26.03.2015 Views

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

65), no capítulo Entre a narrativa histórica e a picaresca na prosa de ficção, faz o mesmo<br />

exercício, isto é, tenta mostrar como a literatura espanhola funcionou como fonte de<br />

elementos repertoriais da literatura brasileira. Além disso menciona um espanhol, o tenente<br />

de cavalos ao serviço de Portugal, José de Mirales, natural de Xatira (Valência), assentado<br />

na Bahia até a sua morte, aos 84 anos, em 1770, quem escreveu a História Militar no<br />

Brasil 402 . Nesse capítulo, Pinto do Carmo não se detém em nenhum outro prosador<br />

espanhol que, havendo residido no Brasil, tenha publicado no Brasil, ou em relação ao<br />

Brasil, algum produto narrativo. Para ressaltar a influência da prosa literária espanhola nos<br />

primeiros produtos literários qualificados pela crítica como genuinamente brasileiros, Pinto<br />

do Carmo faz o seguinte exercício. Baseando-se no número de edições como indicativo do<br />

sucesso obtido pelos produtos da prosa de ficção entre os seus consumidores<br />

contemporâneos, Pinto do Carmo descarta como narrativas importantes do processo de<br />

construção da “ficção nacional” as novelas e romances de Lucas José Alvarenga, Teresa<br />

Margarida da Silva e Orta, Teixeira e Sousa e Joaquim Manuel de Macedo e outorga o<br />

papel relevante para o início desse processo ao livro Memórias de um sargento de milícias,<br />

de Manuel Antônio de Almeida (1862) 403 . Então, ele relaciona o “toque picaresco” ou<br />

ausência de calamidades, excelência dos elementos que entraram na formação do tipo nacional, nobres<br />

predicados do caráter nacional, nunca sofreu humilhações, nunca foi vencido, seu procedimento cavalheiroso<br />

e digno para com os outros povos, as glorias a colher nele”.<br />

402 José Mirales colaborou na fundação da Academia dos Renascidos baiana, criada em 1754 por José de<br />

Mascarenhas Pacheco Pereira Coelho de Melo. Pinto do Carmo embasa-se nas suas alusões a José Mirales na<br />

História da Literatura Baiana de Pedro Calmon. De Mirales, Pinto do Carmo (1960: 59-60) menciona que ele<br />

fora também poeta e, a respeito da História Militar Baiana, citando a Calmon, expõe que “O seu título de<br />

glória é a precedência aos historiadores modernos, na honesta pesquisa. A sua informação capitula-se entre as<br />

fontes indispensáveis ao estudo da colônia. Vindo para iniciar-nos na narrativa histórica e, particularmente, no<br />

seu aspecto militar, que era dos mais importantes em face do caráter defensivo em que permanentemente se<br />

mantinha a terra de além mar, aqui se deixou ficar o valenciano José Mirales”.<br />

403 A argüição de Pinto do Carmo (1960: 60-61) para apresentar Memórias de um sargento de milícias como a<br />

primeira obra fundamental da literatura nacional do Brasil é a seguinte: “Alega-se que o feito se inicia com<br />

uma novela atribuída a Lucas José Alvarenga, datada de 1826. Reivindicam outros a primazia da iniciativa<br />

para Teresa Margarida da Silva e Orta, com o seu romance luso-brasileiro Aventuras de Diófanes, dado à<br />

estampa em Portugal, em 1752. Entende José Veríssimo que, com o romance – O filho do pescador – de<br />

Teixeira e Sousa, criou-se, em 1843, a nossa prosa; de outra forma pensa Sílvio Romero e para isso apresenta<br />

A Moreninha, publicada em 1844, por Joaquim Manuel de Macedo; finalmente, é possível que o assunto<br />

comporte controvérsia, ainda, no que toca à cronologia. Do trabalho de Alvarenga pouco se sabe. Com<br />

respeito ao romance de D. Teresa, não cabe dúvida, quanto à data. Escrito para além-mar, onde crescera e<br />

vivera a ilustre dama paulista, ficou no olvido e somente atonou para ser incorporado à literatura nacional, não<br />

pelo seu valor, apesar de suas três edições, mas para que se recue o início da prosa para já meado o século<br />

XVIII. Vivendo na corte, mulato, a princípio muito pobre, Teixeira e Sousa, à custa de ingentes esforços<br />

tentou e venceu no comércio das letras. Publicando novelas e romances foi escritor de algum público e<br />

ninguém lhe tira o direito de figurar entre os precursores. Mas, é com Memórias de um sargento de milícias,<br />

de Manuel Antônio de Almeida que a ficção nacional atinge, em definitivo, o seu ponto mais representativo;<br />

578

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!