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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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publicada no Rio, ou se pretendia mesmo, sem se importar com os riscos, divulgar a<br />

distinção que caracterizava ao embaixador Peçanha, mostrar a rede de informação que ele<br />

possuía e sublinhar o posicionamento contrário ao desenvolvimento dos acontecimentos na<br />

Espanha republicana. Após ter redundado no caos gerado pelas expropriações e pelos<br />

arrombamentos e saques dos milicianos no comércio e nas residências da burguesia e da<br />

nobreza, Soares deleita-se descrevendo o luxo da Embaixada do Brasil:<br />

O embaixador Peçanha quer que lhe visite as instalações principescas. Começarei por dizer então que<br />

o melhor palácio de embaixada é nosso, alugado a cem contos por ano. Quando se trasladou de<br />

Roma, nosso embaixador trouxe consigo um comboio de sete vagons, com os seus objetos de arte, os<br />

preciosos gobelins, dez toneladas de mármore puríssimo, uma sala de anjos, liteiras antiqüíssimas,<br />

um piano de alto custo, um órgão de não sei quantos séculos, armaduras, espadas que pertenceram a<br />

reis e príncipes de Idade Média, mesas de altíssimo luxo, serviço de mesa faustoso, pratas, estátuas, a<br />

sua valiosa coleção numismática e quadros de autores célebres. Soube, de outras fontes, que não há<br />

presentemente na Europa, talvez em todo o mundo, instalação tão rica e de tão subido valor artístico<br />

como a do embaixador Peçanha. Vou assim percorrendo os vastos salões da embaixada, levando a<br />

reboque um enorme galgo russo, pacífico como um bezerro, de olhos inteligentes, que empresta ao<br />

ambiente, ele mesmo, assim um não sei que de medieval...<br />

– Você compreende, meu caro jornalista, que tudo isto faz parte da vida de um chefe de missão. É<br />

rigorosamente indispensável ao pleno exercício de nossas funções. Reis, príncipes, embaixadores,<br />

estadistas, ditadores, chefes de governo, é preciso que todos eles se sintam bem numa embaixada que<br />

se preze.<br />

Descemos ao salão de música, ao salão de baile, ao dos grandes banquetes, e é neste último que me<br />

recordo da faustuosa recepção dada pelo embaixador Peçanha, dias antes da revolução, ao presidente<br />

Azaña e a sua esposa.<br />

Foi a mais bela e suntuosa recepção destes últimos anos em Madrid, a ponto de causar inveja às<br />

demais representações diplomáticas. Cem contos de réis custou ela ao bolso particular do nosso<br />

embaixador. Mostra-me s. ex. a sala de armas, a das estátuas, e vai recordando os seus tempos de<br />

Varsóvia, os de S. Petersburgo e os de Roma, quando o criado, camisa de peito duro, smoking branco<br />

e luvas da mesma cor, anuncia:<br />

– S. ex. é servido (Soares d’Azevedo, 1936: 73-74).<br />

Estando na embaixada, Soares recebe um telegrama do Rio em que é informado de<br />

que o Correio da Manhã lhe ordena o envio de reportagens. A impossibilidade de remeter<br />

essas informações pela valise diplomática, tanto pelo cerco a Madrid quanto pelas suspeitas<br />

de que essa correspondência seja violada por agentes da II República, faz com que Soares<br />

se decida a abandonar o seu intermitente asilo na embaixada para tentar regressar ao Brasil.<br />

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