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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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Oliveira Salazar, Berdiaeff, Kant, Leon Blum, Leon XIII, Lenine, Mussolini, Dilthey e<br />

Goethe, e diz que, compartilhando o conselho que lhe dera Amoroso Lima, “Tristão de<br />

Athayde”, antes de discutir os problemas da democracia há, em primeiro lugar, que<br />

esclarecer o significado do conceito que é, na sua opinião, bastante confuso. Nesse sentido,<br />

ele admite como boa democracia àquela que permite, dentro de certas restrições, que o<br />

governo seja escolhido pelo povo, sem que este possa, contudo, exercer o controle sobre o<br />

governo que elegeu nem lhe impor as diretrizes da sua atuação, pois a qualidade não tem,<br />

na opinião de Las Casas, nada a ver com a maioria quantitativa, e as massas, embora<br />

possam estar bem intencionadas, não possuem nem a atitude nem o conhecimento<br />

necessários para poderem discernir com clareza e serenidade sobre os grandes problemas<br />

técnicos que lhes são contemporâneos (“O problema das matérias primas, a política dos<br />

estreitos, a liquidação das dívidas de guerra, o sistema de empréstimos exteriores, o<br />

comércio do petróleo, a regulamentação emigratória” Las Casas, 1937b: 101). O autor<br />

discerne as denotações de “povo” e de “massas”; assim, ressalva o que lhe cabe<br />

legitimamente ao povo e tira dele o direito para o exercício da soberania plena:<br />

Admitimos no povo – povo não em sentido de massa, de multidão, senão como expressão viva da<br />

coletividade, limpa dos seus órgãos mortos e aderências parasitárias – o direito de eleger a quem o há<br />

de dirigir, mas afirmamos categoricamente a sua incapacidade para governar-se a si próprio, e a<br />

necessidade de que os comandos, longe de serem uma improvisação, respondam a uma tradição, a<br />

uma escola, a orientações conseqüentes com o complexo do pretérito nacional. Neste sentido, é<br />

admirável o exemplo da Inglaterra, onde, não só os diplomatas, os oficiais, os banqueiros respondem,<br />

como lei de herança, a puras genealogias, senão que desde os cursos primários orientam a sua<br />

preparação ao melhor desempenho das atividades que lhes são patrimoniais (Las Casas, 1937b: 115).<br />

Ele é explícito e contundente na negação da capacidade das massas para decidir o<br />

governo ou para intervir nele e, em decorrência disso, ele rejeita o sufrágio universal (“o<br />

último acorde da grande sinfonia que o romântico século XIX entoou na morte do segundo<br />

milênio” Las Casas, 1937b: 104-05). Ele questiona que nas condições confusas que<br />

determinam a circunstância que caracteriza a humanidade na década de 1930 se possa<br />

deixar ao arbítrio de um voto de maioria, da qual fazem parte os analfabetos e os<br />

criminosos, a forma de governar:<br />

Não acredito sequer no proverbial “vox populi vox Dei”; não creio que entre os instintos das<br />

multidões possa aceitar-se nem um só para o bom governo, e isto porque baseio-me no suposto de<br />

que as massas – contrariamente ao indivíduos – começam por carecer de instinto de conservação;<br />

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