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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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Sigam este conselho: vão num bonde da Barra, até ao Farol, continuem de ônibus até Rio Vermelho,<br />

passando pelo Cristo Redentor, e voltem à Praça Municipal no bonde número 14. Nunca esquecerão<br />

este passeio maravilhoso.<br />

Querem outro conselho? Visitem a fábrica de cristais Fratelli-Vita. Verão como os garotinhos de<br />

subúrbio trabalham nos labores mais difíceis com arte de mestre, e verão peças perfeitas, como as<br />

mais lindas de Bacarat. E conhecerão a D. José Vita e ouvirão a sua história edificante: 72 dias e 72<br />

noites ao pé dos fornos, até conseguir as mesclas vitoriosas, tendo comprometido na empresa toda a<br />

fortuna conseguida em 46 anos de trabalhos esmagadores. Só a fé salvou este homem, que agora<br />

voltou a ser um dos mais ricos industriais do Brasil (Las Casas, 1939: 163-64).<br />

Las Casas parte de Salvador aos 25 de outubro de 1938. Regressa de navio ao Rio,<br />

fazendo uma escala em Vitória, na companhia do seu amigo Renato Silva e do teatrólogo<br />

Eurico Silva, “tradutor no Brasil de muitas das nossas peças teatrais”. Essa viagem é<br />

narrada no último capítulo do livro – A Vitória do Espírito Santo –. Gosta do panorama na<br />

entrada na baía de Vitória (“nenhum estrangeiro deve deixar de admirá-lo” Las Casas,<br />

1939: 173) e diz que, durante a contemplação da paisagem dessa baía, inventou uma lenda<br />

– A Vitória do Espírito Santo – relativa à fundação da cidade 553 . Não considera, no entanto,<br />

que essa idéia sua seja original, pois muitas cidades contam com a sua, como, por exemplo,<br />

Nóia:<br />

florestas que enchem um continente, choros de multidões que cobrem trinta pátrias, músicas lúgubres que<br />

fecharam os olhos de milhões de mortos. Eu vi belezas angelicais que ninguém aprecia, cadências divinas que<br />

ninguém entende, lágrimas inconsoláveis de que ninguém se apieda. O Karaká, Kararokú, Oou... velai por<br />

mim! E tu, Mãe-Menininha, prepara os sete botões de rosa e a moeda de prata, que o mar me espera e Mãe<br />

d’Água vigia!!”.<br />

553 Esta é a lenda que inventou Las Casas (1939: 174-75) para a capital de Espírito Santo: “Quando Francisco<br />

Pereira Coutinho e os seus companheiros de armas iam ser massacrados pelos índios tupinambás, na ilha de<br />

Itaparica, em 1537, encomendaram-se piedosamente a Deus, pedindo perdão para os seus pecados e ingresso<br />

franco no cobiçado reino dos céus. Choravam de perder a vida, de perder Portugal – que lá ficava, tão longe,<br />

para nunca mais ser visto! – e perder o Brasil, defendido por gentes tão indomáveis, e de perder tantas almas<br />

que poderiam ser resgatadas, pelo batismo, à família de Cristo. Um dos soldados percebeu então que uma<br />

pombinha leve e branca como um floco de neve voava sobre o acampamento, fazendo contínuas fugidas para<br />

o sul, de onde tornava batendo nervosamente as asas, como se dissesse: por aqui, por aqui, por aqui...<br />

Milagre! – pensou o conquistador – quando o Espírito Santo quer tratar com os homens, é assim que aparece.<br />

Ele me ajudará. De fato. Conseguiu fugir, na escuridão da noite, e, nas primeiras luzes da alvorada, abriu<br />

caminho para o sul. De três em três horas, a pomba reaparecia, voava algum tempo – sempre, sempre para o<br />

sul – e perdia-se outra vez nas altas nuvens. A caminhada durou a vida de uma lua. Então a pombinha, que<br />

brincava alta, alta, aonde nunca chegará a negrura dos urubus nem a eloqüência parlamentar dos papagaios,<br />

virou sobre si, como um avião alvejado, e caiu morta na ladeira dum monte. Outra vez milagre! – pensou o<br />

destemido bandeirante. – Isto quer dizer que devo fixar-me aqui. Construiu uma maloca, e lá ficou. Andando<br />

o tempo casou com uma linda moça indígena, e deste casal nasceram filhos e netos suficientes para crear uma<br />

vila que o vovô batizou como A Vitória do Espírito Santo, dando nome, assim, a um Estado e uma cidade. Eu<br />

poderia ter dito que ouvi esta lenda a uma velhota, certa noite de inverno, numa fazenda do interior. Mas<br />

prefiro ser uma escritor honesto”.<br />

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