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Maria Leonor Simões dos Santos Intercompreensão, aprendizagem ...

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6.1.1b) Compreender: ilusão da transparência<br />

A concentração no vocábulo isolado, que vimos anteriormente, só é possível<br />

de compreender se considerarmos a existência, nas alunas, de uma excessiva<br />

confiança na “transparência”, no facto de a semelhança lexical (patente em termos<br />

gráficos ou, eventualmente, fonológicos, fruto de uma tentativa de oralização; cf.<br />

Capítulo 6.2.3) da nova forma verbal com uma outra forma de outra língua,<br />

eventualmente mais conhecida e melhor compreendida, significar uma exacta<br />

equivalência de significado, facto que, por si só, bastaria para a compreensão 15 :<br />

(25) E em que termos é que vocês faziam essa análise? / que tipo de análise digamos<br />

assim //<br />

(26) I era só a associação de algumas palavras... / esta é conhecida... esta também...<br />

ligávamos e... era assim que nós chegávamos lá<br />

(Apêndice II.1 – nº51).<br />

Isto é, a forma como as alunas começavam por abordar os textos, a sua<br />

tendência para a tradução palavra a palavra, apoiadas num processo de<br />

descodificação que, à falta de outros recursos, partia da identificação de algumas<br />

transparências (cf. Capítulo 6.2.4) para, a partir delas, extrapolar para o significado<br />

global das frases ou textos, indiciam a ilusão de que (quase) só a transparência<br />

basta, de que por ela se pode aspirar à compreensão de uma outra língua. Esta<br />

observação aproxima-se de um <strong>dos</strong> resulta<strong>dos</strong> de um estudo com monolingues e<br />

bilingues apresentado por Gajo (1996: 434), em que também ele conclui que, para<br />

ambos os perfis de sujeitos, o léxico desempenha um papel fundamental na<br />

compreensão, mas os monolingues atribuem-lhe uma importância particular,<br />

patente numa forte focalização sobre a palavra: le sujet exploite donc des<br />

ressemblances ressenties entre les langues, même s’il exprime par ailleurs sa méfiance à<br />

15 Consideramos aceitável, a propósito do que é uma “palavra transparente”, o comentário de López Alonso &<br />

Séré de Olmos, a saber: la transparence linguistique est une notion qui n’est pas seulement d’ordre linguistique mais<br />

peut dériver de la construction du script par inférence (1996: 446); neste caso, “transparente” seria toda a palavra<br />

que os sujeitos, por comparação directa ou por inferência, conseguissem decifrar (aquilo a que Andrade, 1999:<br />

61, se refere como a “capacidade de tornar transparentes as palavras de outra língua”). Face aos da<strong>dos</strong> que<br />

estamos a analisar, porém, parece-nos mais profícuo um entendimento mais “ao pé da letra” deste conceito,<br />

dado que é o que melhor dá conta do ocorrido em termos das acções das nossas aprendentes, como se verá (cf.<br />

Capítulo 6.2.4).<br />

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