26.03.2015 Views

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

tocado por essa pergunta irreverente e indaguei surpreso. – Por qué me pregunta si soy poeta? Tengo<br />

cara de soneto? O velho duende das letras espanholas continuou calmo e, sem mexer uma só ruga da<br />

face, soltou-me estas frases: – Es natural, le hago esta pregunta, porque la gente sudamericana suele<br />

ser muy aficionada a la poesia... E dando com mais força sarcástica o nó na frase: – Vd. sabe, todos<br />

los sudamericanos hacen versos... Tinha razão Pío Baroja... Todos os sul-americanos fazem versos...<br />

Não há coisa que se pareça mais com um soneto do que um brasileiro, um peruano, ou um<br />

equatoriano. Ficamos ali ainda alguns minutos mais, a desafiar uma conversa bamba, sem interesse,<br />

sobre as banalidades cotidianas da vida (Silveira, 1956: 155-56).<br />

Um terceiro capítulo dedicado à Espanha intitula-se O perfume das danças<br />

espanholas. Introduz-lo assim: “Pessoas e cousas da Espanha, sempre exerceram uma<br />

grande fascinação sobre o meu espírito. Nessa terra de santos e conquistadores, vivi seis<br />

anos da minha sofrida existência” (Silveira, 1956: 197). Conclui-o mencionando o galego<br />

Eugenio Montes como intelectual que soube narrar circunstanciadamente o baile na<br />

Espanha:<br />

Recordações das terras de Espanha que se acordaram na memória despertadas por esses bailados<br />

regionais floridos de esperanças viçosas. Suaves raparigas de Aragão e Andaluzia, Galicia e Granada,<br />

alegrando a assistência com esses movimentos antigos criadores de ritmos novos e fecundos na alma<br />

do povo espanhol. Foi uma noite de encantos, onde respiramos, felizes, os mais raros perfumes de<br />

uma raça que continua a sua missão no mundo para enchê-lo de êxtases sonoros. Voltamos às raízes<br />

da dança para sentirmos as seivas inéditas dos recalques primitivos, manifestando as suas ânsias<br />

numa singela cinemática de gestos que é o molde perene das belas e fugitivas atitudes musicais.<br />

Danças virgens de Espanha, que a eloqüência cálida desse ágil jardineiro de frases castiças Eugenio<br />

Montes soube descrever com alada perícia florentina (Silveira, 1956: 202).<br />

Ele diz que, na Espanha, encontrara-se a si mesmo ao compreender a fé ardente dos<br />

santos e dos guerreiros e, em conseqüência, se purificar das frivolidades e futilidades da sua<br />

vida de diplomata. Comenta que a matéria sobre as coisas da Espanha desenvolvida no<br />

capítulo se deve às evocações que lhe provocara haver assistido a uma apresentação de<br />

danças regionais celebrada, em uma noite, nos jardins da Embaixada de Espanha no Rio.<br />

Essas evocações motivaram que, por um lado, ele revelasse a, acima assinalada,<br />

transcendência que teve na sua vida o lustro que passou na Espanha como processo cura<br />

anímica. Por outro, fizeram com que ele expusesse as suas definições sobre a Espanha e os<br />

espanhóis.<br />

Em O perfume das danças espanholas, Paulo da Silveira, desenvolverá, por último,<br />

uma narrativa, mistura de crônica e de ensaio, sobre a música e a dança na Espanha. Nessa<br />

549

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!