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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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A obra é encerrada com um capítulo intitulado Na constelação das ditaduras,<br />

cabeçalho que faz referência ao sistema político formado por “três estrelas de fulgor<br />

análogo [...] porém cada uma com a sua constituição própria: Hitler, Salazar e Mussolini<br />

que, para mim significam – o condutor, o tutor e o ditador” (Las Casas, 1937b: 134).<br />

Álvaro de Las Casas faz-se intérprete do angustiado posicionamento político dos povos e<br />

expõe que eles, a partir da década de 1920, insatisfeitos com as ações confusas das<br />

democracias, frustrados com os políticos dependentes dos sectários interesses partidários e<br />

desejosos de uma autoridade decidida que expresse a totalidade nacional, entregaram-se às<br />

ditaduras. O autor exemplifica essa visão sua com o seguinte exemplo:<br />

O cidadão X, em qualquer país do mundo, não quer saber de tal ou qual artigo da Constituição nem<br />

do que pensam os juristas sobre colisão de poderes, órbitas de efetividade governativa, etc., etc.; o<br />

cidadão X quer comer, viver em paz e sentir o prazer da sua cidadania, sentir orgulho do seu Estado,<br />

saber-se respeitado além das suas fronteiras.<br />

O homem que lê jornais, chega mais longe: já sabe com que facilidade nas democracias tal crise<br />

gravíssima se produziu porque o chefe do partido A é, como médico, rival do chefe do partido B; que<br />

no partido C se produziu uma cisão porque tal deputado não pôde suportar mais tempo sua inveja e<br />

ambição; que a moeda nacional caiu vertiginosamente porque um senador arrastou-se na tentação de<br />

ser mais eloqüente que verdadeiro, sacrificando os interesses do país à vaidade de ser aplaudido<br />

como o orador mais brilhante do Senado; que o seu amigo Fulano, exemplo de torpeza, ocupa um<br />

alto posto porque casou com a filha do ministro. Basta já de comédias – grita um dia – porque a vida<br />

da Nação merece ser tratada com muita mais seriedade. E o católico piedoso – inimigo pelas suas<br />

convicções dos regimes de força, que propendem sempre à deificação do Estado – os aceita contente,<br />

sempre que neles se garantissem: respeito à individualidade humana, limitação do Poder pelos<br />

imperativos éticos da moral cristã, e ação governamental efetiva inspirada no mais alto conceito<br />

espiritual da vida e praticada em atitude moral (Las Casas, 1937b: 133-34).<br />

O autor diz conhecer, além das inquietudes dos povos em geral, a vida em três<br />

países concretos – Alemanha, Portugal e Itália –, pelo qual se acha legitimado para expor as<br />

suas observações sobre os regimes ditatoriais que neles se desenvolvem. Assim, considera<br />

que Hitler é mais um dirigente consoante com o perfil marcado para os líderes responsáveis<br />

pelo reto desenvolvimento da “vida alemã” desde a época de Frederico o Grande. Nesse<br />

sentido, ele diz (Las Casas, 1937b: 136) que Hitler lhe parece “o maquinista de uma<br />

locomotiva que dispõe a marcha, regula as velocidades para quando adverte os perigos, mas<br />

é independente da máquina, e pode ser substituído em qualquer ocasião sem que sofra o<br />

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