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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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visões desenraizadas que o levarão a relativizar o que ele cria ser absoluto. Todorov<br />

sintetiza, como se segue, o desenvolvimento do processo dessa aculturação positiva:<br />

O homem desenraizado, arrancado de seu meio, de seu país, sofre em um primeiro momento: é muito<br />

mais agradável viver entre os seus. No entanto, ele pode tirar proveito de sua experiência. Aprende a<br />

não mais confundir o real com o ideal, nem a cultura com a natureza: não é porque os indivíduos se<br />

conduzem de forma diferente que deixam de ser humanos. Às vezes ele fecha-se em um<br />

ressentimento, nascido do desprezo ou da hostilidade dos anfitriões. Mas, se consegue superá-lo,<br />

descobre a curiosidade e aprende a tolerância. Sua presença entre os “autóctones” exerce por sua vez<br />

um efeito desenraizador: confundindo com seus hábitos, desconcertando com seu comportamento e<br />

seus julgamentos, pode ajudar alguns a engajar-se nesta mesma visão de desligamento com relação<br />

ao que vem naturalmente através da interrogação e do espanto (Todorov, 1999: 27).<br />

A aculturação tem que ser um meio para que o estrangeiro evite que a sociedade<br />

receptora jogue contra ele preconceitos por ele se apresentar como alguém dissonante. Caso<br />

a aculturação, sendo uma via permitida pela sociedade receptora para que o estrangeiro se<br />

insira e se adapte, seja rejeitada pelo estrangeiro, ele terá que assumir a sua<br />

responsabilidade de, amparando-se na sua autonomia, ter optado por manter a sua diferença<br />

e, conseqüentemente, de ter preferido permanecer na heterogeneidade, e logo na exclusão,<br />

frente à cultura hegemônica. Portanto, nessa situação, ele terá que assumir a sua<br />

responsabilidade pela sua marginalidade, e ficará deslegitimado para, posteriormente,<br />

reclamar a compaixão alegando ser um sujeito que fora vítima da sociedade receptora e que<br />

merecia recompensas. Não é suficiente ser fraco para ser aceito, nem, na visão de Todorov,<br />

se podem reivindicar privilégios para compensar supostas ofensas padecidas no passado<br />

durante qualquer processo de aclimação.<br />

Na justificativa do rechaço, por parte do sujeito estrangeiro, da aculturação pode-se<br />

argüir que ele não goza de autonomia para optar por essa via de inserção, porque ele<br />

pertence a um grupo – o grupo dos estrangeiros, imigrantes ou não-imigrantes, a<br />

comunidade das vítimas – que decide por ele. O grupo aliena o sujeito, quem deixa de<br />

poder expressar a sua vontade, ao exigir-lhe, desde a mixofobia, fidelidade identitária<br />

exógena e, logo, a preservação da sua filiação a um projeto de conservação ou, inclusive, de<br />

acentuação das diferenças.<br />

Um dos efeitos da manutenção da segregação em relação à sociedade receptora é a<br />

procura de amparo, político e jurídico. Os estrangeiros segregados reivindicam à<br />

administração nacional uma quota corporativa, étnica e/ ou identitária, nos órgãos<br />

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