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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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[...] Ninguém ousará negar o enriquecimento que tem resultado para a vida e para a cultura do Brasil<br />

da atividade dos grupos europeus não-portugueses estabelecidos em vários pontos do território<br />

brasileiro, de preferência nos Estados do Sul. O perigo não está nem nunca esteve neles: o perigo<br />

sempre esteve e está intensamente neste momento em agentes de organizações políticas que os<br />

exploram, disfarçados em pastores evangélicos, em mestres disso ou daquilo, até em padres, frades e<br />

professores católicos. Porque nunca foi tão importante a advertência da sabedoria popular de que o<br />

hábito não faz o monge. Não exagero nem faço retórica: cada uma das palavras que acabo de<br />

pronunciar se baseia no conhecimento, na observação e na verificação de fatos e documentos<br />

(Freyre: 1942: 66-69)<br />

Freyre não propõe nenhum plano político concreto para combater as frentes de<br />

agressão à consciência nacional brasileira. Ele limitou-se a apontar o risco e a prover com<br />

exemplos a sua admoestação, e a convocar a sua platéia para uma reação geral de<br />

autodefesa identitária.<br />

Quando, a meados da década de 1960, se encerrou a chegada de massas de<br />

trabalhadores estrangeiros considerou-se que esse era um momento propício para avaliar o<br />

statu quo da adaptação dos imigrantes que no Brasil se assentaram e, por conseguinte, para<br />

apreciar o grau de acertamento das medidas tomadas para conseguir a sua aculturação. Em<br />

1964, o Prof. Diegues Júnior, através do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos do<br />

MEC, publicou a extensa obra Imigração, urbanização e industrialização. Nela estudou<br />

alguns aspectos da contribuição dos imigrantes à cultura brasileira. São escassas as alusões<br />

aos aportes dos espanhóis, aos quais o autor só alude nos itens que dedica à distribuição<br />

regional e quantitativa dos imigrantes 46 . Interessa-nos, no entanto, esse estudo de Diegues<br />

Júnior pelas suas ponderações acerca da transculturação. O autor salienta que, nas áreas de<br />

imigração, “os elementos culturais trazidos pelos grupos imigrados se difundiram,<br />

misturando-se ou interculturando-se com os de origem luso-índia-negra, para dar em<br />

resultado o que hoje encontramos” (Diegues, 1964: 364) 47 . Ele diz que, apesar ter havido<br />

46 O tema da contribuição dos imigrantes à cultura brasileira foi posteriormente tratado por Giralda Seyferth.<br />

Em 1990 publicou a obra Imigração e cultura no Brasil. Todavia, nela não consta nenhuma referência às<br />

representações étnicas dos imigrantes espanhóis nem à influência espanhola sobre a cultura brasileira. A<br />

autora menciona os espanhóis só para redundar no dado de que esses imigrantes constituíram o terceiro maior<br />

contingente estrangeiro, depois de portugueses e italianos. Pelo demais, os espanhóis passam inadvertidos<br />

nesse estudo.<br />

47 Uma representação plástica dos emigrantes retornados, ou de visita nas suas localidades, observa-se na<br />

superposição da estética da arquitetura brasileira de inícios do séc. XX nos chalés e palacetes – as casas de<br />

indianos – que esses migrantes mandaram erguer na Galiza. Nessas casas percebe-se a combinação de<br />

soluções construtivas e decorativas do ecletismo modernista, na moda no Brasil, com o uso português do<br />

azulejo e com materiais e elementos arquitetônicos tradicionais galegos. Assim, os migrantes galego-<br />

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