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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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Disseram-me, incidentalmente, que Oscar é filho de pais espanhóis e sua educação doméstica foi<br />

formada sob a influência dessa raça. Isso bastou-me para maior observação sobre a sua pessoa.<br />

Sempre tive alguma reserva nas minhas apreciações pessoais pelos compositores brasileiros que<br />

eram descendentes diretos de italianos, alemães e franceses, não por considerar tal circunstância um<br />

simples defeito, mas, porque quase sempre eles se ressentiam exageradamente da mentalidade<br />

cultural, técnica e estética daqueles países e dificilmente poderiam assimilar e compreender a<br />

maneira original sobre material temático, harmônico e rítmico da música anônima, criada pela<br />

espontânea expressão da alma de um povo. Enquanto que aqueles que são de origem espanhola estão<br />

sempre muito mais se interessando com os cânticos e canções do povo, à semelhança dos costumes<br />

característicos dos filhos da terra de Cervantes, do que em seguir a tradição dos estilos clássicos<br />

internacionais, que eles apreciam num alto valor, por intermédio das elites sociais bem solícitas e<br />

educadas (Pinto do Carmo, 1959: 102).<br />

Para Villa-Lobos, o seu amigo Oscar Lorenzo Fernandez não foi, como músico, um<br />

bom descendente de estrangeiros porque, simplesmente, não o parecia e porque a sua obra<br />

estava imbuída em brasilidade. Pinto do Carmo resenha também a trajetória do pianista<br />

valenciano Tomás Terán 398 , intérprete de peças de Villa-Lobos, residente no Rio de janeiro<br />

desde 1929, e do catalão Miguel Arquerons Verdaguer, regente de coros e professor de<br />

canto, residente em São Paulo desde 1930.<br />

É, no entanto, na obra de poetas brasileiros do séc. XIX onde Pinto do Carmo nota<br />

uma maior presença de motivos espanhóis e claras influências de elementos repertoriais de<br />

produtos literários de autores espanhóis. Cita, nesse sentido, a Manuel Antônio de Almeida,<br />

[...] No dia 26 de agosto de 1948, o compositor se apresentou pela última vez regendo o concerto<br />

comemorativo do Centenário da Escola Nacional de Música. Na manhã seguinte, Lorenzo Fernandez faleceu,<br />

deixando seus amigos e admiradores inconformados com sua morte inesperada e prematura”.<br />

398 Nas suas anotações sobre Tomás Terán, Pinto do Carmo reproduz comentários que sobre o músico que<br />

fizeram Manuel Bandeira e Andrade Murici. De um artigo publicado por Bandeira em outubro de 1929, no<br />

jornal do Recife A Província, Pinto do Carmo (1960: 105) faz o seguinte recorte para sublinhar o imediato<br />

sucesso que obtivera, no Brasil, Terán como intérprete de Villa-Lobos: “Villa Lobos acaba de regressar de<br />

Paris e trouxe consigo dois intérpretes de primeira classe: o pianista espanhol Tomás Terán e o violinista<br />

belga Maurice Raskin. O espanhol é um homem fantástico: sujeitinho feio, pequeno, com cara e gestos de<br />

clown. O maior pianista da Espanha, me disse Villa Lobos antes do concerto. De fato, mal o homem acabou<br />

os primeiros acordes da série Cirandas, a assistência ficou amarrada! Amarrada no pé da mesa! Terán é ao<br />

piano o intérprete ideal de Villa Lobos. Deixou Rubinstein na curva... Com efeito, na música de Villa, em que<br />

o ritmo constitui elemento tão importante, o espanhol é de uma segurança, de uma força, de um dinamismo, –<br />

para resumir, de uma grandeza rítmica empolgante. Pega fogo feito pólvora”. Uma explicação para a fácil<br />

sintonia entre Terán e a obra de Villa-Lobos é dada na seguinte citação que Pinto do Carmo (1960: 104) faz<br />

da crítica que Andrade Murici fizera de um concerto dado por Terán no Teatro Harmonia Lira, do Rio, em 16<br />

de outubro de 1940: “Terán veio para o Brasil interpretar Villa Lobos. Foi esse espanhol quem nos revelou o<br />

real valor das Cirandas, do Choro n. 5, da Lenda do Caboclo. A importância primordial da contribuição<br />

ibérica à nossa música deve ter facilitado a compreensão admirável que dela teve desde logo Terán. Para o<br />

mais valeram-lhe a sua musicalidade tão complexa e tão bela, a sua escrupulosa consciência”.<br />

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