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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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Não sou político, nem entendo de política, nem quero saber de políticos e muito menos aqui, onde<br />

sou um hóspede, mas bastaria esta obra para que eu admirasse o Dr. Getúlio Vargas como um dos<br />

estadistas de visão mais larga que tenho conhecido (Las Casas, 1939: 87).<br />

Em Fortaleza, conta o autor que decidiu empreender, por primeira vez durante esta<br />

viagem, uma travessia por terra, de automóvel, na companhia de vários engenheiros. Assim<br />

passará, “pelo interior”, do Ceará à Paraíba atravessando os sertões, aos quais dedica o Cap.<br />

VII – Os sertões, perfazendo 2.000 km de estrada. O autor informa, por primeira vez, de<br />

uma data; diz ter partido “às 6 horas do dia 10 de agosto [de 1939]”. Recomenda aos que<br />

queiram fazer esse itinerário, e não tenham tempo suficiente para se poderem documentar<br />

na vasta bibliografia sobre os sertões do Ceará, da Paraíba e de Pernambuco, que, ao<br />

menos, leiam Os Sertões, de Euclides da Cunha, e Viagens na nossa terra, de Nery<br />

Camello.<br />

Nessa viagem, a primeira cidade pela que passa e à que se refere é o “berço de José<br />

de Alencar”, Messejana (“Uma praça enorme, uma igreja maior ainda e algumas casas que<br />

denotam ser moradia de lavradores abastados. Parece um povo de Castela, qualquer povo<br />

das províncias de Valladolid ou Palência” (Las Casas, 1939: 89)). Logo passará por Olho<br />

d’Água, Guarani, Cristais, Russas, Figueiredo, Jaguaribe-Mirim, Iço, S. Gonçalo,<br />

Alagoinhas (no limite do Estado do Ceará com o da Paraíba), Curema, Joazeirinho e<br />

Campina Grande até alcançar João Pessoa, capital da Paraíba.<br />

Na narração dessa viagem descreve o sertão, tipifica o sertanejo, traça comparações<br />

com Castela, alude ao cangaço, opina sobre o misticismo no cristianismo sertanejo e sobre<br />

autoridade com que se revestiu o P. Cícero, disserta acerca da unidade, no Brasil, entre a<br />

nação e o Estado, ressalta o progresso dado à região mediante o plano de construção de<br />

açudes e compara o campo entre Campina Grande e João Pessoa com o campo da Galiza.<br />

Eis a descrição lavrada pelo autor sobre o sertão:<br />

Estamos em pleno sertão. Só de tarde em tarde se encontra uma casa tão simples, que se reduz a um<br />

quarto com duas redes onde toda a família dorme. Cactus altíssimos, de 4 e 5 metros, grossos e fortes<br />

como troncos de jacarandá, marcam na paisagem uma pincelada intensamente trágica. Nem as<br />

figueiras nem as oliveiras são tão dramáticas como estes fachos que abrem os seus braços no ar nas<br />

súplicas mais desesperadas. Os rios – o “Baiano” que acabamos de cruzar, por exemplo – acham-se<br />

tão secos que não conservam nem gota d’água. Torna-se necessário que vos jurem por Deus: isto foi<br />

um rio. E ainda assim não acreditareis. A terra, contudo, é de uma feracidade insuperável: O’Meara<br />

disse, com razão, que poderia ser utilizada como adubo. Mas não chove, e a falta d’água faz desta<br />

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