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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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desdobramento dessa posição obscena diante do outro, mas não é aquilo absolutamente que o sujeito<br />

busca e tem a intenção de obter (Birman, 2006: 28).<br />

A adesão masoquista do imigrante mostra dois vieses. Se, pelo desencanto e pela<br />

frustração aos que ele foi conduzido por não haver sido capaz de amortecer, na sua pátria, o<br />

desamparo em que se encontrava, o indivíduo opta por se expatriar e se sujeitar ao que lhe<br />

concedam os outros para assim conseguir o triunfo e o gozar, esse anseio de redenção<br />

requerer-lhe-á a aceitação de um novo desamparo em que o deixará o seu estatuto de<br />

trabalhador estrangeiro, com a conseqüente humilhação, e o ressentimento, que se podem<br />

derivar da perda de auto-estima por se ocupar uma posição servil desde uma perspectiva<br />

nacional. Assim, frente ao desamparo penoso que, como trabalhador insatisfeito, ou<br />

desempregado, sofria na sua pátria, o desamparo que lhe ocasiona se sentir e ser<br />

reconhecido como estrangeiro é a contrapartida dolorosa do comprazimento de se redimir<br />

podendo trabalhar em consonância com as suas ambições e podendo aspirar à obtenção de<br />

riqueza e de distinção.<br />

O exílio dissimulado<br />

Na introdução de Brasil, país do futuro, Stefan Zweig frisou que a pesquisa que<br />

derivara na obra fugira ao “seu habitual círculo de atividade”. Esclareceu que ela era<br />

conseqüência do impacto que recebera ao conhecer o Brasil, um país no qual não acreditara<br />

que poderia residir pelas imagens preconceituosas que dele tinha. Zweig descreve, como se<br />

segue, a idéia que formara sobre o Brasil:<br />

uma república qualquer das da América do Sul, que não distinguimos bem umas das outras, com<br />

clima quente, insalubre, com condições políticas de intranqüilidade e finanças arruinadas, mal<br />

administrada e só parcialmente civilizada nas cidades marítimas, mas com bela paisagem e com<br />

muitas possibilidades não aproveitadas – país, portanto, para emigrados ou colonos e, de modo<br />

nenhum, país do qual se pudesse esperar estímulo para o espírito. Uma visita de dez dias a tal país<br />

parecia-me suficiente para quem não é geógrafo, colecionador de borboletas, caçador, sportsman ou<br />

negociante (Zweig, [1941] 1960: 3).<br />

Zweig supunha que, no Brasil, só permaneceria o breve tempo que durasse a escala,<br />

na cidade de Rio de Janeiro, de uma viagem transatlântica que empreendera rumo a Buenos<br />

Aires. Todavia, no Rio descobrira, além de uma rara combinação entre montanha, natureza<br />

tropical, cidade e mar, que o comovera, “uma espécie inteiramente nova de civilização”,<br />

bela e dinâmica, em todos os campos, incluídos a arquitetura e o urbanismo.<br />

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