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UNIVERSIDADE DE SANTIAGO DE COMPOSTELA FACULDADE ...

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otimismo naturalista 178 . Na biblioteca do cônego havia um só autor espanhol. Esse era o P.<br />

Feijoo. A ele refere-se, como se segue, Eduardo Frieiro (1981: 32-33):<br />

Da Espanha, um único escritor, e esse mesmo por ser divulgador de idéias francesas, o Padre Benito<br />

Jerónimo Feijoo, a quem Gregório Marañón tem na conta de “assombroso exemplo do poder da<br />

palavra humana”. As Cartas eruditas y curiosas e sobretudo o Teatro Crítico universal do ensaísta<br />

Feijoo (de que se achou um volume truncado na livraria do Cônego) eram uma verdadeira introdução<br />

crítica à ciência européia, além de conterem uma investigação aguda do marasmo e do cansaço em<br />

que se achava mergulhada a vida intelectual em sua terra. O Teatro crítico teve numerosas edições,<br />

circulou pela Europa e a América e foi lido no Brasil por alguns homens instruídos.<br />

Se o P. Feijoo é o primeiro autor galego lido em Minas, a madame Dona Olímpia<br />

Vázquez García é, como imigrante transformada em motivo literário, a galega mais<br />

conhecida de Belo Horizonte, ao ter sido objeto de tratamento poético por Carlos<br />

Drummond de Andrade nos versos de Cabaré Palácio, poema inserido em Farewell, um<br />

livro póstumo do autor, publicado em 1996 (Drummond, 2003: 1407-08) 179 . Nele apontamse<br />

os negócios de “diversões noturnas” e o lenocínio como uns dos âmbitos laborais dos<br />

galegos residentes em Belo Horizonte . Sobre esse aspecto, durante esta pesquisa, não foi<br />

localizada nenhuma monografia específica, havendo sido necessário recorrer a trabalhos<br />

178 Uma exposição geral a respeito da imposição de limites à chegada do iluminismo ao Brasil, através da<br />

censura literária, foi feita por Maria Luiza Tucci Carneiro no capítulo “Iluministas pervertidos” (Carneiro,<br />

2002: 41-43).<br />

179 Além de Cabaré Palácio, Drummond de Andrade dedicou outros dois poemas à atmosfera de bordéis. Eles<br />

são Zona de Belo Horizonte, anos 20, também de Farewell (Drummond, 2003: 1431) e Cabaré Mineiro, sobre<br />

uma dançarina espanhola de Montes Claros-MG, inserido em Alguma poesia (Drummond, 2003: 30). Por<br />

outro lado, Drummond de Andrade, dedicou explicitamente um poema [A ilusão do migrante, (Drummond,<br />

2003: 1395-96)] à expressão dos sentimentos que lhe causou ter que partir da sua Itabira natal, embora o malestar<br />

da ausência e a impossibilidade do regresso sejam leit-motiven na poesia do itabiriano. De fato, um<br />

imigrante viguês no Rio de Janeiro, Domingo Gonzalez Cruz, Domingo, dedicou um ensaio ao reflexo na<br />

poesia do habitus de Drummond como imigrante. Trata-se do ensaio No meio do caminho tinha Itabira: a<br />

presença de Itabira na obra de Carlos Drummond de Andrade (González, 1980), em que se transcreve o<br />

seguinte diálogo mantido pela ensaísta com Pedro Nava: “Nava. Eu não tinha me fixado nisso. Realmente nós<br />

podemos considerar o Carlos um imigrante em busca de coisa melhor, de educação, de meio de vida, maneira<br />

de viver. Ele saiu para estudar da sua própria terra, mas sempre preso a essa terra. A poesia dele é uma prova<br />

disso. De modo que essa prisão dele deve ter acarretado sempre a vontade de voltar. E as voltas que ele fez a<br />

Itabira devem tê-lo magoado. Ele já não encontrando o que ele queria encontrar, que seria a Itabira antiga e<br />

ele próprio, o antigo Carlos. É como você diz: ele é um imigrante, e também imigrante com a impossibilidade<br />

de voltar. Ele é um símbolo de cada um de nós. Nós também não podemos voltar à nossa terra, como um<br />

pedaço de nós mesmos. No fundo seria o desejo de retornar à infância, à mocidade. Isso é impossível. Nós<br />

iríamos cair em Fausto outra vez. Teríamos que vender a alma ao diabo. Domingo. Belo Horizonte na época<br />

em que o sr. era estudante devia ser uma terra de imigrantes. Nava. Exatamente. Uma terra cheia deles. Hoje,<br />

Belo Horizonte nos traiu, mudando e evoluindo. Acabou. Não há mais. (González, 1980: 90). O desarraigo de<br />

imigrantes brasileiros em Belo Horizonte nas duas primeiras décadas de existência da cidade é mencionado<br />

nas obras O modernismo em Belo Horizonte: década de vinte (Bueno, 1982), Horizontes modernistas: o<br />

jovem Drummond e seu grupo em papel jornal (Cury, 1998) e no capítulo Dois noturnos de Belo Horizonte<br />

(Paula, 2001: 9-17).<br />

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