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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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categorias de turismo que ele reconhece: a do turismo superficial 458 , própria dos forasteiros<br />

de férias “que se contentan con las impresiones efímeras de la belleza sensible” (Casais,<br />

1940: 146), e a do turismo então contemporâneo, do qual faziam parte os viajantes “que no<br />

desperdician un solo lugar de la ruta sin hacer apreciaciones de los valores espirituales del<br />

país y de sus fuerzas económicas” (Casais, 1940: 146) 459 . Ambas as categorias de turismo<br />

458 Em 1957, Henrique Pongetti ([1957] 1960) publicou um livro de impressões de viagens pelos Estados<br />

Unidos e Europa (Portugal, Espanha, Itália, França, Inglaterra e Alemanha), intitulado Encontro no aeroporto,<br />

em que caracteriza o que ele rotula como “o turista tipo standard”, cujas representações ele repudia. Ponguetti<br />

faz questão de fugir do que ele considera lugares-comuns do turismo e dos cicerones. Não procura o exótico<br />

porque acredita que tudo já foi suficientemente explorado e comentado; portanto, não acrescenta, aos seus<br />

apontamentos, dados históricos nem estatísticas, limitando-se a elaborar o que seria a narrativa própria de um<br />

romance geográfico em que ele – o autor – é o protagonista. No Prólogo da obra, com tom displicente e<br />

divertido, e com uma atitude distinta, define como se segue esse turista tipo standard: “é aquele que sobe ao<br />

cume da Torre Eiffel e acha que você não viu nada da França se não subiu ao cume da Torre Eiffel [...]. O<br />

mais importante, para o turista tipo ‘standard’, é aquilo que seu interlocutor não quis ver. O turismo comum<br />

não passa de um campeonato de coisas vistas onde só valem as mais fáceis de se ver. Se você não entrou no<br />

‘bateau mouche’ perde o direito de dizer que conhece o Sena. Como mostrar erudição sobre o museu do<br />

Louvre se você não formou cultura vendo os bonecos de cera do museu Grevin? Compreende-se a rebelião de<br />

certos espíritos que vão a Paris e desistem de ver a Gioconda, que vão a Roma e resistem à tentação de<br />

conhecer o Moisés de Miguelângelo. As grandes coisas se apequenam ante a admiração obtusa das imensas<br />

levas de turistas. Por um século, certas obras-primas deveriam permanecer isoladas, curando-se da<br />

promiscuidade que as transformam em lugares-comuns. [...] O turista come e compra demais. Só pensa em<br />

comer e em comprar. A viagem lhe desregula o estômago e o senso aquisitivo. Acha gostosa qualquer<br />

gororoba e considera pechincha qualquer coisa. [...] As agências de turismo põem em moda países, tão<br />

facilmente como os figurinos põem em moda a saia curta ou a sais comprida. Ultimamente entraram em moda<br />

a Grécia e a Espanha entre os demais povos europeus. Países de vida relativamente barata. Os milionários<br />

sustentam alguns hotéis de luxo, mas não sustentam a indústria cultural do turismo: viajar é luxo de gente de<br />

pouco dinheiro. A curiosidade é virtude ou defeito de pobre. Os ricos sabem tudo, ou de pouco necessitam<br />

saber. O dinheiro é o grande Larousse” (Ponguetti, 1960: 5-8). Ponguetti chega a Madri de avião procedente<br />

de Lisboa. O primeiro espanhol a quem se refere é o motorista do táxi que ele pega em Barajas e que lhe<br />

lembra D. Quixote. Acha Madrid uma cidade de hotéis excelentes e muito baratos, dedica algumas orações a<br />

louvar a qualidade do papel higiênico do “Hotel Mênfis” em que se hospeda, gosta da decoração das vitrines<br />

comerciais dessa cidade, aprova o sistema de transporte público urbano, assiste e critica duas obras teatrais e<br />

parte, em um “autopullman” para a Andaluzia com um grupo de turistas americanos, onde visita Granada,<br />

cidade em que evoca Lorca, surpreende-se do alto que falam os espanhóis e aprecia a simbiose cultural<br />

mourisca, Algeciras, Jerez, Cádiz, Sevilha e Córdoba, e regressa a Madri, de onde parte para a Itália. E, então,<br />

assim se refere à despedida dos companheiros de viagem casualmente conhecidos: “Começam as separações<br />

das voltas depois das uniões improvisadas pelas idas. São fragílimos os laços dessas comunhões obrigatórias.<br />

Na ânsia de reaver a bagagem e de repousar no hotel, ninguém se dirá adeus. Ninguém também se disse o<br />

nome. Não interessa. As pedras se encontram: os homens não, se fazem turismo. Turismo é a arte de ver e de<br />

esquecer, de botar distâncias depois dos traços de união. Regula-se o coração para o provisório. Passaremos<br />

pela mesma estrada da vida; veremos os mesmos lugares como a mesma bela mulher vista antes, de frente e,<br />

depois, de costas: – Good bye. Mr. Lorca!” (Pongetti, 1960: 80-81).<br />

459 Como destino para o turismo moderno – contemporâneo – Casais propõe a cidade de Ponte Nova, cidade à<br />

qual, junto aos municípios de Teophilo Ottoni e Viçosa, dedica a terceira seção da Quarta Parte da sua obra.<br />

Em relação ao município de Ponte Nova afirma: “El turista moderno debe saber también de estas cosas que no<br />

figuran en los planos trazados por las empresas de viajes. No se pierde el tiempo visitando Ponte Nova. Se<br />

aprende mucho” (Casais, 1940: 171). Em Ponte Nova, além do bairro típico levantado às beiras do rio Piranga<br />

e da igreja paroquial neo-gótica construída no Bairro Alto, ele pôde visitar fazendas de café, cana de açúcar e<br />

arroz, e usinas de álcool. Embora Casais não precise que é o que ele entende por “turismo moderno”, infere-se<br />

dos locais que visita nos destinos que ele escolhe que esse turismo consiste na inclusão, na sua programação,<br />

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