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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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1934; Sangue e Areia, valsa de Mário Reis e Vicente Celestino, de 1944; Glória de<br />

toureiro, de 1955, de Mário Mascarenhas; Dolores Sierra e Carmem Rodriguez Fernandez,<br />

ambas de 1956, e Flor de Madri, de 1957, de Eduardo Patané 379 .<br />

Consideramos que Pinto do Carmo esboçou a primeira ampla recopilação de<br />

elementos repertoriais da cultura espanhola na cultura brasileira especialmente ao longo dos<br />

seguintes capítulos de Presença de Espanha: Iniciação na poesia e reflexos posteriores –<br />

Divulgadores da lira brasileira –, Entre a narrativa histórica e a picaresca na prosa de<br />

ficção, Pintores e expositores – Um mestre da arquitetura –, Incentivação ao Teatro e ao<br />

Cinema, Depoimento sobre a música, Cervantes entre nós e Bartolomé de las Casas e<br />

Rondon. Neles apresenta-se uma abrangente nominata de produtores culturais do Brasil<br />

oriundos da Espanha junto à exposição das obras por eles criadas.<br />

Como se depreende dos títulos dos capítulos, o autor divide a exposição das suas<br />

pesquisas entre as áreas de poesia, narrativa, pintura e arquitetura, teatro e cinema, e<br />

música. Além disso, ele executou dois estudos monográficos, um sobre a recepção da obra<br />

de Cervantes no Brasil e outro sobre a vinculação da defesa do índio no Brasil à tradição,<br />

no direito espanhol, jusnaturalista e cristã relativa à proteção dos nativos americanos.<br />

Pinto do Carmo remonta o concurso espanhol na formação das letras brasileiras à<br />

obra do tinerfenho P. Anchieta S.J. 380 e salienta a influência de um presumível repertório<br />

379 Da canção O cigano, Pinto do Carmo (1960: 34) informa que foi uma das composições mais solicitadas<br />

entre 1924 e 1930. Dela transcreve o seguinte fragmento, do qual destaca a “doçura e romantismo”: “Um dia,/<br />

Eu em Andaluzia/ Ouvi um cigano cantar./ E era a canção tão sincera/ que eu a julguei para mim.” De<br />

Manolita, de Sangue e Areia e de Flor de Madri, Pinto do Carmo (1960: 35) informa que compartilham o<br />

leitmotiv, “uma mulher que ama um toureiro e tem a desventura de saber que ele faleceu na arena, numa luta<br />

fatal”. Dessa última canção mencionada, Pinto do Carmo transcreve a letra: “Carmem/ Escolheu com seu<br />

olhar/ Para seu amor, seu par,/ Um valente toureador,/ Que na arena o fim/ Carmem viu./ E não quis jamais<br />

amar ninguém/ Pra não trair seu bem/ De tristeza se cobriu/ Seu olhar não brilha mais/ Nem pode ter aquela<br />

luz/ Que fugiu./ O que passar sob os céus de Madri/ Vê, sim, há de ver./ Sem lar, sem ninguém/ A mulher que<br />

ficou/ A esperar um amor/ Que não vem/ Não vem... não vem...”. Pinto do Carmo acredita que, no Brasil, ao<br />

redor dos matizes da personagem “Carmem de Espanha”, como endeusada protagonista de marchas<br />

carnavalescas e canções, teceu-se uma representação da mulher espanhola da qual se projetam imagens de<br />

aventura e amor.<br />

380 Pinto do Carmo (1960: 37-39) levanta as vacilações que, devido à natureza religiosa e à intenção didática e<br />

catequística da produção escrita do jesuíta, houve entre historiadores e críticos da literatura brasileira em<br />

relação à sua inserção na nomenclatura canonizada dos produtores das letras coloniais do Brasil. Assim,<br />

destaca que Sílvio Romero, Nelson Werneck Sodré, Ronald de Carvalho, Sérgio Buarque de Holanda e<br />

Domingos Carvalho da Silva o integraram na literatura brasileira e que Cassiano Ricardo, além de o<br />

considerar o primeiro escritor brasileiro, percebeu na sua obra a primeira manifestação do indianismo. Pinto<br />

do Carmo (1960: 38-39) apóia a sua menção sobre o juízo que a obra de Anchieta merecera a Cassiano<br />

Ricardo na seguinte citação de um comentário dele contido no seu tratado de 1955 A Literatura no Brasil:<br />

“Para civilizar o índio era preciso antes assimilar-lhe os padrões culturais; era mister “ficar sendo índio” o<br />

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