a or<strong>de</strong>m econômica<br />

não anda sozinha em todos os seus aspectos<br />

e que nem sempre a ação das forças que a<br />

regem é benéfica. Em An Essay on the Principies<br />

ofPopulation (1798), Malthus mostrava que o<br />

<strong>de</strong>sequilíbrio que ten<strong>de</strong> a ocorrer entre a entida<strong>de</strong><br />

população e a entida<strong>de</strong> meios <strong>de</strong> subsistência<br />

(que crescem em proporções muito diferentes,<br />

a primeira superando <strong>de</strong> muito a segunda)<br />

só é restabelecido à custa <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

males, como epi<strong>de</strong>mias, guerras e flagelos sociais.<br />

E David Ricardo, em seus Principies of<br />

Political Economy (1817), evi<strong>de</strong>nciava alguns<br />

conflitos essenciais entre o interesse geral e o<br />

interesse privado. Assim, o fenômeno da renda<br />

fundiária mostra que o proprietário <strong>de</strong> terras<br />

tem interesse no crescimento rápido das necessida<strong>de</strong>s<br />

e na manutenção <strong>de</strong> preços altos,<br />

para os produtos agrícolas (condições que elevam<br />

a renda fundiária): assim, o que é útil para<br />

ele empobrece os outros cidadãos. A análise<br />

do salário dos operários evi<strong>de</strong>nciava o antagonismo<br />

entre salário e lucro, em virtu<strong>de</strong> do qual<br />

um só po<strong>de</strong> crescer em <strong>de</strong>trimento do outro.<br />

Na mesma linha estão as críticas <strong>de</strong> Sismondi,<br />

em Nouveaux príncipes d'economie politique<br />

(1819). Explica-se assim o surgimento das primeiras<br />

doutrinas socialistas, que, embora reconhecendo<br />

a realida<strong>de</strong> da or<strong>de</strong>m econômica,<br />

preten<strong>de</strong>m intervir nela e dirigi-la para resultado<br />

melhor. Assim, St.-Simon {Vindustrie, 1817;<br />

UOrganisateur, 1819-20) <strong>de</strong>lineava os princípios<br />

<strong>de</strong> uma or<strong>de</strong>m econômica i<strong>de</strong>al, que se<br />

baseava no industrialismo, mas era isenta dos<br />

<strong>de</strong>feitos da or<strong>de</strong>m natural. Na socieda<strong>de</strong> nova,<br />

organizada segundo esse i<strong>de</strong>al, não <strong>de</strong>veria haver<br />

classes, só trabalhadores, e todas as nações<br />

se transformariam numa única associação produtiva<br />

cujo fim seria alcançar, através <strong>de</strong> trabalhos<br />

pacíficos, a prosperida<strong>de</strong> máxima. Outros<br />

socialistas como Owen, Fourier e Blanc, distinguem-se<br />

<strong>de</strong> St.-Simon por preconizarem uma<br />

organização social em que os indivíduos, reuni-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!