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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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Conta-se, na minha terra, que quando a pomba da paz saiu da barca de Noé, foi pousar em certo logar<br />

da costa, onde o Patriarca desembarcou logo; o tal logar chama-se Noia, na província de Carnuba,<br />

nome que vem de Novium, mas que os poetas forçam a derivar de Noela – Noeia – Noia (Las Casas,<br />

1939: 174).<br />

Em Vitória passeia pelas ruas e praças principais e visita monumentos, que<br />

descreve, – o Convento da Penha, as praças 8 de Setembro e Costa Pereira, a travessa de<br />

Maria, o bairro do Carmo, as ruas General Osório, Jerônimo Monteiro e Duque de Caxias e<br />

o Parque Moscoso. Diz Las Casas que gostaria de viver no bairro do Carmo (“bungalows,<br />

sorveterias, senhoras de cabelo branco com saudade de D. Pedro II, moças pálidas que<br />

sonham esperando a D. Pedro III, e criancinhas lindas que cantam melancolicamente”) e<br />

que, caso morasse em Vitória, “compraria um cachorro, um chapéu alto e uma bengala com<br />

castão de ouro, e, todas as tardes, como um personagem de romance, viria ao Parque<br />

Moscoso a ler, de luneta, o Jornal do Comércio do Rio” (Las Casas, 1939: 176).<br />

A ida ao Rio é comentada destacando os pontos referencias da costa que se avistam<br />

do navio. Ao passar o navio, à noite, ao largo do Cabo Frio, observa o céu e diz que a lua,<br />

“como as namoradas”, lhe atira “uma fita que vai a caminho de Santiago” e, a respeito<br />

dessa estrela, expressa “quero escrever nela minha ânsia de regresso. Não, não, não quero<br />

voltar. O Brasil retém-me com um rumor de cânticos, fazendo berço com os braços abertos,<br />

convidando-me a deitar em seu colo todas as minhas melancolias infinitas” (Las Casas,<br />

1939: 177-78). No avanço, à noite, do navio distingue o Cristo do Corcovado e, em um<br />

arrebato de inspiração lírica, diz que “o trópico, Deus dos mundos” enviou a recebê-los “os<br />

melhores bailarinos da corte” para que dancem perante eles nas praias de Ipanema,<br />

Copacabana e Botafogo, no morro de Santa Teresa e na Cinelândia, até atracarem “na<br />

Guanabara” 554 . Las Casas encerra Na labareda dos trópicos despedindo-se do Norte do<br />

554 Assim como fizera com Vitória, a capital do Espírito Santo, criando uma lenda relativa à fundação da<br />

cidade, para a entrada no Rio de Janeiro Las Casas (1939: 178-79) inventa uma alegoria pagã tropical,<br />

bastante alucinada, associada às suas praias que o viajante pode contemplar à medida que o seu navio se<br />

adentra na baía da Guanabara: “Descubro no céu uma estrela maior e mais brilhante que todas as outras, uma<br />

estrela que guia como a dos pastores de Belém. Será um farol? Não, não; é uma estrela... ou a lua que, com<br />

inveja de meu gozo, foge, e já mal se distingue. Neste momento, nota-se que o astro tem pontas, não cinco,<br />

como as estrelas que aparecem nos tratados de geografia, mas quatro, como as que adornam os mantos das<br />

fadas. Outro milagre, sim, outro milagre: agora a estrela traça uma figura humana, e parece que distingo o<br />

fulgor dos seus olhos e que ouço não sei que entrecortadas palavras de boas vindas – é o Cristo do Corcovado.<br />

O navio avança. O trópico, Deus dos mundos, do seu trono de mármore e ouro, ordena que venham a nosso<br />

encontro os melhores bailarinos da corte, para oferecer-nos suas artes mais deliciosas, e inicia-se a dança mais<br />

grandiosa que pode conceber a imaginação dos homens: um bando de meninas impúberes revoluteia num<br />

grande riso clamoroso, e logo desaparece devorado pelos faunos, na praia de Ipanema; de repente, pela orla de<br />

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