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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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no conhecimento dos patrícios em um país que não é o deles, unida à provável diferença de<br />

idiossincrasias, levam o visitante não-imigrante a desprezar os imigrantes como objeto<br />

apreciável durante a estada. O interesse neles surge, no entanto, quando são eleitos, ex<br />

professo, como um objeto de curiosidade, ou de pesquisa.<br />

A narração do imigrante<br />

No país de imigração, quando o trabalhador estrangeiro se converte em escritor e<br />

transforma a sua travessia em tema literário, ele pode observar os nativos como uns<br />

indivíduos de nacionalidade diferente à sua. Mas, caso queira publicar o seu produto nesse<br />

país e ser compreendido pelos leitores nativos, não deverá desconsiderar que o estrangeiro é<br />

ele e que os outros são os soberanos ocupadores do espaço em que ele decidiu morar. Na<br />

recriação literária do que foi a sua experiência como viajante, o imigrante escritor está<br />

aderido à terra e às gentes que descreve, tanto na partida quanto na chegada. Nessa<br />

recriação, a vivência prévia à viagem, que, desde a distância, se começou a apagar até<br />

quase se transformar em algo estranho, fazia parte da cultura e da identidade prémigratórias<br />

do autor. Para o imigrante autor até mesmo a cultura do seu país de residência<br />

não lhe é alheia e ele sabe que o outro, perante os nacionais desse país, é ele e a sua<br />

comunidade de adventícios.<br />

Isaías, el emigrante soñador, de Manuel Diz Ramos (2000), é um dos poucos<br />

romances sobre os galegos no Brasil composto por um imigrante 84 . No prólogo, o produtor<br />

declara que a sua vontade fora a de que as trajetórias dos personagens da narração<br />

pudessem ser apreciadas como exemplos representativos dos percursos que seguiu a<br />

maioria dos imigrantes galegos no Brasil. Mais da metade desse romance transcorre na<br />

Galiza e na cidade de Salvador. A obra inicia-se relatando a infância do protagonista –<br />

Isaias –, nascido na década de 1920 em Doade, no município de Beariz, na Terra de<br />

Montes. A miséria, a desestruturação familiar e a falta de esperança em mudanças positivas<br />

– os fatores de expulsão – fizeram com que o ele, no final da década de 1940, emigrasse à<br />

Bahia, onde residiam parentes e vizinhos. Lá, Isaias dedicar-se-á ao comércio. Porém, logo<br />

de ele ter conhecido casualmente Belo Horizonte durante uma excursão que fez desde<br />

84<br />

O corpus de Manuel Diz Ramos encontra-se disponível na Biblioteca Virtual Galega<br />

(). Acesso em: 13 jun. 2009.<br />

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