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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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nossas criadas – irão em mulas, e levarão pandeiros para fazer festa na noite de cada jornada. Quero<br />

que Roque de Saltes leve a sua sanfona e Andrés de Láncara o seu violão.<br />

Joãozinho irá sempre a meu lado, como um escudeiro, e Carlos, o filho do moleiro, que faz um mês<br />

entrou ao meu serviço, irá como criado de Maria José; irão muito bem trajados, com os ternos novos<br />

que lhes comprei em Ribadávia, e as botas de montar que lhes encomendei em Allariz; competirão<br />

para ver quem é o melhor ginete, e eu concederei prêmio ao que mostre melhores portes. O caminho<br />

encher-se-á de cantigas, e cada aldeia guardará nossa lembrança como o passo dos Reis Magos. As<br />

estrelas terão inveja de nós, e correrão umas para as outras à procura de bodas (Las Casas, 1938: 158-<br />

59).<br />

A partida de Luiz e o casamento de Fernando acontecem em setembro. No diário,<br />

Fernando anota, aos 12 de setembro, que acompanhara a Luiz até a Corunha, onde ele<br />

embarcou no “Alcantara” rumo a Londres. Fernando ficara chocado como modo em que o<br />

seu amigo se despedira dele (“Disse-me adeus com uma indiferença que me deixaria<br />

espantado de não ser quem sou. Parte como um louco. Só pensa em beber, em jogar, em<br />

habitar hotéis célebres, em deslumbrar nos grandes salões” Las Casas, 1938: 164).<br />

Fernando escreve que, a bordo do navio, foi-lhe apresentada Miss Madison, e acha-a<br />

bonita, mas matiza “bonita, sim, bastante bonita, mas com esse ar inconfundível de todas as<br />

aventureiras. Quem é? A que família pertence? De onde veio?” (Las Casas, 1938: 164).<br />

Assim, ele crê que o seu amigo Luiz, devido às diferenças de idioma, raça e religião, será<br />

sempre um estranho para sua mulher, o qual, por sua vez, contribuirá para os afastar. As<br />

reservas que se interpõe perante a tal Miss Madison – uma mulher mundana e “sem-lugar”<br />

– são utilizadas por Fernando para ratificar o acerto da sua escolha de esposa e a virtude<br />

que esta ostenta. Nesse sentido, elabora o seguinte discurso em que assinala que acreditava<br />

que o matrimônio com Maria José tinha um caráter endogâmico e racial:<br />

A minha Maria José é pobre, aldeã, simples, mas eu conheço os seus pais, os seus irmãos, os seus<br />

tios, todos os seus parentes e vizinhos; ao casar-me com ela parece-me que caso com toda a aldeia,<br />

com toda a minha raça. Os cães da sua casa jogam comigo alegremente e as galinhas do seu quintal<br />

não se espantam quando passo pela porta adentro, alvoroçando como estudante que vem de férias.<br />

Muitas vezes, quando estamos juntos, o gato vem ao me colo e dorme confiado sobre as minhas<br />

pernas, como se fôssemos velhos amigos (Las Casas, 1938: 164).<br />

A sua despedida de solteiro é resenhada por Fernando aos 17 de setembro (Las<br />

Casas, 1938: 165). Ele indica que foi um jantar “suntuoso” interclassista, pois todos os<br />

criados compartilharam a refeição; sentara do seu lado, à direita, o vigário e, à esquerda, o<br />

serviçal Joãozinho, quem, ao se despedirem, lhe comunicara que estava triste porque cria<br />

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