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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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Pousada, dama de rara beleza e muita leitura, que evitara o casamento e vivia solitária com os seus<br />

gatos e pássaros, numa chácara do Rio Vermelho, de sua propriedade. Ganhava o sustento com<br />

bordados e costuras, “costurando para fora”, no dizer das suas vizinhas baianas. Consuelo tinha<br />

contactos com os socialistas de Madri<br />

[...] Teve uma vida crepuscular a Orden de los Paladines de Galicia, até a restauração da monarquia<br />

de Madri. A mudança reanimou-a, reacendendo a memória de velhos brasões por muito tempo<br />

esquecidos; a rigor, puramente imaginados. Don Jaime chegou a ser procurado por uma dezena de<br />

prósperos cavalheiros de classes produtoras, que diziam guardar antigos títulos galegos vistos com<br />

menosprezo pela hierarquia da falange. Nos altos e baixos de sua existência, a Ordem reduziu-se<br />

afinal a um nome e um timbre nos envelopes e papéis de carta de don Jaime, ao comprovar-se, no<br />

julgamento dos novos inscritos, que nenhum proveito lhes traria, em pesetas ou contos de réis<br />

(Araújo, 1987: 16-20).<br />

Além de D. Jaime da Cal, na novela menciona-se a presença em Salvador de um<br />

outro graduado espanhol, o Prof. Acacio Herrera, natural da Andaluzia, contemptor dos<br />

imigrantes galegos, e especialmente, da presunção de D. Jaime da Cal; ele chegara com<br />

acabrunhamento a Salvador para lecionar na Faculdade de Direito, evitando o convívio com<br />

esses imigrantes. O autor conta que, perante os seus alunos, o Prof. Acacio Herrera<br />

desprezava, como se segue, a fanfarrice de da Cal:<br />

A singular atração pelas altas esferas tivera uma ferina explicação por parte do professor andaluz<br />

Acacio Herrera, de nome aportuguesado para Ferreira pelos estudantes. Catedrático de Sociologia na<br />

Universidade de Valladolid, Herrera passava “dos años de destierro en Salvador” – tal como<br />

proclamava – ensinando na Faculdade de Direito. Em sal dissera o sábio, ferrenho inimigo dos<br />

galegos (“Estos galegos! Puf!”, murmurava, despiciente, ao avistar um deles), e um intérprete<br />

traduzia:<br />

– O Jaime tenta tirar os pés do esterco das vacas de Galícia, onde chafurdavam os seus pais,<br />

galgando as roscas dos parafusos e uma nobiliarquia de sonho. De sonho! – podem anotar. A<br />

sociologia o explica: é um ansioso de status (Araújo, 1987: 17-18).<br />

No tocante à fala dos imigrantes galegos, o uso que estes fazem do castelhano, do<br />

galego e português do Brasil funciona como uma pista para a sua classificação. No segundo<br />

capítulo – Viva la muerte! –, quando D. Ramón se dirige a Manolo Trigo para indagar o seu<br />

posicionamento perante o desfecho da Guerra Civil, o autor, antes de plasmar as respostas<br />

deste, apostila que a sua fala era “uma hibridez de castelhano, galego e português”. Eis as<br />

contestações que, durante a discussão em que Manolo manifesta o seu apoio aos<br />

nacionales, esse dono de uma funerária faz a D. Ramón, quem se dirigira a ele em<br />

castelhano:<br />

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