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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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“campos ibéricos” a comarca galega à qual se refere o segundo autor – o responsável por<br />

esses manuscritos –. O primeiro autor não insere notas de rodapé nem intervém em nenhum<br />

momento explicando ou esclarecendo os motivos culturais dos que falam os personagens do<br />

romance. Todas as glosas serão da responsabilidade do segundo autor, cujo nome –<br />

Fernando – só se dará a conhecer por meio da reprodução de uma carta que a ele remete,<br />

mencionando o seu nome, uma namorada que ele tivera. Contudo, percebe-se facilmente<br />

que se trata de uma obra ambientada no estrangeiro e, com o desenvolvimento da trama,<br />

entende-se que o marco é o interior agreste da Galiza, pois abundam as referências<br />

detalhadas que Fernando faz à comarca que ele passa a conhecer. Assim, o primeiro autor<br />

deixa que seja o segundo autor o único responsável pelas anotações e especificações sobre<br />

o espaço e sobre o modo de vida dos campos sociais recolhidos no argumento. Isso se deve<br />

a que esse segundo autor narra a história sob a estrutura de um diário. Não se trata,<br />

portanto, de um autor onisciente senão de um simples observador que, ao passo que redige<br />

reflexões existenciais e descreve o seu estado de ânimo dia-a-dia, conta os acontecimentos<br />

do seu cotidiano e retrata o modo de vida do âmbito fidalgo de um meio rural em que se<br />

inserira como convidado no solar, do acima mencionado, Dom Luiz de Figueroa Sandoval<br />

y Quiroga. De todas as formas, o segundo autor não mantém o menor sigilo em relação à<br />

localização e datação dos acontecimentos aos que se refere. Na primeira página do diário,<br />

iniciado um dia “3 de novembro” discrimina como se segue a descrição da sua chegada ao<br />

solar do seu amigo:<br />

A jornada foi longa, muito longa, mas não fatigante.<br />

Em S. Fiz deixamos o trem, a meia manhã, atravessamos o Minho, o Minius dos itinerários clássicos,<br />

ainda cheio da vozaria legionária; subimos a empinada ladeira de Castrove; passamos, ainda de dia, a<br />

medrosa serra da Martinga, a trote longo, isso sim, e em pouco mais de duas horas de noite chegamos<br />

ao nobre solar de São Martinho de Názara, herdade de meu grande amigo Dom Luiz de Figueroa<br />

Sandoval y Quiroga (Las Casas, 1938: 10-11).<br />

No registro dos acontecimentos e no relato das suas confissões e meditações durante<br />

os primeiros dias no solar do seu amigo, o protagonista/ autor segundo manifesta o cansaço<br />

físico, a tristeza e o tédio que, pelo seu isolamento, sente, chegando a se arrepender por<br />

haver aceito o convite pois entende que a sua estadia no paço de Názara será vivida como<br />

um desterro. Manifesta, porém, que permanece no paço com o intuito de poder ajudar o seu<br />

amigo e anfitrião – Luiz –, quem lhe inspira “uma piedade infinita” pela imensa dor que<br />

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